O colesterol é necessário para o funcionamento normal da
membrana plasmática de células de mamíferos, sendo
sintetizado no retículo endoplasmático das células ou
derivado da dieta, sendo que na segunda fonte é transportado
pela via sangüínea pelas lipoproteínas de baixa densidade e
é incorporado pelas células através de endocitose mediada
por receptores em fossas cobertas de clatrina na membrana
plasmática, e então hidrolizados em lisossomas.
O
colesterol é sintetizado primariamente da acetil CoA através
da cascata da HMG-CoA redutase em diversas células e
tecidos. Cerca de 20 a 25% da produção total diária (~1
g/dia) ocorre no fígado; outros locais de maior taxa de
síntese incluem os intestinos, glândulas adrenais e órgãos
reprodutivos. Em uma pessoa de cerca de 68 kg, a quantidade
total de colesterol é de 35 g, a produção interna típica
diária é de cerca de 1 g e a ingesta é de 200 a 300 mg. Do
colesterol liberado ao intestino com a produção de bile,
92-97% é reabsorvido e reciclado via circulação
entero-hepática.
Etapas principais da síntese do colesterol:
-
A acetil-CoA se converte em mevalonato: a ingestão
de ácidos graxos saturados da cadeia longa produz
hipercolesterolemia.
-
O mevalonato após reações sucessivas se transforma
em lanosterol.
-
O lanosterol se converte em colesterol após 21
etapas adicionais. Esse esteróide é sintetizado pelo
fígado. Através de um processo homeostático quanto maior
for a ingestão de colesterol, menor será a quantidade
sintetizada pelo fígado. Além disto, o colesterol
ingerido em quantidades excessivas não consegue ser
eliminado em forma de ácidos biliares e o mecanismo de
excreção se torna insuficiente.
Konrad Bloch e Feodor Lynen dividiram o Prêmio Nobel de
Fisiologia ou Medicina em 1964 pelas suas descobertas sobre
os mecanismos de regulação do colesterol e metabolismo de
ácidos graxos.
Regulação
A biossíntese do colesterol é regulada diretamente pelos
níveis presentes do mesmo, apesar dos mecanismos de
homeostase envolvidos ainda serem apenas parcialmente
compreendidos. Uma alta ingestão de colesterol da dieta leva
a uma redução global na produção endógena, enquanto que uma
ingestão reduzida leva ao efeito oposto. O principal
mecanismo regulatório é a sensibilidade do colesterol
intracelular no retículo endoplasmático pela proteína de
ligação ao elemento de resposta a esterol (SREBP). Na
presença do colesterol, a SREBP se liga a outras duas
proteínas: SCAP (SREBP-cleavage activating protein) e
Insig1. Quando os níveis de colesterol caem, a Insig-1 se
dissocia do complexo SREBP-SCAP, permitindo que o complexo
migre para o aparelho de Golgi, onde a SREBP é clivada pela
S1P e S2P (site 1/2 protease), duas enzimas que são ativadas
pela SCAP quando os níveis de colesterol estão baixos. A
SREBP clivada então migra para o núcleo e age como um fator
de transcrição para se ligar ao elemento regulatório de
esterol (SRE) de diversos genes para estimular sua
transcrição. Entre os genes transcritos estão o receptor LDL
e o HMG-CoA redutase. O primeiro procura por LDL circulante
na corrente sanguínea, ao passo que o HMG-CoA redutase leva
a uma produção endógena aumentada de colesterol.[3]
Uma grande parte deste mecanismo foi esclarecida pelo Dr.
Michael S. Brown e Dr. Joseph L. Goldstein nos anos 1970s.
Eles receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por
seu trabalho em 1985.[3]
A quantidade média de colesterol no sangue varia com a
idade, tipicamente aumentando gradualmente até a pessoa
chegar aos 60 anos de idade. Parece haver variações sazonais
nos níveis de colesterol em humanos, aumentando, em média,
no inverno.[4]
Excreção
O colesterol é excretado do fígado na bile e é
reabsorvido nos intestinos. Dentro de certas circunstâncias,
quando está mais concentrado, como na vesícula biliar, ele
se cristaliza e é um dos principais constituintes da maioria
das pedras na vesícula biliar, embora possam ser formadas,
menos freqüentemente, pedras de lecitina e bilirrubina na
vesícula biliar.
Fluidos corporais
O colesterol é minimamente solúvel em água; não podendo
se dissolver e ser transportado diretamente na corrente
sanguínea, que é à base de água. Ao invés, ele é
transportado na corrente sanguínea pelas lipoproteínas, que
são solúveis em água e carregam o colesterol e
triglicerídios internamente. As apolipoproteínas que formam
a superfície de uma dada partícula de lipoproteína
determinam de quais células o colesterol será removido e
para onde ele será fornecidas.
