1. Introdução
Uma das evidências da evolução
biológica e da ancestralidade comum dos seres vivos é que todas as
formas de vida possuem composição química semelhante.
Na
composição química das células dos seres vivos, estudamos dois
grandes grupos de substâncias: as substâncias inorgânicas e
as substâncias orgânicas.
São
classificadas como substâncias inorgânicas a água e os sais
minerais. São substâncias orgânicas os hidratos de carbono,
lipídios, proteínas e ácidos nucléicos. As substâncias orgânicas são
formadas por cadeias carbônicas com diferentes
funções orgânicas.
Dos elementos químicos
encontrados na natureza, quatro são encontrados com maior frequência
na composição química dos seres vivos. Esses elementos são o carbono
(C) o oxigênio (O), o nitrogênio (N) e o hidrogênio (H). Além desses
quatro elementos, outros são biologicamente importantes como o sódio
(Na), potássio (K), cálcio (Ca), fósforo (P), enxofre (S), entre
outros.
Elementos
químicos biologicamente importantes e sua localização na Tabela
Periódica.
2. As Substâncias
Inorgânicas
2.1. A Água
A vida
na Terra começou na água e, ainda hoje, a ela se associa. Só há vida
onde há água. As propriedades da água que a tornam fundamental para
os seres vivos relacionam-se com sua estrutura molecular que é
constituída por dois átomos de hidrogênio ligados a um átomo de
oxigênio por ligações covalentes. Embora a molécula como um todo
seja eletricamente neutra, a distribuição do par eletrônico em cada
ligação covalente é assimétrica, deslocada para perto do átomo de
oxigênio.
Assim, a molécula tem um lado com predomínio de cargas positivas e
outro com predomínio de cargas negativas. Moléculas assim são
chamadas polares.
Quando
os átomos de hidrogênio da molécula de água (com carga positiva) se
colocam próximos ao átomo de oxigênio de outra molécula de água (com
carga negativa), estabelece-se uma ligação entre eles, denominada
ponte de hidrogênio.
A
estrutura da molécula de água
Essa
ligação garante a coesão entre as moléculas, o que mantém a água
fluida e estável nas condições habituais de temperatura e pressão.
Algumas das mais importantes propriedades da água relacionam-se com
as ligações de hidrogênio:
1) Tensão superficial: coesão entre as moléculas da
superfície, formando uma "rede".
Insetos sobre a superfície da água
2)
Capilaridade: capacidade de penetrar em espaços reduzidos, o que
permite à água percorrer os microporos do solo, tornando-se
acessível às raízes das plantas.
3)
Calor específico elevado: as moléculas de água podem absorver
grande quantidade de calor sem que sua temperatura fique elevada,
pois parte desta energia é utilizada no enfraquecimento das ligações
de hidrogênio. Isso explica o papel termorregulador da água por meio
da transpiração que mantém a temperatura em valores compatíveis com
a manutenção da vida das diferentes espécies.
4)
Capacidade solvente: a polaridade da molécula de água explica a
eficácia em separar partículas entre si, pois o caráter polar da
água tende a diminuir as forças de atração dos íons encontrados em
sais e em outros compostos iônicos, favorecendo a dissociação dos
mesmos. Os dipolos da água envolvem os cátions e ânions
(solvatação)impedindo a união entre essas partículas carregadas
eletricamente.
O fenômeno da solvatação iônica
Alguns dos principais papéis da
água nos seres vivos são:
1) Solvente da maioria dos
solutos, o que permite a ocorrência das reações químicas (é chamada
solvente universal).
2) As
reações catalisadas por
enzimas
só ocorrem na água. Em algumas reações, a água participa também como
substrato (reações de hidrólise).
3) As substâncias distribuem-se pelo interior da célula graças ao
fluxo contínuo de água no seu interior (ciclose).
4) Os
sistemas de transporte dos animais (sistema circulatório) e dos
vegetais (vasos
condutores) usam a água como meio de distribuição de
substâncias.
5) Devido ao seu elevado calor
específico, a abundante presença de água nos seres vivos impede
grandes variações de temperatura.
6) Age
como lubrificante nas articulações, nos olhos e, misturada aos
alimentos, como saliva, facilita a deglutição.
