Basta uma rápida refeição e centenas de aditivos
químicos são ingeridos:
substâncias
capazes de conservar e melhorar as qualidades
dos alimentos.
Tão velhos quanto os humanos, os aditivos sempre
estiveram presentes em nossa dieta.
O Portal de Estudos em
Química (PEQ) apresenta a química dos aditivos
alimentares.
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Os
aditivos alimentares têm sido usados por séculos:
nossos ancestrais usaram sal
para preservar carnes e peixes; adicionaram
ervas e temperos para melhorar o sabor dos alimentos;
preservaram frutas com açúcares e conservaram pepinos e
outros vegetais com vinagre. Entretanto, com o advento da
vida moderna, mais aditivos têm sido empregados, a cada ano.
A existência de vários produtos modernos, tais como os de
baixo valor calórico, fast-food, salgadinhos embalados (snaks),
não seria possível sem os aditivos atuais. Estes são usados
para preservar os alimentos, melhorar o seu aspecto visual,
seu sabor e odor, e estabilizar sua composição. Além disso,
são empregados para aumentar o valor nutricional e evitar a
sua decomposição ou oxidação com o passar do tempo. O número
de aditivos atualmente empregados é enorme, mas todos eles
sofrem uma regulamentação federal no seu uso: alguns são
permitidos somente em certas quantidades, enquanto que
outros já foram banidos de nosso cardápio. E são dos
laboratórios de química que saem, anualmente, mais e
melhores aditivos.
Existem
cinco importantes razões
para se utilizarem aditivos:
Para manter a consistência do produto: o que
mantém o sal soltinho e livre? O que faz com que
emulsões, como molhos de salada, fiquem estáveis e
não se separem? Certos ingredientes, tais como
emulsificantes, estabilizantes, expessantes e
agentes anti-aglutinantes ajundam a manter a textura
e características do alimento. Exemplos incluem
alginatos, lecitina, glicerídeos, metil-celulose,
pectina, goma arábica, aluminossilicatos, entre
outros.
Para manter ou melhorar o valor nutricional:
vários nutrientes dos alimentos podem ser perdidos
durante o processo de manufaturação. Por isso as
indústrias adicionam vitaminas A, D, ferro, ácido
ascórbico, cálcio, riboflavina, niacina, ácido
fólico, zinco, entre outros, a vários alimentos,
tais como a margarina ou o leite. As nove vitaminas
garantidas na caixa do sucrilhos, por exemplo, foram
todas adicionadas propositalmente.
Para manter a palatabilidade: os alimentos
perdem, naturalmente, o sabor e a frescura devido ao
envelhecimento e à exposição a agentes como umidade,
oxigênio, bactérias e fungos. Para evitar isso, as
indústrias adicionam ácido ascórbico, BHA, BHT e
nitrito de sódio, numa tentativa de evitar a
oxidação e a perda de sabor nos alimentos.
Para aumentar a maciez ou controlar o pH:
qualquer dona de casa sabe que, sem fermento, o bolo
não cresce. O fermento pode ser um pó químico:
bicarbonato de sódio. Este é um aditivo alimentar.
Algumas vezes, deseja-se modificar o pH de certas
comidas, para melhorar o sabor ou a aparência.
Para melhorar sabor ou cor: vários temperos
naturais e aromatizantes artificiais são empregados
para melhorar o sabor de alimentos. As cores,
também, podem ser alteradas com o uso de aditivos,
numa tentativa de atender as espectativas do
consumidor. |
Um aditivo alimentar, no senso comum, é qualquer substância
adicionada ao alimento. Legalmente, entretanto, o termo
significa "qualquer
substância adicionada propositalmente a um alimento com o
objetivo de alterar características deste". Esta
definição abrange qualquer composto usado na produção,
processo, embalagem, transporte ou estoque do alimento.
tarefa.de.casa
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Procure,
na sua geladeira, um pote de margarina. Encontre, na
embalagem, a lista dos ingredientes. Identifique e
diga a função de cada um dos aditivos alimentares
presentes. |
Os aditivos alimentares e seus metabólitos são sujeitos a
análises toxicológicas
rigorosas antes da aprovação do seu uso na
indústria. Os estudos são conduzidos com espécies animais
(e.g., ratos, cães, coelhos), objetivando se determinar os
efeitos tóxicos a curto e longo prazo. Estes testes
monitoram o comportamento dos animais, seu crescimento, taxa
de mortalidade, reprodução, química do sangue e
desenvolvimento de tumores, durante um perído de 90 dias. A
menor quantidade de aditivo que não produz nenhum efeito
tóxico é chamada de "No-effect level", ou NOEL.
Este valor é, geralmente, dividido por 100 e se obtém o
máximo "acceptable daily intake", ADI.
Os aditivos nutricionais
A incrementação nutricional dos alimentos teve início em
1924, quando, nos EUA, o iodo foi adicionado ao sal de
cozinha, numa tentativa de inibir o bócio. Vitaminas são
comumente adicionadas a muitos alimentos; as vitaminas D são
adicionadas a cereais, farinha, macarrão; a vitamina C é
adicionada a bebidas, derivados do leite e confeitos. Além
destes, aditivos como óleos essenciais (e.g., ácido
linoléico), minerais (e.g., ferro e cálcio) e fibras
diéticas são também empregados.
