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Biotecnologia:
um assunto do momento
Biotecnólogo:
uma profissão fascinante
Índice
Já há algum
tempo nossos leitores vêm solicitando uma
matéria que busque sintetizar os principais
aspectos da biotecnologia moderna. Em outros
pedidos, estudantes querem saber qual é o campo
de ação profissional dos biotecnólogos. Assim, o
objetivo dessa fusão foi o de atender a todos.
Esperamos que
essa matéria híbrida possa cumprir o objetivo ao
qual se destina. Boa leitura.
Pelo fato de a
biotecnologia ser uma área multidisciplinar, entre
os biotecnólogos que atuam em empresas e
instituições de pesquisa, há profissionais oriundos
de diversas carreiras, como agrônomos, biólogos,
físicos, químicos, engenheiros de computação e de
produção, além de várias outras áreas.
Os biotecnólogos
são profissionais que aplicam, individualmente ou em
equipe, organismos, sistemas e processos biológicos
à produção industrial:
desenvolvem a tecnologia e a engenharia de enzimas
para fins médicos e industriais; transferem
informação genética inter e entre espécies;
transformam organismos vivos com interesse médico e
industrial e desenvolvem a produção de organismos
vivos. Também desenvolvem e aplicam organismos vivos
à resolução de problemas no âmbito da tecnologia
ambiental, dos recursos naturais renováveis e dos
desperdícios industriais e urbanos.
A biotecnologia,
processo também denominado como engenharia genética
ou tecnologia do DNA recombinante, contempla a
manipulação direta do material genético das células
(DNA), objetivando alterar pontualmente
características orgânicas ou introduzir novos
caracteres genéticos nos seres vivos. Por isso, o
uso da biotecnologia moderna requer a identificação
e isolamento de seqüências de DNA (genes)
responsáveis por expressar uma característica de
interesse.
Utiliza-se a
clonagem molecular a fim de isolar os genes
desejados através de técnicas que induzem um ser
vivo a amplificar a seqüência de DNA de interesse.
Para essa finalidade são usados vetores de clonagem
(plasmídeos bacterianos ou vírus), nos quais a
seqüência de DNA de interesse é inserida. Esses
genes selecionados podem ser liberados dos vetores e
– como por milagre – são incorporados através de
técnicas sofisticadas ao genoma do organismo-alvo.
Esse processo é capaz de produzir um organismo
geneticamente modificado (OGM), também chamado de
organismo transgênico, cuja característica adquirida
passa a ser hereditária.
Assim, a
engenharia genética permite a transferência do
material genético de um organismo para outro. Ao
invés de promover o cruzamento entre organismos
relacionados para obter uma característica desejada,
cientistas podem identificar e inserir, no genoma de
um determinado organismo, um único gene responsável
pela característica em particular.
Isto permite que
as alterações no genoma do organismo sejam precisas
e previsíveis, ao contrário do melhoramento genético
clássico, que consiste na transferência de genes de
um organismo para outro por meio de cruzamentos
sexuais (hibridação), misturando todo o conjunto de
genes dos dois organismos em combinações aleatórias.
Como conseqüência, o processo de seleção do caráter
desejado demanda uma enorme quantidade de tempo e
não é exatamente preciso. Além disso, os resultados
de melhoramento clássico de animais e vegetais estão
limitados à variação natural dentro de diferentes
recursos genéticos. Com a biotecnologia,
virtualmente qualquer gene de qualquer organismo
pode ser isolado e transferido para o genoma de
qualquer outro ser vivo por mais divergente ou
distante que seja na escala evolutiva. Sendo assim,
é possível transferir para plantas, por exemplo,
qualquer gene de fungos, algas, animais, bactérias
ou vírus.
Fonte – Essa
matéria baseou-se em textos extraídos das seguintes
fontes: EMBRAPA, BIOAGRO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
VIÇOSA, FUNDAÇÃO BIOMINAS, REVISTA BIOTECNOLOGIA E
DO CD-ROM “ENTENDENDO A BIOTECNOLOGIA”
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Data |
Evento |
1750 a.C. |
Bebida
fermentada (vinhos) |
500 a.C. |
Os
chineses usam coalhos de soja mofada como
antibiótico para tratamento de pequenos
tumores (furúnculos) |
100 d.C. |
Crisântemo em pó é usado na China como
inseticida |
1663 |
Descobrimento das células por Hooke |
1675 |
Leeuwenhoek descobre as bactérias |
1797 |
Uso de
vacina viral contra varíola |
1830 |
Descobrimento de proteínas |
1833 |
As
primeiras enzimas são isoladas |
1855 |
A
bactéria Escherichia coli é
descoberta. Mais tarde, se transforma em uma
das ferramentas principais de pesquisa,
desenvolvimento e produção para
biotecnologia |
1863 |
Mendel,
com seus estudos em ervilhas, descobre que
os caracteres são transmissíveis dos pais
para as progênies por meio de unidades
independentes, denominadas mais tarde de
genes |
1869 |
Miescher
descobre DNA no esperma de salmão |
1883 |
A
primeira vacina anti-rábica é desenvolvida |
1911 |
O
primeiro vírus que causa câncer é descoberto
por Rous |
1914 |
Bactéria
é usada pela primeira vez para tratar esgoto
em Manchester, Inglaterra |
1915 |
Fagos, ou
vírus de bactéria, são descobertos |
1919 |
A palavra
biotecnologia é usada pela primeira vez por
um engenheiro agrícola da Hungria |
1928 |
Fleming
descobre a penicilina, o primeiro
antibiótico |
1943 |
Avery
demonstra que DNA é o fator de transformação
e constitui o material de um gene |
1944 |
DNA é a
substância que constitui um gene |
1953 |
Watson e
Crick revelam a estrutura tridimensional do
DNA, na forma de hélice dupla ou duplex |
1954 |
Técnicas
de cultivo de células são desenvolvidas |
1956 |
O
processo de fermentação é otimizado no
Japão.
Kornberg descobre a enzima DNA polimerase I,
que calalisa a síntese de DNA em bactéria,
levando a um entendimento de como o DNA é
replicado |
1960 |
O RNA
mensageiro é descoberto |
1969 |
Uma
enzima é sintetizada in vitro pela
primeira vez |
1970 |
Enzimas
de restrição (nucleases específicas) são
identificadas, abrindo o caminho para
clonagem molecular de genes |
1973 |
Cohen e
Boyer realizam o primeiro experimento de DNA
recombinante usando genes bacterianos |
1975 |
Hibridização de colônias e Southern blotting
são desenvolvidos para detectar seqüências
de DNA específicas, possibilitando o
isolamento de genes individuais do genoma de
organismos.