As maiores lipoproteínas, que transportam principalmente
gorduras da mucosa intestinal para o fígado, são chamadas de
quilomícrons. Elas carregam principalmente gorduras na forma
de triglicerídios e colesterol. No fígado, as partículas de
quilomícron liberam triglicerídios e um pouco de colesterol.
O fígado converte os metabólitos dos alimentos não queimados
em lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL) e
secreta-as no plasma onde são convertidas em partículas de
lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e ácidos graxos
não-esterificados, que podem afetar outras células do corpo.
Em indivíduos saudáveis, as relativamente poucas partículas
de LDL são de tamanho grande. Em contraste, números
aumentados de partículas de LDL de baixa densidade (sdLDL)
são fortemente associados com a presença de doença
ateromatosa nas artérias. Por esta razão, o LDL é
considerado o "colesterol ruim".
O programa nacional de educação sobre o colesterol nos
Estados Unidos, de 1987, sugere que o níveis de colesterol
total no sangue sejam:
|
<200 mg/dl colesterol sanguíneo total normal
|
|
200-239 mg/dl limite de colesterol total
|
|
>240 mg/dl colesterol total alto
|
As partículas de lipoproteína de alta densidade (HDL)
transportam colesterol de volta para o fígado para a
excreção, mas variam consideravelmente em sua efetividade em
fazer isto. Geralmente é chamada de "colesterol bom", pois
ter partículas grandes de HDL em grandes quantidades traz
benefícios à saúde. Em contraste, ter pequenas quantidades
de partículas grandes de HDL está associado a progressão de
doenças com ateromas no
interior das artérias.
Importância clínica
Hipercolesterolemia
O termo hipercolesterolemia refere-se a níveis aumentados
de colesterol na corrente sanguínea. Condições com elevadas
concentrações de partículas LDL oxidadas, especialmente
partículas LDL pequenas, estão associadas com a formação de
ateromas nas paredes das artérias, uma condição conhecida
como aterosclerose, que é a principal causa de doença
coronariana cardíaca e outras formas de doença cardíaca. Em
contraste, as partículas de HDL (especialmente HDL grandes)
têm sido identificadas como um mecanismo pelo qual o
colesterol e mediadores inflamatórios podem ser removidos do
ateroma. As taxas aumentadas de HDL estão relacionadas a
taxas menores de progressão e até mesmo regressão dos
ateromas.
Os níveis elevados de frações de lipoproteínas, LDL, IDL
e VLDL são considerados aterogênicos (propensos a
causas aterosclerose). Os níveis destas frações, ao invés do
nível de colesterol total, se relacionam com o aumento e a
progressão de aterosclerose. Desta maneira, o nível de
colesterol total pode estar dentro dos limites normais,
embora composto principalmente de pequenas partículas de LDL
e de HDL, o que, sob estas condições, faria com que as taxas
de crescimento de ateromas continuariam altas. Em contraste,
entretanto, se o número de partículas LDL é baixo
(principalmente de partículas grandes) e uma grande
porcentagem de partículas de HDL é grande, então as taxas de
crescimento de ateromas são geralmente baixas, até mesmo
negativas, para qualquer concentração de colesterol total.
Estes efeitos são ainda mais complicados pela
concentração relativa de dimetilarginina assimétrica (ADMA)
no endotélio, já que a ADMA "regula para baixo" ("down-regulation")
a produção de óxido nítrico, um relaxante do endotélio.
Conseqüentemente, níveis altos de ADMA, associados com
níveis aumentados de LDL oxidadas proporcionam um fator de
risco aumentado à doença cardiovascular. A Associação
Americana do Coração relaciona os seguintes níveis de
colesterol sanguíneos totais em jejum e o risco para doenças
cardíacas:[5]
Nível em mg/dL |
Nível em mmol/L |
Risco de doença cardíaca |
<200 |
<5,2 |
Nível desejável: menor risco de doença cardíaca |
200-239 |
5,2-6,2 |
Limiar de alto risco |
>240 |
>6,2 |
Nível não-desejável: alto risco |
Entretanto, como os métodos atuais de exames determinam o
colesterol LDL ("ruim") e o HDL ("bom") separadamente, este
modo simplístico de se avaliar o nível de colesterol se
tornou obsoleto. O nível desejável de colesterol LDL é menos
do que 100 mg/dL (2,6 mmol/L), embora um novo alvo de <70 mg/dL
pode ser considerado para indivíduos em alto risco baseado
em alguns dos testes mencionados acima. O nível ideal de
colesterol HDL é de >60 mg/dL. Uma proporção de colesterol
total para o HDL — outra forma útil de medição — de menos de
5:1 acredita-se ser saudável. Como nota, os valores típicos
de LDL para criança antes que os estágios iniciais de
ateroma comecem a se desenvolver é 35 mg/dL.