A
água é a substância mais abundante em todos os seres vivos. No
homem, representa cerca de 65% de sua massa. A proporção varia de
uma espécie para outra (mais de 95% da massa dos celenterados), de
acordo com a idade (diminui com o envelhecimento), com o sexo e de
um tecido para outro. No homem, perdas maiores que 15% da massa de
água (desidratação) podem ter
consequências graves, pela diminuição do volume de líquido
circulante.
A variação do teor de água em diferentes estruturas
no ser humano.
2.2. Os Sais Minerais
Como a
célula é um meio aquoso, não se encontram sais minerais, mas íons
inorgânicos. Alguns deles são encontrados em todos os seres
vivos.
–
Cátions: sódio, potássio, magnésio, cálcio, ferro, manganês,
cobalto, cobre, zinco.
– Ânions: cloreto,
bicarbonato, fosfato, sulfato, nitrato.
Algumas ações são exercidas especificamente por alguns íons:
•
Cálcio: participa da estrutura das membranas, dos
cromossomas, do esqueleto dos vertebrados, da contração muscular e
da coagulação do sangue.
•
Ferro: faz parte das moléculas dos citocromos, componentes da
respiração celular, e da molécula da hemoglobina, pigmento
transportador de O2 do sangue.
• Magnésio: encontrado na
molécula da clorofila, pigmento fotossintetizante dos vegetais. O
zinco, o cobre e o cobalto atuam como co-enzimas em alguns
processos. O sódio e o potássio são os principais envolvidos na
transmissão do impulso nervoso.
• Fosfato: importante
componente da estrutura do
ATP
e dos
nucleotídeos
do
DNA
e do
RNA.
• Iodo: faz parte da
estrutura dos hormônios (tiroxinas) segregadas pela
tiróide
dos vertebrados.
De um modo geral, os sais na
forma iônica atuam no metabolismo e na forma molecular estão
presentes em estruturas esqueléticas como carapaças, conchas, ossos,
chifres, cascos, onde são comuns o carbonato de cálcio e o fosfato
de cálcio.
Estruturas esqueléticas dos seres vivos
3. Hidratos de
Carbono ou Glicídicos
3.1. Apresentação
Os glicídicos são moléculas
orgânicas formadas por átomos de carbono (C), hidrogênio (H) e
oxigênio (O).
Os glicídicos também podem ser chamados de hidratos de carbono ou
açúcares.
Nem sempre o açúcar (glicídicos) está relacionado com o paladar doce
dos alimentos. Existem açúcares, como o amido da maizena e da
farinha de trigo, que não são doces. São doces a glicose do mel e a
frutose das frutas.
Os glicídicos apresentam muitas funções no
metabolismo
dos seres vivos; uma das mais importantes é a função energética
dessas moléculas relacionadas com o metabolismo energético que
envolve o funcionamento dos organelas mitocôndrias e cloroplastos.
Os
autotróficos são os organismos capazes de produzir açúcares, a
partir da utilização de dióxido de carbono (CO2) e água
(H2O), utilizando a luz como fonte de energia para o
fenômeno da fotossíntese.
Equação
Geral da Fotossíntese.
A
glicose produzida na fotossíntese é usadas como fonte de energia no
metabolismo celular dos seres vivos. No corpo do vegetal, parte da
glicose produzida na fotossíntese fica armazenada na forma de amido
nos
tubérculos
(raízes e caules) e parte fica na forma de celulose na parede
celular (membrana celulósica) das células vegetais.
3.2. Classificação
Os glicídios são
classificados de acordo com o número de moléculas em sua
constituição como monossacarídeos, oligossacarídeos e
polissacarídeos.
I. Monossacarídeos
Os monossacarídeos são moléculas orgânicas formadas por átomos de
carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O) na proporção 1: 2: 1,
respectivamente, apresentando a fórmula geral (CH2O) n,
em que “n” pode variar de 3 a 7.
O nome genérico do monossacarídeo
está relacionado com o valor de
n.
n = 3
trioses
n = 4
tetroses
n = 5
pentoses
n = 6 hexoses
n = 7 heptoses
Os monossacarídeos mais
abundantes são as hexoses com fórmula geral (C6H12O6).