Os primeiros anticorpos monoclonais são
produzidos |
1976 |
Hibridização molecular é usada para diagnose
pré-natal de alfa thalassemia, uma doença
hereditária.
Genes de levedura são expressos em bactéria |
1982 |
Insulina
humana produzida por engenharia genética em
bactéria para tratamentos de diabete se
torna o primeiro produto da biotecnologia
moderna a ser aprovado pelos órgãos
competentes dos Estados Unidos |
1983 |
A técnica
de PCR (Polymerase Chain Reaction), que usa
ciclos de síntese de DNA para produzir
inúmeras cópias de genes ou fragmentos de
genes, é desenvolvida. Mais tarde, se tornou
uma das principais ferramentas nas pesquisas
biotecnológicas.
A primeira transformação de plantas por
Agrobacterium (plasmídeos Ti) é
realizada.
O primeiro cromossomo artificial é
sintetizado.
Os primeiros marcadores moleculares para
doenças hereditárias são encontrados |
1984 |
A técnica
de DNA fingerprinting (impressão
digital) é desenvolvida.
A primeira vacina geneticamente
engenheirada é desenvolvida.
O vírus HIV é clonado e seu genoma é
totalmente seqüenciado |
1986 |
Os
primeiros testes de campo de plantas
transgênicas são conduzidos nos Estados
Unidos.
A primeira vacina humana geneticamente
engenheirada (Recombivax HB de Chiron) é
aprovada para prevenção de hepatite B.
O primeiro interferon derivado de
biotecnologia é aprovado para combate de
câncer |
1988 |
O projeto
de seqüenciamento do genoma humano é
aprovado. Implica o mapeamento e
seqüenciamento dos genes humanos. |
1990 |
O
primeiro tratamento de terapia gênica é
realizado em uma criança de 4 anos que
sofria de uma desordem no sistema
imunológico, nos Estados Unidos |
1994 |
O
primeiro gene de câncer na mama é
descoberto.
O tomate Flavr Savr da Calgene,
geneticamente modificado para resistir ao
apodrecimento, é aprovado para plantio e
comercialização nos Estados Unidos |
1995 |
O
primeiro seqüenciamento de um genoma de um
organismo vivo diferente de vírus é
completado para a bactéria Haemophilus
influenzae |
1996 |
Cientistas escoceses clonam cópias idênticas
de cordeirinhos a partir de embriões de
carneiros |
1997 |
Cientistas escoceses relatam a clonagem de
carneiros, usando DNA de um carneiro adulto |
2000 |
Cientistas do Estado de São Paulo revelam o
código genético completo da bactéria
Xylella fastidiosa. Isso corresponde à
primeira bactéria fitopatogênica a ter o seu
genoma decifrado |
2000 |
Obtenção
de arroz geneticamente modificado que produz
beta-caroteno, precursor de Vitamina A. |
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O desenvolvimento
de organismos geneticamente modificados tem sido
definitivamente impulsionado pelo potencial que
representam como sistema modelo e ferramenta para o
estudo da ciência básica e para a melhoria de
produtos e processos. De fato, os organismos
transgênicos possuem uma função importante tanto na
ciência básica como na biotecnologia aplicada.
Na pesquisa
básica, os organismos transgênicos fornecem
excelentes modelos para o estudo de processos
celulares básicos como regulação de expressão gênica
e a genética molecular do desenvolvimento e
diferenciação celular. O desenvolvimento da
tecnologia do DNA recombinante, por si só, causou um
enorme impacto no diagnóstico médico de doenças
hereditárias e na oncologia. Os defeitos genéticos
em diversos genes que causam câncer foram
identificados como sendo alterações ou mutações na
seqüência de bases de genes que codificam proteínas
envolvidas no controle de crescimento e divisão
celular, resultando em códons (código genético)
modificados. A função desses genes e os efeitos das
mutações têm sido avaliados em ratos transgênicos.
As técnicas de engenharia genética também oferecem a
possibilidade para correção de inúmeras doenças
hereditárias por meio de manipulação gênica, uma
nova área de perspectiva denominada terapia gênica.
Na biotecnologia
aplicada, os organismos transgênicos, além de
consistirem em bactérias, fungos, plantas ou animais
geneticamente melhorados pela introdução artificial
de definidas características, podem funcionar como
biorreatores para a produção de proteínas valiosas
ou para propósitos industriais. Neste último caso, o
organismo transgênico obtido deve ter como
características principais (1) a capacidade de
produzir a proteína de interesse em grandes
quantidades sem comprometer o funcionamento normal
de suas células, (2) a capacidade de passar esta
característica para próxima geração (progênie) e (3)
no caso de ser um organismo multicelular como
plantas e animais, a capacidade de produzir a
proteína exógena em um definido órgão.
A estratégia
atual para alcançar estes objetivos consiste em
acoplar à seqüência de DNA que codifica a proteína
de interesse (região codificadora do gene)
seqüências de DNA (seqüências reguladoras de
expressão gênica, promotor) que contém sinais
responsáveis em dirigir altos níveis de produção da
proteína no órgão desejado, por exemplo, nas
glândulas mamárias de animais. O novo gene (transgene),
mesmo que presente em cada célula do animal,
funciona (expressa) somente nas glândulas mamárias,
de tal forma que a proteína é produzida apenas no
leite.
Após ligação da
seqüência codificadora de DNA à seqüência de DNA que
regula a expressão gênica, este DNA é injetado em
embriões fertilizados de vaca, carneiro, cabrito ou
rato com a ajuda de um micromanipulador (agulha de
diâmetro extremamente fino) e microscópio. Os
embriões injetados são implantados em fêmeas
recipientes, onde eles têm a chance de sobreviver e
nascer normalmente.
Assim, também,
diversas tecnologias têm sido desenvolvidas para a
inserção de DNA exógenos no genoma de plantas por
meio de engenharia genética. Particularmente, para o
caso de células vegetais, as tecnologias mais
eficientes para transformação genética consistem em
(1) infecção por Agrobacterium tumefaciens,
(2) eletroporação de protoplastos e (3) o método
biolístico. Todas estas tecnologias envolvem um
sistema eficiente de cultura de tecidos e
regeneração de plantas in vitro.
Os primeiros
experimentos a campo com plantas transgênicas foram
conduzidos em 1986, nos Estados Unidos e na França.
Na década de 1986
a 1995, 56 culturas diferentes foram testadas em
mais de 3,5 mil experimentos realizados em mais de
15 mil locais, em 34 países. Em 1996 e 1997, o
número de países que testaram plantas transgênicas a
campo aumentou para 45, tendo sido conduzido somente
nesses dois anos, mais de 10 mil experimentos. As
culturas mais freqüentemente testadas foram: milho,
tomate, soja, canola, batata e algodão, e as
características genéticas introduzidas foram:
tolerância a herbicidas, resistência a insetos,
qualidade do produto e resistência a vírus.