Os pacientes devem estar conscientes que a maioria dos
métodos de examinação para LDL não medem realmente o LDL em
seus sangue, uma partícula de tamanho muito menor. Por
razões de custo, os valores de LDL têm sido estimados
usando-se a fórmula Friedewald: [colesterol total] − [HDL
total] − 20% do valor de triglicerídios = LDL estimado. A
base disto é que o colesterol total é definido como a soma
de HDL, LDL e VLDL. Geralmente somente o colesterol total, o
HDL e os triglicerídios são realmente medidos. O VLDL é
estimado a quinta parte (1/5) dos triglicerídios. É
importante estar em jejum por pelo menos 8-12 horas antes do
exame de sangue porque os níveis de triglicerídios variam
significativamente com a ingesta de alimentos.
Cada vez mais existem evidências clínicas que fortemente
sustentam o maior valor de predição dos exames mais
sofisticados que medem tanto as concentrações de partículas
de LDL e HDL e tamanho, ao contrário dos exames comuns
citados acima.
Hipocolesterolemia
Os níveis anormalmente baixos de colesterol são chamados
de hipocolesterolemia. As pesquisas sobre as causas
desta condição são relativamente limitadas: enquanto alguns
estudos sugerem uma relação com a depressão, câncer e
hemorragia cerebral, ainda não se sabe ao certo se os níveis
baixos de colesterol são a causa destas condições ou se são
um epifenômeno.[1]
Fontes na dieta
Na alimentação humana, o colesterol é encontrado nas
gorduras animais: todos os alimentos que contêm gorduras
animais possuem colesterol, ao passo que os alimentos que
não contêm gorduras animais são isentos de colesterol ou
possuem quantidades inexpressivas. As principais fontes de
colesterol na dieta incluem os ovos(sendo que o colesterol
do ovo não faz mal), carne de vaca e galinha.[6]
As plantas possuem vestígios de colesterol, então mesmo
uma dieta vegetariana, que não inclui alimentos animais,
possui pequenas quantidades de colesterol.
Ovo não é o vilão, para quem vive falando mal do ovo, uma
novidade: "O ovo é um alimento injustiçado. Apesar de
conter uma quantidade razoável de colesterol, praticamente
não tem nada de gordura saturada. E o organismo tem uma
capacidade limitada de absorver o colesterol que está no ovo".
Deve-se observar, no entanto, que o colesterol pode ser
sintetizado no organismo humano em grandes quantidades,
mesmo com uma dieta vegetariana ou pobre em colesterol, como
resultado de distúrbios no metabolismo. Portanto, elevações
pequenas nos níveis de colesterol podem ser inicialmente
tratadas apenas com mudança dos hábitos alimentares, mas
hipercolesterolemias severas geralmente exigem a associação
com tratamento farmacológico.
Produtos vegetais (como linhaça e amendoim) também contêm
compostos como o colesterol, os fito esteróis, que são
sugeridos para diminuir os níveis de colesterol no sangue.[7]
Cristais líquidos colestéricos
Alguns derivados do colesterol geram a fase
colestérica cristalina líquida. A fase colestérica é na
verdade uma fase nemática quiral, e muda de cor quando a
temperatura é alterada. Dessa maneira, os derivados do
colesterol são geralmente usados em termômetros de cristal
líquido e em corantes e tintas sensíveis à temperatura.
Referências
-
↑ Smith LL.
Another cholesterol hypothesis: cholesterol as
antioxidant. Free Radic Biol Med 1991;11:47-61.
PMID 1937129.
-
↑ Haines,
TH. Do sterols reduce proton and sodium leaks through
lipid bilayers? Prog Lipid Res 2001:40:299 – 324.
PMID 11412894.
-
↑
3,0
3,1
Anderson RG. (2003).
"Joe Goldstein and Mike Brown: from cholesterol
homeostasis to new paradigms in membrane biology.".
Trends Cell Biol 13: 534 – 9.
PMID 14507481.
-
↑
Ockene IS, Chiriboga
DE, Stanek EJ 3rd, Harmatz MG, Nicolosi R, Saperia G,
Well AD, Freedson P, Merriam PA, Reed G, Ma Y, Matthews
CE, Hebert JR. (2004). "Seasonal variation in serum
cholesterol levels: treatment implications and possible
mechanisms.". Arch Intern Med 164: 863 –
70.
PMID 15111372.
-
↑
"About cholesterol" - American Heart Association
-
↑
Nutrition and Your Health: Dietary Guidelines for
Americans. Table E-18. Dietary Sources of Cholesterol
Listed in Decreasing Order.
-
↑
Ostlund RE, Racette, SB,
and Stenson WF (2003). "Inhibition of cholesterol
absorption by phytosterol-replete wheat germ compared
with phytosterol-depleted wheat germ". Am J Clin Nutr
77 (6): 1385-1589.
PMID 12791614.
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