Nessa classe, se inclui a glicose, o mais importante
combustível para a maioria dos seres vivos, componente dos
polissacarídeos mais importantes, como o amido e a celulose. Outras
hexoses importantes são a frutose e a galactose.
Uma outra classe importante dos
monossacarídeos são as pentoses com fórmula geral (C5H10O5).
As pentoses desoxirribose e ribose são os componentes dos ácidos
nucléicos DNA e RNA, respectivamente.
As trioses e as heptoses são
compostos que participam das reações dos processos metabólicos da
respiração e da fotossíntese.
Os monossacarídeos são sólidos
brancos, cristalinos, solúveis em água, sendo a maioria de sabor
doce.
Algumas fórmulas estruturais de
monossacarídeos:
Glicídios do tipo hexoses – glicose e galactose – possuem a função
orgânica aldeído (aldose) e a frutose a função orgânica cetona
(cetose).
Glicídios
do tipo pentoses – componentes dos ácidos nucléicos.
II. Oligossacarídeos
Os
oligossacarídeos são moléculas orgânicas formadas pela união de 2 a
10 moléculas de monossacarídeos.
Os
oligossacarídeos mais importantes biologicamente são os
dissacarídeos.
Os
dissacarídeos, como a sacarose, maltose e lactose
são formados pela união de dois monossacarídeos.
Reações de Síntese e Hidrólise de um Dissacarídeo
Os
dissacarídeos presentes nos alimentos não são aproveitados
diretamente pelo organismo. Estas moléculas precisam ser digeridas
(hidrolisadas) pela ação de enzimas específicas em suas unidades
formadoras (monossacarídeos) para serem absorvidas nas micro
vilosidades intestinais e aí então chegarem até as células, via
corrente sanguínea.
1. Reação de síntese
2. Reação de hidrólise (ação enzimática) |
III. Polissacarídeos
São
moléculas orgânicas formadas pela união de mais 10 moléculas de
monossacarídeos.
Os
polissacarídeos são abundantes na natureza, podendo ter função
biológica de reserva energética, como o amido e o glicogênio ou
função estrutural, como a celulose e a quitina.
Polissacarídeos de Reserva Energética
O
amido é o polissacarídeo de reserva energética dos vegetais,
sendo armazenado nas células do
parênquima amiláceo
de caules (batatinha) e raízes (mandioca).
O
glicogênio é o polissacarídeo de reserva energética animal, sendo
armazenado no fígado e músculos.
Amido e glicogênio são formados por milhares de moléculas de glicose
e para serem aproveitados no metabolismo energético são
transformados em moléculas de glicose, de acordo com os esquemas a
seguir.
Polissacarídeos Estruturais
A celulose é o polissacarídeo
presente na membrana celulósica das células vegetais (imagine sua
abundância na natureza). Está relacionada com a estrutura e forma
das células vegetais.
O
aproveitamento da celulose na forma de moléculas de glicose só é
possível na presença da enzima celulase, que é produzida por
microrganismos como bactérias e protozoários, que vivem em simbiose
no sistema digestivo de organismos como
ruminantes,
moluscos, etc.
No ser
humano, a presença de celulose na dieta (alimentação) garante o bom
funcionamento do intestino, a retenção de água ao bolo fecal,
facilitando sua eliminação.
Nos artrópodes, o polissacarídeo quitina é um material
impermeabilizante do exoesqueleto, garantindo boa adaptação à vida
terrestre.
Nos tecidos animais, a compactação entre as células é facilitada
pela presença do polissacarídeo ácido hialurônico (cimento
intercelular).
A
heparina também é um importante polissacarídeo que atua na
circulação como anticoagulante, principalmente em regiões de grande
irrigação como pulmões e fígado.
4. Os
lipídios
4.1. Apresentação
Os
lipídios são moléculas orgânicas formadas pela união de ácidos
gordos e um tipo de álcool, que normalmente é o glicerol.
Os lipídios apresentam em sua constituição átomos de carbono (C),
hidrogênio (H) e oxigênio (O), e diferem dos glicídios por
apresentarem menos átomos de oxigênio, podendo ter na sua estrutura,
além do ácido gordos e glicerol, átomos de fósforo, colesterol, etc.