A República
Popular da China foi o primeiro país a comercializar
plantas transgênicas no início da década de 90, com
a introdução do fumo resistente a vírus, seguido
pelo tomate também resistente a vírus. Em 1994, a
empresa Calgene obteve a primeira aprovação nos
Estados Unidos para comercializar o tomate
transgênico 'Flavr-Savr', que apresentava
amadurecimento retardado. A área global de culturas
transgênicas cresceu de 1,7 milhão de hectares
(1996) para 27,8 milhões de hectares, em 1998. Das
cinco principais culturas transgênicas cultivadas em
oito países, as duas principais foram soja e milho.
A maioria dos
produtos já liberados para a comercialização contém
transgenes que codificam para características que
visam a minimizar estresses ambientais, incluindo
tolerância a herbicidas, resistência a insetos e
vírus. No entanto, as características que visam a
aumentar a qualidade nutricional dos alimentos vêm
se tornando progressivamente mais importantes e
deverão prevalecer nas próximas gerações de produtos
transgênicos:
- Resistência
a insetos: pode ser obtida pela utilização de
inibidores de proteinase de plantas, ou a partir de
toxinas bacterianas (Bacillus thuringiensis),
o gene Bt. Como exemplos de plantas
resistentes a insetos estão o milho, algodão, batata
e soja transgênicas .
- Tolerância a
herbicidas: sem dúvida essa modalidade é a que
engloba o maior número de plantas transgênicas,
tolerantes a uma série de herbicidas. Exemplos de
espécies transformadas utilizando essa metodologia
incluem milho, eucalipto, soja, cana-de-açúcar. Um
exemplo já incorporado no cotidiano de discussões no
cenário nacional acerca dos transgênicos é a soja,
conhecida como "Soja Roundup Ready".
- Resistência
a vírus: essa modalidade de obter plantas
resistentes a viroses tem suas perspectivas cada vez
mais amplas, à medida que novos conhecimentos são
gerados em relação às fitoviroses. Esse processo é
denominado silenciamento de gene ou proteção mediada
pelo RNA (acido ribonucléico). Pode-se citar o mamão
transgênico, com resistência ao vírus da mancha
anelar do mamoeiro (PRSV), desenvolvido pela
Embrapa-CNPMF e a Universidade de Cornell; ainda
cita-se a batata transgênica resistente ao vírus do
mosaico da batata (PVY), pela Embrapa-CNPH./Cenargen.
Por meio de técnicas de biolística e por
Agrobacterium tumefaciens e cultura de tecidos,
o gene da capa protéica ou capsídeo do próprio vírus
foi introduzido na planta, o que possibilita que ela
se torne resistente ao vírus, funcionando assim como
uma espécie de "vacina".
- Alteração de
coloração de flores:
Novas
perspectivas de mercado na floricultura foram
abertas com a clonagem de genes associados à
coloração de flores. Cores anteriormente
inexistentes para determinada espécie se tornaram
possíveis a partir da transformação genética com
genes envolvidos nessas rotas bioquímicas. Também na
modificação da arquitetura da planta e das flores,
nas fragrâncias e na maior durabilidade das flores.
Essa última associada à manipulação de genes
associados à biossíntese do etileno.
- Obtenção de
produtos novos a partir de plantas e alteração da
qualidade nutricional
A empresa Calgene
obteve óleos ricos e ácido esteárico, um ácido graxo
saturado, com modificações e enriquecimento de óleos
saturados que são relativamente incomuns em vegetais
que acumulam óleos. Também foram obtidas alterações
na composição de carboidratos com vistas à produção
de tubérculos de batata, elevação do conteúdo de
amido e redução de amilose. Em 2000, pesquisadores
publicaram a obtenção de arroz geneticamente
modificado que produz betacaroteno, precursor de
vitamina A. Esse representa um ganho considerável em
termos de qualidade nutricional de um produto
consumido por grande fração da população mundial.
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A descontaminação
de locais já sujeitos à contaminação pode ser obtida
por técnicas de biorremediação e restauração.
Tecnologias avançadas tais como o uso de sistemas
biológicos de tratamento para reduzir ou destruir
resíduos perigosos são vistas como uma opção para a
tecnologia de descontaminação. Um dos campos mais
promissores da biotecnologia, que visa ao emprego
dos microrganismos, direciona-se para locais
contaminados devido ao uso de agroquímicos e/ou
ainda metais pesados. Uma vez que microrganismos
presentes em solos são capazes de degradar e
mineralizar pesticidas, pode-se desenvolver a
remediação biológica de solos contaminados,
empregando-se microrganismos selecionados. Essa
técnica tem como finalidade inocular o solo com
microrganismos com capacidade de metabolizar os
resíduos tóxicos presentes no ambiente e
transformá-los em produtos menos tóxicos.
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O termo clonagem,
hoje já incorporado ao cotidiano das pessoas, deriva
etmologicamente do grego klón, que quer dizer
"broto" e pressupõe "qualquer grupo de células ou
organismos produzidos assexuadamente de um único
ancestral sexuadamente produzido". Essa tecnologia
permite a obtenção de indivíduos geneticamente
idênticos. A clonagem é possível pela fissão de
embriões (produção artificial de gêmeos) ou por
transferência nuclear, isto é, transferência de
núcleos de células somáticas para ovócitos sem
núcleo para produzir embriões reconstituídos que são
capazes, após a transferência para hospedeiros
adequados, resultar em uma prole viável.
Um marco
importante nessa área foi a clonagem da ovelha Dolly
em 1997. Várias clonagens de animais se sucederam,
dentre elas, macacos, bezerros, camundongos. Em
2000, a mesma equipe envolvida na clonagem da ovelha
Dolly realizou a clonagem de cinco porquinhas (Millie,
Christa, Alexis, Carrel, e Dotcom). Essa pesquisa,
conduzida pela empresa PPL Therapeutics, é tida como
o primeiro passo na trilha para solucionar a
problemática da falta de doadores de órgãos. O
método usado na clonagem foi uma variação do método
empregado para criar a ovelha Dolly. Conhecida como
"transferência nuclear", a técnica consiste em
retirar o material genético de uma célula adulta e
introduzi-lo num óvulo anucleado. O óvulo é então
ativado e inserido na "mãe-de-aluguel", viabilizando
o desenvolvimento do embrião. Os grandes esforços,
até agora bem sucedidos, de criação de porcos
clonados, possibilitarão, no futuro, a produção em
série de órgãos, passíveis de serem transplantados
do porco ao homem, sem rejeição. Isso certamente
terá um impacto marcante sobre a longevidade. Essas
abordagens abrem possibilidades para cientistas
sonharem com a clonagem humana, bem como uma série
de debates éticos, sociais e morais.
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Com a
possibilidade da clonagem de plantas a partir de
células somáticas, o sonho do botânico
austro-húngaro, Gottlieb Haberlandt, se tornou
realidade. Em 1902, ele publicou a sua idéia sobre o
princípio da "Teoria da Totipotência" que,
profeticamente, postulou que os seres vivos têm
capacidade de regenerar seus corpos inteiros a
partir de células únicas. Nem ele nem os seus
discípulos da sua época calcularam que suas
tentativas abririam novos horizontes para a
humanidade, o que atualmente é aplicado na
biotecnologia vegetal. A técnica da clonagem in
vitro de plantas é possível mediante a cultura
de tecidos. Essa técnica se fundamenta na
totipotência das células vegetais, por meio da
regeneração in vitro, via organogênese ou
embriogênese somática.
A cultura de
tecidos pressupõe o cultivo de plantas ou partes de
plantas (explantes) em meio de cultura apropriado e
asséptico, sob condições de temperatura, umidade,
fotoperíodo e irradiância controlados, em sala de
crescimento. Engloba, portanto, as técnicas de
cultivo de células, tecidos ou órgãos in vitro.
Todo o material é manuseado em condições assépticas
em câmaras de fluxo laminar. Essa técnica tem-se
mostrado de enorme importância prática na propagação
de espécies de interesse agroflorestal, também
conhecida por micropropagação.
A micropropagação
é a modalidade que mais se tem difundido e
encontrado aplicações práticas comprovadas, e tem se
concentrado na produção comercial de plantas,
possibilitando sua multiplicação rápida e em
períodos de tempo e espaço reduzidos. Deve-se ter
sempre claro que a micropropagação mantém a
identidade genética do material propagado, não
introduzindo nenhuma variabilidade genética.
Particularmente
na área de plantas ornamentais, onde predominam
plantas híbridas (gérbera, cravo, tulipa, orquídeas,
dentre outras), a clonagem in vitro de
matrizes selecionadas tem permitido a uniformização
de características, época de floração, coloração,
tamanho e forma das flores, dentre outras. A
multiplicação in vitro pode, em alguns casos,
ser obtida em larga escala, resultando na instalação
de verdadeiras biofábricas comerciais, baseadas no
princípio da linha de produção e algumas vezes
automatizada.
Como exemplo, a
biotecnologia na horticultura é utilizada no
estabelecimento de propagação clonal rápida
(floricultura, fruticultura, plantas medicinais,
silvicultura) na limpeza clonal de plantas de vírus
(via cultura de meristemas) e na hibridação ou fusão
somática. A hibridação somática é realizada mediante
a fusão de protoplastos, permitindo a obtenção de
híbridos, superando as barreiras de
incompatibilidade sexual. Uma importante
contribuição da cultura de tecidos é na conservação
de recursos genéticos in vitro,
estabelecendo-se os chamados bancos de germoplasma.
Também se vislumbra no futuro de se utilizar de
sementes sintéticas, produzidas a partir de embriões
somáticos, revestidos ou encapsulados com gel de
alginato, contendo nutrientes necessários à nutrição
do embrião que dará origem à futura planta.
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A maneira mais
precisa de compreensão da estrutura e do
funcionamento de um organismo é o seqüenciamento dos
seus genes, o objetivo maior do Projeto Genoma (PG).
O código genético, a unidade básica do genoma, a
ordenação dos nucleotídeos oferecem a diversidade de
informações necessária para gerar todas as formas de
vida existentes no planeta. Desse modo, o
seqüenciamento dos genes permite a leitura, a
compreensão e a utilização dessas informações. Por
exemplo, o pleno conhecimento do genoma humano
possibilitará um melhor conhecimento da diversidade
genética humana, permitirá o desenvolvimento de
testes diagnósticos e prognósticos e guiará o
desenvolvimento de novas drogas efetivas para as
mais diversas doenças (terapia gênica).
O primeiro
seqüenciamento de um genoma de um organismo vivo
diferente de vírus foi obtido para a bactéria
Hemophilus influenzae. Em 2000, cientistas do
Estado de São Paulo obtiveram o código genético
completo da bactéria Xylella fastidiosa. Isso
corresponde à primeira bactéria fitopatogênica a ter
o seu genoma seqüenciado. No Estado de São Paulo,
com a conclusão do seqüenciamento do genoma da
Xylella fastidiosa, e a proximidade da conclusão
do genoma da Xanthomonas citri, em conjunto
com as técnicas de cultura de tecidos e
transformação genética, ampliar-se-ão as
possibilidades de estratégias de controle dessas
duas doenças bastante limitantes à citricultura.
Entende-se como
terapia gênica a possibilidade de transferência de
material genético para células de um indivíduo,
resultando em benefícios terapêuticos. Cerca de 4
mil doenças genéticas são conhecidas, sendo portanto
alvos potenciais da terapia gênica. As pesquisas
sobre o genoma humano giram em torno da
decodificação da seqüência inteira dos genes
humanos. Os cientistas acreditam que, compreendendo
a fundo o que acontece de errado quando uma doença
aparece, a medicina entraria numa nova era, com
terapias mais eficientes. O primeiro exemplo de
aplicação da terapia gênica foi realizado em uma
criança de quatro anos que sofria de uma desordem no
sistema imunológico, nos Estados Unidos.
A conclusão de
projetos dessa natureza representa, sem dúvida, uma
das maiores revoluções biotecnológicas da história,
com possibilidades de correção de inúmeras doenças
hereditárias por meio de manipulação gênica. No
entanto, o patenteamento dos genes humanos tem
gerado polêmicas e está sob discussão, já que não
foram "inventados" por nenhuma empresa, mas apenas
"descobertos".
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Em 1986, foi
obtida a primeira vacina humana geneticamente
engenheirada (Recombivax HB de Chiron) e aprovada
para prevenção de hepatite B. A vacina de DNA é a
mais recente forma de apresentação que veio
revolucionar o campo de vacinas, representando um
novo caminho para a administração de antígenos. O
processo envolve a introdução direta do DNA
plasmidial, que possui o gene codificador da
proteína antigênica, e será expressa no interior das
células. Esse tipo de vacinação apresenta uma grande
vantagem, pois fornece para o organismo hospedeiro a
informação genética necessária para que ele fabrique
o antígeno com todas as suas características
importantes para geração de uma resposta imune. Isso
sem os efeitos colaterais que podem ser gerados
quando são introduzidos patógenos, ou os problemas
proporcionados pela produção das vacinas de
subunidades em microrganismos. As vacinas de DNA, em
teoria, representam uma metodologia que se aproxima
da infecção natural, alcançando a indução da
proteção desejada.