Os lipídios aparecem com muita frequência na composição química dos
seres vivos em diferentes partes do corpo, como no tecido adiposo,
nas membranas celulares, na bainha de mielina dos neurônios, como
precursores de vitaminas e hormônios, ceras impermeabilizantes nas
superfícies de folhas e frutos, etc.
De um modo geral, são substâncias pouco solúveis em água e solúveis
em compostos orgânicos apolares como éter, benzeno, clorofórmio e
álcool.
4.2. O
Papel Biológico dos Lipídios
Os
lipídios desempenham várias funções importantes para os seres vivos,
entre elas, a função de reserva energética, realizada pelas gorduras
nos animais e pelos óleos nos vegetais.
A
função estrutural é realizada pela cera nas folhas e nos frutos dos
vegetais, assim como os fosfolipídios nas membranas celulares. As
abelhas produzem cera utilizada na impermeabilização das células da
colméia, para proteger o mel, o pólen e as larvas.
Os animais homeotérmicos (aves e mamíferos) dependem das reservas de
gordura para a manutenção da temperatura corporal.
4.3.
Classificação
I. Glicerídeos
São lipídios formados por ácidos
gordos e glicerol.
Os glicerídeos mais comuns nos seres vivos são as gorduras e os
óleos, que funcionam como material de reserva energética nos animais
e vegetais, respectivamente. Nos animais as gorduras são encontradas
no tecido adiposo e nos vegetais, os óleos são encontrados
principalmente nas sementes.
Formação de um glicerídio a partir de ácidos gordos e glicerol.
As
gorduras e os óleos podem ser diferenciados pelo aspecto,
localização, origem e pelo tipo de ácido gordo que apresentam –
saturado nas gorduras e insaturado no óleo.
As gorduras são depositadas no tecido adiposo dos animais,
funcionando como material de reserva energética. Um tipo de gordura
nos animais que é bem conhecido de todos é o toucinho e o bacon (que
é o toucinho defumado) do porco, utilizado na alimentação.
Os óleos
estão depositados mais frequentemente nas sementes dos vegetais,
como, por exemplo, no girassol, na soja, no amendoim, no arroz, no
milho, etc.
A partir dos óleos vegetais são
produzidas as gorduras vegetais, conhecidas como margarinas,
conseguidas por meio de reações de hidrogenação com aquecimento. Na
constituição das margarinas, além do óleo vegetal, estão presentes
vitaminas, sais minerais e conservantes.
A
seguir, esquematizamos a obtenção da margarina por hidrogenação de
óleos vegetais insaturados.
Os esquemas a seguir mostram
exemplos de ácidos gordos saturados e insaturados
Ácidos gordos saturados (ligação simples entre carbonos)
Ácidos graxos insaturados (duplas ligações entre carbonos)
II. Cerídios
São
lipídios formados pela união de ácido gordo de cadeia longa (de 14 a
36 átomos de carbono) com um álcool de cadeia longa (de 16 a 30
átomos de carbono).
As ceras possuem importância biológica no revestimento e proteção de
superfícies dos corpos dos seres vivos.
As ceras revestem as folhas e frutos dos vegetais, diminuindo a taxa
de transpiração, pois funcionam como material impermeabilizante.
As
secreções oleosas das glândulas sebáceas protegem a superfície
corporal dos mamíferos contra a desidratação.
A
secreção oleosa da glândula uropigiana das aves lubrifica as penas,
evitando que as mesmas fiquem encharcadas no ambiente aquático.
III. Fosfolipídios
São
lipídios formados por ácido gordo, glicerol e o grupo fosfato.
Os fosfolipídios estão presentes nas estruturas da membrana celular.
A
estrutura da membrana celular
lV. Esteróides
São lipídios formados por ácidos gordos e alcoóis de cadeia cíclica
como o colesterol.
Possuem importância metabólica na formação das hormônios esteróides
e componentes da bílis.
A
bílis é segredada pelo fígado, sendo constituída por sais que
promovem a
emulsificação
das gorduras, facilitando a ação das lipases no intestino.