Engenharia metabólica
Por meio da
engenharia genética de plantas podem-se alterar
importantes rotas do metabolismo e permitir que
plantas, ou suas células, funcionem como
biorreatores (reatores biológicos), tornando
possível a produção de substâncias de valor
farmacológico, como exemplo, vacinas e biofármacos.
A manipulação do metabolismo secundário das plantas,
por meio de transformação genética, promete ser uma
das mais importantes contribuições da engenharia
genética aplicada à indústria. A superexpressão
constitutiva dos genes envolvidos na rota
biossintética dos metabólitos secundários em plantas
transgênicas poderá aumentar significativamente a
quantidade de compostos úteis produzidos pelas
plantas. É crescente o interesse dos grupos de
pesquisa em identificar, clonar e caracterizar os
genes envolvidos na produção de certos compostos
secundários, para posterior aplicação em trabalhos
de transformação genética. Esses compostos
secundários são de grande interesse na área
medicinal, pois são utilizados no tratamento de
doenças circulatórias e de vários tipos de câncer.
Os avanços em
estudos de engenharia metabólica permitirão
incrementos de produtividade de metabólitos
secundários nos cultivos in vitro,
contribuindo para a redução dos custos de produção,
ou mesmo viabilizando a produção de novos compostos.
Um projeto
ambicioso em biotecnologia foi recentemente
concluído com sucesso: a produção de plantas
transgênicas capazes de produzir plásticos
biodegradáveis, progresso bastante promissor que diz
respeito à obtenção de biopolímeros. Os benefícios
dessa tecnologia ao meio ambiente são inegáveis,
sobretudo pela sua natureza reciclável.
Entre as mais
importantes descobertas deste final de século, uma
tem destaque especial, particularmente para milhões
de pessoas em todo o mundo portadoras de Diabetes
mellitus e que dependem da insulina para
estabilizar o nível de glicose no sangue. A primeira
aplicação comercial da biotecnologia ocorreu em
1982, quando a empresa Genentech produziu insulina
humana para o tratamento da diabetes. Para fornecer
insulina em quantidades necessárias, o gene que
produz a insulina humana foi isolado e transferido
para a bactéria Escherichia coli. As
bactérias se multiplicam e crescem em tanque de
fermentação, produzindo a proteína insulina que, a
partir daí, é isolada e purificada.
Um novo produto,
resultado de recentes pesquisas biotecnológicas, é a
Insulina Lispro, produzida e comercializada pelo
laboratório Eli Lilly com o nome de Humalog. Dentre
outros exemplos de produtos obtidos pela
biotecnologia pode-se citar o interferon-alfa-2b e
interferon-beta, o fator anti-hemofílico empregados
no tratamento da leucemia, da esclerose múltipla e
hemofilia A, respectivamente, e o hormônio de
crescimento humano (somatotropina). No caso da
doença de Chagas, a Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz)
desenvolveu um kit para diagnóstico, obtido a partir
da transformação genética de bactérias contendo
genes de Trypanosoma cruzi, as quais passaram
a expressar antígenos desse parasita; as proteínas
recombinantes são utilizadas no imunodiagnóstico da
doença.
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A biodiversidade
pode ser definida como a variedade e a variabilidade
existentes entre organismos vivos e as complexidades
ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser
entendida como uma associação de vários componentes
hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies,
populações e genes em uma área definida. Estima-se
que a biodiversidade inclua 300 a 500 mil espécies
vegetais e, destas, cerca de 30 mil são comestíveis.
O potencial uso
da biodiversidade pode ser analisado por meio do seu
papel no desenvolvimento de uma agricultura
auto-sustentável. A conservação da biodiversidade é
estratégica para satisfazer a crescente demanda
alimentar da população mundial.
A Convenção em
Diversidade Biológica (CDB), assinada durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (ECO-92), define ainda a
biodiversidade como a variabilidade entre todas as
espécies do ecossistema.
Estima-se que o
Brasil tenha cerca de 2 milhões de espécies
distintas de animais, vegetais e microrganismos. O
Brasil, assim como o México, China, Malásia e
Austrália, é considerado como portador de uma
megabiodiversidade.
A CDB instituiu
normas para a preservação in situ e ex
situ da biodiversidade. Se a destruição da
biodiversidade continuar no ritmo atual, acredita-se
que até 2015, entre 4% e 8 % das espécies nas
florestas tropicais podem desaparecer
definitivamente.
A Constituição da
República determina que cabe ao poder público e à
coletividade a defesa e a preservação do meio
ambiente para as presentes e futuras gerações. Para
assegurar a efetividade desse direito, impõe-se
preservar a biodiversidade e a integridade do
patrimônio genético nacional. Espera-se que este
artigo contribua para maior clareza sobre o
importante papel da biotecnologia na preservação da
biodiversidade e na viabilização da sua utilização
para o bem-estar do homem.
Em anos recentes,
melhoristas se empenharam num esforço concentrado
para aumentar a produção de alimentos ao redor do
mundo por meio do melhoramento genético das
espécies. Esse esforço conduziu a um renovado
interesse pela potencial contribuição do
melhoramento interespecífico.
É amplamente
reconhecido que as espécies silvestres são
portadoras de uma enorme variabilidade, quando
comparadas com as espécies domesticadas. O processo
de domesticação e a seleção artificial imposta pelo
homem têm contribuído para a perda da
biodiversidade, fenômeno denominado erosão
genética.
Uma das melhores
maneiras de aumentar a variabilidade genética nas
espécies cultivadas é o cruzamento destas com seus
parentes silvestres. Cruzamentos entre espécies
domesticadas e silvestres podem resultar em
incompatibilidade e presença de algumas
características indesejáveis nas progênies.
Obviamente, nenhum melhorista está disposto a
sacrificar o padrão aceitável de produtividade e
outras características em nome do aumento da
diversidade genética.
O tomate é um
excelente exemplo da contribuição da biotecnologia
na viabilização do uso da biodiversidade presente no
gênero Lycopersicum, no desenvolvimento de
novas variedades dessa olerícola. A despeito das
indesejáveis características agronômicas presentes
nos tomates silvestres, eles têm sido
comprovadamente importantes fontes de resistência a
pragas e doenças.
O desenvolvimento
de sofisticadas técnicas de análises genômicas, como
a estratégia AB-QTL, vetor BIBAC, dentre outras,
auxiliarão os melhoristas na exploração da
biodiversidade interespecífica.