As hormônios esteróides são testosterona, estrógeno e progesterona,
relacionados com as características sexuais e a produção de gametas.
A
testosterona é hormônio masculino produzido nos testículos; o
estrógeno e a progesterona são hormônios femininos produzidos no
ovário.
5. As proteínas
5.1. Apresentação
As
proteínas são macromoléculas, isto é, moléculas grandes,
constituídas por unidades chamadas aminoácidos. Algumas
propriedades importantes dos seres vivos estão associadas a elas: a
facilitação para a ocorrência de reações químicas (enzimas),
o transporte de oxigênio (hemoglobina), a transmissão de
informações (hormônios), a composição estrutural das células
(membranas, túbulos, etc.),
a defesa
orgânica (anticorpos), etc.
Classificação das proteínas quanto à função biológica:
O que
distingue uma proteína da outra é o número de aminoácidos, o tipo de
aminoácidos e a sequência na qual eles estão ligados.
Todos os aminoácidos possuem um átomo de carbono central, ao qual se
ligam um grupo carboxila (COOH), que confere caráter ácido,
um grupo amina (NH2), que tem caráter básico, um
átomo de hidrogênio e um radical R, variável de um aminoácido para
outro.
Fórmula geral de um aminoácido
O
radical R pode ser um átomo de hidrogênio, um grupo ou grupos mais
complexos, contendo carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e
enxofre.
Os aminoácidos podem ser obtidos
na dieta ou produzidos, a partir de açúcares. Todavia, as moléculas
possuem nitrogênio. O nitrogênio constitui cerca de 80% do ar
atmosférico, mas sua assimilação ocorre pela ação de microrganismos
capazes de transformá-lo em compostos utilizáveis pelos vegetais
(nitritos ou nitratos). Os vegetais empregam esses compostos para
produzir aminoácidos, obtidos pelos animais através da alimentação.
Os animais podem sintetizar aminoácidos a partir de açúcar, graças à
transferência do grupo NH2 das proteínas da dieta. Podem,
ainda, transformar alguns aminoácidos em outros. Todavia, existem
alguns aminoácidos que não podem ser produzidos pelos animais, e
precisam ser conseguidos na alimentação. São os aminoácidos
essenciais. Aqueles que podem ser sintetizados nas células
animais são chamados aminoácidos naturais.
São aminoácidos naturais a alanina, prolina, glicina, serina,
tirosina, entre outros.
São
aminoácidos essenciais a valina, leucina, triptófano, metionina,
fenilalanina, entre outros.
Os alimentos ricos em proteínas, como o leite, a carne, os ovos, a
gelatina, podem ser utilizados como fonte de aminoácidos para o
organismo.
No leite existe a proteína caseína, que é utilizada pelo
organismo como fonte de aminoácidos naturais.
5.2.
As Reações de Síntese e Hidrólise das Proteínas
As proteínas, ou
cadeias
polipeptídicas, são formadas pela união entre
aminoácidos. As ligações entre os aminoácidos são denominadas
ligações
peptídicas e ocorrem entre o grupo carboxila de um
aminoácido e o grupo amina de outro aminoácido.
Para o organismo aproveitar as proteínas como fonte de aminoácidos,
deve ocorrer ação enzimática das
proteases
na digestão das proteínas, que ocorre no estômago e no intestino.
Como
cada ligação peptídica é formada entre dois aminoácidos, uma
proteína com 100 (cem) aminoácidos apresentará 99 ( noventa e nove )
ligações peptídicas.
As
proteínas diferem entre si pelo número, tipo e sequência dos
aminoácidos em suas estruturas.
1)
Reação de síntese
2)
Reação de hidrólise (digestão) com ação de uma protease
5.3. As
Estruturas das Proteínas
A
sequência linear de aminoácidos de uma proteína define sua
estrutura primária.
Estrutura
primária de um oligopeptidio
O número
de aminoácidos é muito variável de uma proteína para outra:
•
Insulina bovina
51
aminoácidos
•
Hemoglobina humana 574 aminoácidos
•
Desidrogenase glutâmica 8 300 aminoácidos
O
filamento de aminoácidos enrola-se ao redor de um eixo, formando uma
escada helicoidal chamada alfa-hélice. É uma estrutura
estável, cujas voltas são mantidas por pontes de hidrogênio.
Tal
estrutura helicoidal é a estrutura secundária da proteína.
As
proteínas estabelecem outros tipos de ligações entre suas partes.
Com isto, dobram sobre si mesmas, adquirindo uma configuração
espacial tridimensional chamada estrutura terciária. Essa
configuração pode ser filamentar como no colágeno, ou
globular, como nas enzimas.
A estrutura
secundária de uma proteína
A
estrutura terciária de uma proteína
Tanto o estabelecimento de pontes
de hidrogênio como o de outros tipos de ligações dependem da
sequência de aminoácidos que compõem a proteína. Uma alteração na
sequência de aminoácidos (estrutura primária) implica em alterações
nas estruturas secundária e terciária da proteína. Como a função de
uma proteína se relaciona com sua forma espacial, também será
alterada. Um exemplo clássico é a anemia falciforme. Nessa
doença hereditária, há uma troca na cadeia de aminoácidos da
hemoglobina (substituição de um ácido glutâmico por uma valina).
Isto acaba por determinar mudanças na hemácia, célula que contém a
hemoglobina, que assume o formato de foice quando submetida a baixas
concentrações de oxigênio.
Muitas proteínas são formadas pela associação de dois ou mais
polipeptídios (cadeias de aminoácidos). A maneira como estas cadeias
se associam constitui a estrutura quaternária dessas
proteínas. A hemoglobina, citada anteriormente, é formada pela união
de duas cadeias "alfa" e duas cadeias "beta".
A estrutura quaternária da hemoglobina
5.4.
Desnaturação das Proteínas
Quando
as proteínas são submetidas à elevação de temperatura, a variações
de pH ou a certos solutos como a uréia, sofrem alterações na sua
configuração espacial, e sua atividade biológica é perdida. Este
processo se chama desnaturação.
Ao
romper as ligações originais, a proteína sofre novas dobras ao
acaso. Geralmente, as proteínas tornam-se insolúveis quando se
desnaturam. É o que ocorre com a albumina da clara do ovo que, ao
ser cozida, se torna sólida.
Na
desnaturação, a sequência de aminoácidos não se altera e nenhuma
ligação peptídica é rompida. Isto demonstra que a atividade
biológica de uma proteína não depende apenas da sua estrutura
primária, embora esta seja o determinante da sua configuração
espacial.
Algumas proteínas desnaturadas, ao serem devolvidas ao seu meio
original, podem recobrar sua configuração espacial natural. Todavia,
na maioria dos casos, nos processos de desnaturação por altas
temperaturas ou por variações extremas de pH, as modificações são
irreversíveis. A clara do ovo solidifica-se, ao ser cozida, mas
não se liquefaz quando arrefece.
5.5. As
Funções das Proteínas
As
proteínas desempenham quatro funções importantes para os seres
vivos. Entre estas funções podemos citar a função estrutural
ou plástica, hormonal, anticorpos (imunização) e
enzimática.
As proteínas estruturais estão presentes em estruturas esqueléticas,
como ossos, tendões e cartilagens, unhas, cascos, etc., além da
membrana celular.
As proteínas hormonais atuam no metabolismo como mensageiros
químicos, como a insulina e o glucagon que controlam a glicemia do
sangue e o hormônio de crescimento denominado somatotrofina,
segregada pela hipófise.
As
proteínas de defesa imunológica são as imunoglobulinas (anticorpos).
As
proteínas de ação enzimática (enzimas) são importantes como
catalisadores
biológicos favorecendo reações do metabolismo
celular, como as proteases, a catalase, a desidrogenases, entre
outras
06.
Ácidos Nucléicos
6.1. Nucleotídeos
Em 1870, Miescher isolou
substâncias que tinham caráter ácido e eram formadas por carbono,
hidrogênio, oxigênio, azoto e fósforo, no núcleo de células do pus.
Tais substâncias foram chamadas de ácidos nucléicos e sabe-se
que elas estão relacionadas com o controle da atividade celular
e com os mecanismos da
hereditariedade.
Os ácidos nucléicos são formados
pela união de
nucleotídeos.