O homem
domesticou, na sua existência, somente cerca de 100
a 200 milhares de espécies vegetais e, destas, menos
de 15, atualmente, suprem a maior parte da dieta
humana (Conway & Barbier, 1990). Estas 15 espécies
podem ser agrupadas nas seguintes classes:
Cereais:
arroz, trigo, milho, sorgo e cevada;
Raízes
e caules: beterraba, cana-de-açúcar, batata,
mandioca e inhame;
Legumes:
feijões, soja e amendoins;
Frutas:
citros e banana.
Fica evidente,
desta forma, que o homem explora apenas uma parcela
muito pequena da biodiversidade existente no
planeta. A biotecnologia é uma nova promessa de
quebra das barreiras entre as espécies. Se os
geneticistas puderem reunir características
positivas de várias espécies em uma nova variedade,
a contribuição para o bem-estar da sociedade será
enorme.
O geneticista
russo, Nicolai Ivanovich Vavilov (1926), identificou
regiões onde as espécies vegetais apresentam a sua
maior diversidade. Ele encontrou oito regiões
geograficamente isoladas em diversas partes do
mundo, que denominou centros de origem; sendo eles:
-
China
-
Índia
A) Indo-malaio
-
Ásia Central
-
Oriente
Próximo
-
Mediterrâneo
-
África
Oriental
-
Mesoamérica
-
América do
Sul
A) Chile
B) Brasileiro-paraguaio
Atualmente,
acredita-se que esses sejam centros de
biodiversidade e não propriamente de origem. Quer
sejam eles centros de origem ou apenas de
biodiversidade, o importante é que, nesses locais,
os geneticistas podem encontrar a maior diversidade
genética para as mais importantes espécies vegetais
identificadas.
Dois dos
principais objetivos da biotecnologia são
preservação e expansão do conjunto gênico, isto é,
conservação e ampliação da biodiversidade utilizável
para os programas de melhoramento.
Não é demais
lembrar que a bioprospecção farmacêutica, muitas
vezes, implica o acesso aos costumes de comunidades
tradicionais locais ou indígenas. Por conhecimento
tradicional deve-se entender todo conhecimento,
inovação ou prática individual ou coletiva de
população indígena ou comunidade local, com valor
real ou potencial, associado ao recurso genético ou
a produtos derivados, protegido ou não por regime de
propriedade intelectual. A biotecnologia permite a
identificação dos princípios ativos úteis à
sociedade e a transferência dos fatores genéticos
para outras espécies, aliviando a pressão sobre a
espécie originalmente portadora da característica.
A preservação da
biodiversidade tem função social e é de interesse da
coletividade.
Sobre o tema, a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, já
ressaltou:
"Nossa
situação – a de um país dotado de enormes
recursos de diversidade biológica – deve ser
vista como um trunfo para a resolução de
importantes problemas internos, sobretudo
aqueles relacionados à miséria e à fome e, ao
mesmo tempo, para o estabelecimento de uma
referência forte e propositiva no âmbito das
relações internacionais. É, assim, tarefa das
mais relevantes, tanto para a sociedade quanto
para seus representantes, dedicar ao tema
biodiversidade o esforço político, técnico e
institucional que ele requer, como alavanca
estratégica de nossa construção como nação”.
Outra
contribuição da biotecnologia para a preservação da
biodiversidade é a formação dos bancos de
germoplasma, onde os acessos são conservados via
cultura de tecidos. Para muitas espécies, nas quais
a conservação via sementes não é possível ou
economicamente inviável, os bancos de germoplasma
preservados em placas de Petri constituem a
alternativa.
Os bancos
gênicos, coleções em que os genes das espécies
ameaçadas de extinção podem ser preservados para uso
no futuro, após clonados, têm sido propostos como
alternativa em face da provável extinção de muitas
espécies com potencial utilidade para o homem.
|
|
A expectativa de
vida do homem praticamente dobrou ao longo do século
passado. Enquanto a expectativa de vida era de 40
anos, em 1900, hoje, nos países desenvolvidos, ela é
de cerca de 76 anos. Em alguns casos, como o das
mulheres no Japão, a estimativa é de 82,4 anos. A
maior longevidade do ser humano só foi possível de
ser alcançada graças aos avanços científicos na
medicina e na alimentação, principalmente. A
descoberta da penicilina e de várias outras drogas
permitiu debelar doenças anteriormente fatais. A
nutrição balanceada desde o período intra-uterino
permitiu a formação de pessoas saudáveis e com maior
resistência às doenças.
Uma das melhores
evidências da importância de uma alimentação
nutricionalmente equilibrada é a maior estatura da
população atual quando comparada a de gerações
passadas.
A biotecnologia,
embora seja uma ciência ainda jovem, já mostrou seu
potencial para melhoria da qualidade de vida do
homem. Nesse particular, a biotecnologia voltada
diretamente para ser humano já deu suas primeiras
contribuições, a exemplo da insulina transgênica,
produzida por bactérias. O potencial à frente é
enorme, passando pela diagnose e cura de doenças
fatais, produção de novos medicamentos, redução do
custo de produção de medicamentos de grande uso,
produção de tecidos e órgãos para transplante etc.
Desde a mais
remota antigüidade, os genes têm sido permutados
entre indivíduos da mesma espécie, no processo de
reprodução sexual e, mesmo entre representantes de
diferentes espécies com algumas restrições. A
especiação, isto é, a formação das espécies, ocorre
com o estabelecimento de barreiras ao intercâmbio
gênico entre indivíduos de uma população. Neste
sentido, pode-se entender que, anteriormente ao
processo de especiação, a troca de genes se fazia
sem os limites estabelecidos filogeneticamente.
A biotecnologia é
realizada pelo homem desde aproximadamente 1800
a.C., quando se iniciou a utilização de fermento na
panificação e na produção de vinhos. Por volta de
1860, alguns botânicos iniciaram o processo do
melhoramento genético de forma deliberada, cruzando
diferentes variedades. Esses botânicos transferiram
e selecionaram genes para melhorar as qualidades das
novas variedades. A maior parte das espécies
cultivadas, incluindo milho, arroz, trigo, tomate, é
resultado dos cruzamentos ao longo do processo
evolutivo.
Entretanto, os
cruzamentos entre variedades têm suas limitações.
Eles podem ser realizados somente entre indivíduos
da mesma espécie ou, em alguns casos, entre
indivíduos de espécies bastante relacionadas,
restringindo o intercâmbio de características apenas
aos indivíduos aparentados. Quando duas variedades
são cruzadas cerca de 100 mil genes de cada genitor
são recombinados, produzindo combinações aleatórias.