Outras macromoléculas orgânicas são constituídas por unidades mais
simples: as proteínas, por aminoácidos e os polissacarídeos, por
açúcares simples, como a glicose. Cada nucleotídeo tem três
subunidades: um grupo fosfato, uma pentose e uma
base nitrogenada.
O grupo fosfato origina-se do ácido fosfórico (H3PO4).
Há duas pentoses que podem
participar da estrutura dos nucleotídeos: a ribose (C5H10O5)
e a desoxirribose (C5H10O4).
As bases azotadas possuem
estrutura em anel, com átomos de azoto na molécula. Classificam-se
em bases púricas (adenina e guanina) e bases pirimídicas
(citosina, timina e uracila).
A quebra
parcial dos nucleotídeos, com a retirada do grupamento fosfato,
resulta em compostos formados por uma pentose e por uma base
nitrogenada. São os nucleotídeos.
Nos seres vivos, há 2 tipos de ácidos nucléicos: o ácido
desoxirribonucleico (DNA ou ADN) e o ácido ribonucléico
(RNA ou ARN) com funções distintas.
O DNA é
encontrado nos cromossomas, dirige a síntese das enzimas e, desta
forma, controla as atividades metabólicas da célula. O RNA transfere
as informações do DNA para os ribossomos, onde as enzimas e outras
proteínas são produzidas.
6.2. O Ácido
Desoxirribonucleico (DNA)
Para que
uma molécula possa agir como portador das informações genéticas,
deve satisfazer algumas condições.
1) conter grande quantidade de informações, passando-as de geração a
geração.
2) fazer cópias de si mesma, uma vez que as informações são passadas
às células-filhas.
3) ter mecanismos para transformar as informações em ação,
controlando a atividade celular.
4) eventualmente, sofrer pequenos "enganos" e estes devem ser
copiados fielmente e passados aos descendentes, o que é a base das
mutações e da evolução.
O
DNA cumpre todas essas exigências. É bastante grande e complexo,
podendo conter enorme quantidade de informações. Pode-se auto
duplicar, gerando cópias perfeitas de si mesmo. Comandando a síntese
das enzimas, controla o metabolismo celular. Sofre, algumas vezes,
alterações em sua sequência de nucleotídeos. Aceita-se, hoje, que o
DNA é o material genético.
Os
nucleotídeos de DNA possuem:
a) um grupo fosfato;
b) uma pentose: a desoxirribose;
c) uma base azotada: adenina, guanina, citosina
ou timina.
Estudando a composição de moléculas de DNA de diferentes espécies,
Erwin Chargaff determinou, em todas, uma relação constante:
Composição de bases do DNA de
algumas espécies:
Estudos com difração de raio X,
nos anos 50, mostravam que a molécula do DNA deveria ter a estrutura
de uma grande hélice. James D. Watson e Francis Crick propuseram um
modelo para a molécula do DNA, visando a explicar tanto suas
características químicas quanto seus papéis biológicos. Segundo o
modelo de Watson e Crick, a molécula do DNA tem estrutura de uma
dupla hélice, como uma escada retorcida, com dois filamentos de
nucleotídeos.
O modelo de Watson e Crick para a molécula do DNA
Os
corrimãos da escada do modelo de Watson e Crick são formados pelas
unidades açúcar-fosfato dos nucleotídeos. Cada degrau é constituído
por um par de bases azotadas(uma de cada filamento), sempre uma base
púrica pareada com uma base pirimídica..
Observe, no esquema anterior (Fig. C), que os dois filamentos
complementares "correm" em sentido contrário.
A
partir das relações descobertas por Chargaff, e estudando os
possíveis locais de estabelecimento de pontes de hidrogênio entre
duas bases azotadas, Watson e Crick concluíram que as duas cadeias
paralelas de nucleotídeos permanecem unidas por pontes de hidrogênio
entre as bases, sempre da mesma maneira: adenina com timina e
citosina com guanina. Independentemente de qual seja a
sequência de bases em um filamento, o outro tem sequência exatamente
complementar. Por exemplo, se em um filamento se encontra a
sequência:
O filamento complementar
terá, obrigatoriamente:
Os dois filamentos da
molécula poderiam ser assim representados:
Uma
propriedade importante do material genético é conter toda a
informação genética.
A
sequência de bases do DNA é um "alfabeto" com quatro letras (A, T, C
e G), nas mais diversas combinações. Um vírus tem filamentos de DNA
com 10 000 nucleotídeos, enquanto o DNA presente nos 46 cromossomas
humanos possui 10 bilhões deles em um metro e meio de comprimento.
Isso equivale a uma biblioteca com cerca de 2 000 livros de 300
páginas cada!
Outra propriedade importante da molécula de DNA é a capacidade de se
autoduplicar, gerando cópias perfeitas de si mesma. A expressão
autoduplicação não é totalmente correta, pois, sem as enzimas e
a matéria-prima necessárias ela não ocorre.
Durante a duplicação do DNA, os dois filamentos separam-se (por
ruptura das pontes de hidrogênio), e a enzima DNA-polimerase
utiliza cada filamento como "molde" para a montagem de um
filamento novo. Os novos nucleotídeos são unidos entre si,
obedecendo à sequência ditada pelo filamento original. Em frente a
uma adenina, posiciona-se uma timina (ou vice-versa) e, em frente a
uma citosina, coloca-se uma guanina (ou vice-versa).
Dessa forma, quando o processo se completa, cada filamento original
serviu de molde para a montagem de um filamento novo. Cada nova
molécula de DNA tem, portanto, um filamento recém-formado e um
filamento remanescente da molécula inicial. A duplicação é
semiconservativa.
6.3. O Ácido Ribonucléico
(RNA)
O RNA é encontrado no
núcleo das células (livre ou associado ao DNA) e no citoplasma
(livre no hialoplasma, associado aos ribossomos ou como constituinte
deles).
A
ação do DNA, como controlador celular, conta com o RNA, molécula
capaz de
transcrever
e de
traduzir
as informações genéticas, sintetizando, a partir delas, as enzimas
que irão catalisar as reações químicas da célula.
Os nucleotídeos de RNA possuem:
a) Grupo fosfato: PO43-
b) Pentose: ribose
c) Base nitrogenada: adenina, guanina, citosina e uracila.
A molécula de RNA é formada por
um único filamento, que pode estar dobrado sobre si mesmo.
Existem três tipos de
RNA.
1) RNA mensageiro (RNAm): é um único e longo filamento de
RNA. Forma-se a partir de um filamento de DNA que lhe serve de
molde. Sua formação chama-se transcrição, e esse filamento é
catalisado pela enzima RNA-polimerase. Por ruptura de pontes
de hidrogênio, os filamentos de DNA se separam. Nucleotídeos de RNA
emparelham-se aos seus complementares do DNA e unem-se para formar o
filamento de RNA. No final do processo, o filamento recém-formado de
RNA se desprende e os dois filamentos de DNA voltam a ligar-se
As mensagens no RNAm são
transmitidas em sequências de três nucleotídeos, os
códons.
2) RNA de transferência ou transportador (RNAt): suas
moléculas também são formadas a partir de um molde de DNA, mas com
80 a 100 nucleotídeos apenas. Constitui-se de um único filamento
dobrado sobre si mesmo, com aspecto de "folha de trevo".
Todas as
moléculas de RNAt são semelhantes. Existe pouco mais de vinte tipos
de RNAt, um para cada tipo de aminoácido encontrado nas proteínas. A
função do RNAt é transportar aminoácidos presentes no citoplasma da
célula e fazer a ligação dos aminoácidos com o RNAm na síntese de
proteínas.
3) RNA ribossómico (RNAr): forma-se a partir do DNA da região
organizadora do nucléolo, presente em alguns cromossomas. Junto com
as proteínas, são componentes estruturais dos ribossomos. Embora não
totalmente clara, a função do RNAr parece ser orientar o RNAm, os
RNAt e os aminoácidos durante o processo de síntese de proteínas.
6.4. O Código Genético
O
mecanismo de síntese de proteínas é comandado pelas moléculas de
DNA. Na verdade, sequências específicas das moléculas de DNA,
denominadas genes, é que comandarão a síntese protéica nos seres
vivos.
Os genes podem ser definidos como
uma sequência de tripletos (trincas)de nucleotídeos.