Na maioria das vezes, no melhoramento, apenas um
limitado número de genes ou características é
transferido de uma variedade para outra. Esse
procedimento usualmente requer de 8 a 12 anos até
que a nova variedade seja desenvolvida e esteja em
condições de ser disponibilizada para os
agricultores. Duas características desses programas
de melhoramento são evidentes: eles não são precisos
nem são rápidos.
A moderna
biotecnologia adicionou precisão e rapidez no
desenvolvimento de novas variedades. Isso é uma
grande contribuição a essa ciência. Entretanto,
talvez a maior de todas as contribuições dessa nova
tecnologia tenha sido romper a barreira ao
intercâmbio gênico imposta pelas espécies. Com a
biotecnologia é possível transferir genes entre
espécies que não são compatíveis sexualmente. A
biotecnologia é o resultado do melhor entendimento,
pelos cientistas, dos processos genéticos em nível
da molécula do DNA.
O termo
geneticamente modificado é comumente utilizado
para descrever a aplicação da tecnologia do DNA
recombinante, para alterar geneticamente as plantas,
animais e microrganismos.
Em vez de cruzar
indivíduos de diferentes variedades e conduzir a
população segregante sob seleção por cerca de 10
anos, o cientista pode identificar, clonar e inserir
o gene de interesse em uma variedade, com precisão e
rapidez, utilizando a biotecnologia. Mais
espetacularmente, o gene de interesse não precisa
vir da mesma espécie ou de espécies relacionadas.
Ele pode, virtualmente, vir de qualquer outro
organismo vivo, em razão de o código genético ser
universal.
Benefícios da biotecnologia e qualidade de vida
A FAO estima que
a população mundial deverá dobrar até 2040. Dessa
forma, a produção de alimentos e fibras, produtos da
agricultura, deve aumentar proporcionalmente.
Três são as
principais alternativas para se elevar a produção
agrícola: i) expansão da área plantada; ii) melhoria
do ambiente e iii) melhoramento genético das
espécies.
Países como o
Brasil ainda possuem terras que poderão ser
incorporadas ao sistema produtivo contribuindo para
a elevação da produção. Entretanto, nos países
desenvolvidos, as áreas agricultáveis ainda não
ocupadas são praticamente inexistentes.
No que diz
respeito à melhoria do ambiente, muito ainda pode
ser feito. Utilização da adubação, irrigação,
controle de pragas e doenças, dentre outras, podem
ser aprimoradas. A expectativa é de que progressos
continuarão a ser conquistados nessa área.
Entretanto, em alguns casos, essas melhorias podem
resultar em custo adicional para o agricultor ou em
maior aplicação de insumos (fertilizantes,
inseticidas, fungicidas etc.) poluindo o meio
ambiente.
O melhoramento
genético é a alternativa ecologicamente mais
equilibrada e de menor custo para o agricultor. Ao
utilizar uma variedade melhorada o agricultor
contribui para o aumento da produção, aliviando a
pressão pela incorporação de novas áreas ao sistema
produtivo.
O melhoramento
genético via biotecnologia é a mais promissora,
precisa e rápida estratégia para elevar a produção
agrícola mundial, reduzindo as perdas na colheita,
perdas decorrentes de pragas e doenças e elevando a
produtividade das lavouras. Os benefícios da
biotecnologia já se fizeram sentir pelos
agricultores que vêm utilizando variedades
transgênicas. Dentre eles, incluem-se os decorrentes
da alteração genética das plantas para:
Resistência a fatores bióticos
A introdução de
genes específicos que conferem resistência a pragas
e doenças nas variedades transgênicas reduz a
necessidade de pulverizações com os agrotóxicos. Por
exemplo, quando variedades transgênicas de
batata-doce resistentes às viroses foram
introduzidas na África, a produtividade dobrou. Sem
a aplicação de agrotóxicos, cerca de 60% dessas
lavouras seriam perdidas. Cerca de 26% dos
produtores de milho do meio-oeste americano, que
plantaram variedades Bt, em 1988, reduziram o número
de pulverizações com inseticidas e cerca de 50%
daqueles produtores não utilizaram qualquer
inseticida em suas lavouras, conforme relata um
levantamento conduzido pela Iowa State University.
Semelhantemente, os produtores de algodão que
utilizam variedades transgênicas reduziram o uso de
inseticida em cerca de 12% desde de que as
variedades transgênicas foram introduzidas no
mercado. Essas reduções no uso de agrotóxicos têm
dois grandes benefícios: diminui a poluição
ambiental e o custo de produção. A menor poluição
ambiental e a produção de alimentos a preços mais
acessíveis contribuem para a melhoria da qualidade
de vida.
|
Adaptação
a condições extremas
|
Tolerância à
seca, à acidez do solo e a temperaturas extremas são
características importantes em diversas regiões do
globo. Por exemplo, a modificação da produção de
ácido linolêncio na planta lhe confere maior
tolerância ao frio e geadas. Essas características
permitirão o aumento na produção de alimentos.
Tolerância a herbicidas não-seletivos
Variedades
tolerantes a herbicidas permitem a manutenção dos
campos livres da presença de plantas daninhas bem
como viabilizam o plantio direto, em alguns casos.
No caso de variedades de soja resistentes a
herbicidas, as lavouras podem ser mantidas livres de
plantas daninhas com apenas metade da quantidade
usualmente requerida, representando economia para o
agricultor e menor poluição ambiental.
Características especiais
A introdução de
características especiais, como reduzida
alergenicidade, conteúdo de amido, tempo de
preteleira e outras podem representar valor agregado
aos produtos agrícolas. Por exemplo, variedades
transgênicas de batata, com elevado conteúdo de
amido, absorvem menos óleo quando sob fritura,
resultando em fritas mais saudáveis,
principalmente para consumidores com propensão a
doenças cardiovasculares.
Características nutricionais
Os problemas de
má nutrição, como a deficiência de aminoácidos,
vitamina A, ferro, iodo e zinco, podem ser superados
com a indução de genes que resultem em maior
concentração desses nutrientes nos alimentos. Por
exemplo, variedades transgênicas de arroz, com
elevado conteúdo de betacaroteno e ferro, podem ter
importante papel na solução de deficiência desses
nutrientes em países cuja dieta é baseada no arroz.
Variedades com maior conteúdo de nutrientes podem
prevenir doenças crônicas na população.
Plantas como biorreatores
À medida que os
cientistas mapeam os genes das espécies agronômicas,
a transformação de plantas em biorreatores começa a
se tornar mais concreta. O potencial das variedades
transgênicas de produzir fármacos é bastante
interessante. Essas variedades funcionarão como
biorreatores na produção dessas substâncias.
Pesquisas
preliminares sobre a produção de proteínas exóticas,
vacinas e fármacos em plantas estão em andamento.
Nessas circunstâncias, plantas transgênicas poderiam
assumir uma nova e importante função no bem-estar da
sociedade.
Esse benefício da
biotecnologia deve-se concretizar mais no final da
primeira década deste século. Acredita-se também que
as plantas serão transformadas com genes para
produzir monômeros e polímeros, que poderão
substituir derivados de petróleo.
O futuro
desponta-se otimista com as atuais contribuições da
biotecnologia. Acredita-se que ela dará importante
contribuição aos melhoristas, no seu propósito de
suprir a demanda de alimento, fibras etc. da
população mundial.
Outros
benefícios da biotecnologia
A tecnologia do
DNA recombinante também tem sido utilizada na
produção animal e microbiana para obtenção de
substâncias usadas no processamento de alimentos e
obtenção de medicamentos. Por exemplo, a somatropina
bovina recombinante tem sido utilizada para elevar a
produção leiteira em bovinos. Microrganismos
geneticamente modificados também são utilizados para
produção da chimosina, enzima usada na produção de
queijos. Anteriormente à produção da chimosina
transgênica, a enzima equivalente utilizada na
produção de queijos era extraída do estômago de
novilhas. Alguns fármacos já são produzidos pela
tecnologia do DNA recombinante, inclusive a insulina
humana utilizada por diabéticos
|
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Alimentos
transgênicos são aqueles obtidos a partir de
variedades transgênicas ou que no seu processamento
utilizam microrganismos geneticamente modificados.
Os alimentos transgênicos podem ser utilizados para
consumo direto ou como insumo ou ingrediente na
cadeia de produção de alimentos.
A
disponibilização de alimentos transgênicos é
conseqüência da evolução científica e tecnológica.
Existe uma ansiedade muito grande da sociedade
brasileira sobre os riscos dos alimentos
transgênicos para a saúde humana. O tema tem sido
foco de debates e questionamentos na mídia nacional
nos últimos meses de forma bastante acalorada. É
importante que a população conheça todos os aspectos
inerentes à produção e ao consumo dos produtos
geneticamente modificados, comumente denominados
transgênicos.
Um alimento é
seguro à saúde humana se ele não causa nenhum mal
aos que o ingerem em quantidades consideradas
normais e após o seu devido processamento. Os
alimentos têm sido considerados seguros à saúde
humana, com base na experiência do seu consumo a
longo prazo. A perspectiva de segurança alimentar é,
entretanto, um aspecto dinâmico. Por exemplo,
alimentos com elevado teor de gorduras não eram
considerados nocivos à saúde. Todavia, hoje,
alimentos ricos em gorduras saturadas são
comprovadamente prejudiciais à saúde humana. Mesmo
assim, muitos ainda utilizam esses alimentos sem
qualquer restrição.
Normalmente, os
seguintes aspectos são considerados quando se pensa
em segurança alimentar: potencial alergênico,
digestibilidade, toxicidade e risco teratogênico,
dentre outros.
A engenharia
genética permitiu expandir as alterações genéticas
no desenvolvimento das novas variedades,
viabilizando a introdução de características
específicas, muitas das quais impossíveis de serem
incorporadas pelos procedimentos tradicionais do
melhoramento de plantas. A avaliação de produtos
derivados da moderna biotecnologia não requer
mudanças substantivas nos princípios estabelecidos
de segurança alimentar para os produtos
convencionais. As variedades não-geneticamente
modificadas, que hoje cultivamos e cujos produtos
consumimos, são o resultado de um trabalho de
seleção realizado ao longo de milhares de anos pela
ação da natureza e pelo homem. A seleção artificial
conduzida pelos melhoristas possibilitou o
desenvolvimento de variedades com maior
produtividade, resistentes a pragas, além de várias
outras características agronômicas importantes.
Nesses casos, quando o melhorista introduz, em uma
nova variedade, novos genes de resistência a uma
doença, por exemplo, vários outros genes ligados aos
primeiros são incorporados à nova variedade, sem
maior controle. No caso das variedades
transgênicas, a introdução de genes é mais precisa e
é possível controlar a incorporação de outros genes,
além dos de interesse, pois o processo é
praticamente pontual.
A Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é o fórum
responsável pela análise da biossegurança no
Brasil. Ela avalia todos os aspectos referentes aos
riscos dos organismos geneticamente modificados
antes de recomendar a sua liberação para plantio e
consumo.
O novo e o
incompreendido geram desconforto e falta de
confiança, especialmente para os leigos. A história
pode nos ensinar grandes lições. Nesse sentido,
vale a pena relembrar os tempos da descoberta da
vacina contra a varíola, em 1778, por Edward Jenner.
Sua descoberta só passou a ser utilizada pela
sociedade 50 anos mais tarde, após a quebra de tabus
éticos e de biossegurança no uso das vacinas. Esse
atraso resultou em muitas mortes que poderiam ter
sido evitadas se essa tecnologia tivesse sido
adotada mais cedo. Com a adoção da vacina de Jenner,
a varíola foi eliminada do mundo.
Conceitualmente,
se um alimento ou ingrediente alimentar, derivado
dos recentes avanços em biotecnologia, for
considerado substancialmente equivalente a um
alimento ou ingrediente alimentar convencional, o
primeiro alimento ou ingrediente poderá ser
considerado tão seguro quanto o convencional. Para
se estabelecer a ES, os alimentos derivados dos
recentes avanços em biotecnologia (ex.:
nutracêuticos, alimentos derivados de OGMs,
bioingredientes obtidos por fermentação e
tratamentos enzimáticos) devem ser comparados com as
espécies ou com os alimentos delas derivados. Essas
espécies e esses alimentos derivados devem ser tão
próximos quanto possível (FAO/OMS, 1996).
Em suas
recomendações, a US-FDA (1997) entende que se um
alimento ou ingrediente alimentar é reconhecido como
seguro, esse pode ser comercializado sem restrições.
Assim, alimentos derivados de OGMs substancialmente
equivalentes a alimentos convencionais com histórico
de consumo seguro, são considerados seguros. Isso
implica, por exemplo, que o milho geneticamente
modificado por gene do Bacillus thuringiensis
para expressar a proteína CryIA(b) e conferir
resistência ao ataque de insetos (Munkvold, 1999)
pode ser considerado um alimento seguro, se for
substancialmente equivalente ao milho convencional,
mesmo que o B. thuringiensis em si não esteja
incluído na lista de microrganismos GRAS do FDA (US-FDA,
1998) e não possa ser utilizado como bioingrediente
na fabricação de alimentos. Os alimentos
transgênicos já são consumidos nos Estados Unidos,
Canadá, Argentina, além de vários outros países.
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