Agentes
Processantes
Um grande número de substâncias químicas é adicionado aos
alimentos durante o processo de fabricação. Entre eles estão
os emulsificantes,
que são utilizados para manter uma dispersão uniforme de
um líquido em outro, tal como óleo e água. A
estrutura química de um agente emulsificante, em geral,
inclui uma porção hidrofóbica (tal como uma longa
cadeia alquílica) e uma parte hidrofílica (iônica ou
polar). São, na verdade, surfactantes: a porção hidrofóbica
do agente se dissolve no óleo e a hidrofílica na fase
aquosa, formando uma dispersão de micro-gotas deste olho.
Estas substâncias são usadas em emulsões (maionese), para
facilitar a dispersão de aromatizantes
hidrofóbicos, prevenir a formação de cristais de gelo
em produtos congelados (sorvete), e melhorar o volume e
uniformidade de produtos assados.
O estabilizantes e
expessantes tem muitas funções nos alimentos. A
grande maioria é formada por polissacarídeos, como amido, ou
ainda por proteinas, tais como a gelatina. A principal
função é aumentar a viscosidade do produto final, bem
como estabilizar emulsões. A formação e estabilização
de espuma em vários produtos também é um efeito destes
aditivos.
EDTA |
Os agentes quelantes
(ou sequestrantes) protegem os produtos de muitas
reações enzimáticas que podem promover a deterioração
durante o processamento e estocagem. Estas substâncias se
ligam a muitos dos minerais presentes nos alimentos (e.g.,
íons cálcio e magnésio) que são requeridos como co-fatores
para a atividade enzimática de certas proteínas. Um dos
compostos mais utilizados para este fim é o EDTA - ácido
etilenodiaminotetracético.
Além destes agentes processantes, existem os
humectantes, que
mantém o alimento úmido e macio. No côco ralado, por
exemplo, é adicionado glicerina. Nos marshmallows,
adiciona-se monoestearato glicérico.
Agentes
Preservativos
Para evitar a ação do tempo nos alimentos, as indústrias se
valem de agentes que preservam a integridade do produto,
aumentando a sua data de validade. Existem dois grandes
grupos: os antioxidantes e os antimicrobiais. Os
antioxidantes são
compostos que previnem a deterioração dos alimentos por
mecanismos oxidativos. A oxidação envolve a adição de um
átomo de oxigênio ou a remoção de um átomo de hidrogênio das
moléculas que constituem os alimentos. São dois os
principais tipos de oxidação: a auto-oxidação dos ácidos
graxos insaturados (i.e., aqueles que contém uma ou mais
ligações duplas nas cadeias alquílicas) e a oxidação
catalizada por enzimas. No primeiro caso, a reação envolve
as ligações duplas do ácido graxo com o oxigênio molecular
(O2). Os produtos desta reação,
chamados radicais-livres, são extremamente reativos,
produzindo compostos responsáveis pelo mau odor e pela
rancificação do alimento. Os compostos que reagem com os
radicais livres podem reduzir a velocidade da auto-oxidação.
Estes antioxidantes incluem os naturais, tais como o
tocoferol (vitamina E) e os sintéticos, tais como o BHA
e BHT, ambos derivado do fenol.
tocoferol (vitamina E) |
A oxidação dos alimentos também pode ser causadas por
reações enzimáticas específicas. Basta cortar uma
maça ou uma banana, por exemplo, que enzimas chamadas
fenolases rapidamente catalisam a oxidação de certas
moléculas (e.g., tirosina, um amino-ácido), deixando a face
exposta com uma cor escura. Este "bronzeamento enzimático"
leva à formação de pigmentos, tais como a melanina. Os
antioxidantes que inibem este tipo de oxidação incluem
agentes que se ligam ao oxigênio livre (tal como o ácido
ascórbico) ou agentes que inibem a atividade enzimática,
tais como o ácido cítrico e sulfito de sódio.
As funções de alguns aditivos, além de complexas,
são múltiplas. É o que ocorre com a vitamina D que,
quando adicionada ao leite, além de torná-lo mais
nutritivo, melhora a absorção de íons cálcio pelo
organismo.
Outro exemplo é a Vitamina C
(ácido ascórbico).
É um agente nutricional e antioxidante: como ácido
ascórbico é facilmente oxidado pelo ar, este sofre a
oxidação em preferência ao alimento, preservando a
sua qualidade. |
ácido sórbico |
Além de processos oxidativos, o crescimento de
microorganismos, como fungos e bactérias, também pode
ser prejudicial para a qualidade do alimento. Juntamente com
outras técnicas, tal como embalagens hermeticamente fechadas
e refrigeração, várias substâncias químicas são utilizadas
como agentes
antimicrobiais. O cloreto de sódio, ou sal de
cozinha, é provavelmente o mais antigo destes agentes.
Ácidos orgânicos, tais como o acético, benzóico, propanóico
e o ácido sórbico, são usados como antimicrobiais em
alimentos com pH baixo. Nitratos e nitritos são usados para
inibir o crescimento da bactéria Clostridium botulinum
em alimentos que contém carne crua, tais como a linguiça, o
presunto, o bacon e o salame. Dióxido de enxofre e sulfitos
são usados para controlar o crescimento de microorganismos
em frutas secas, sucos e vinhos. Nisin e natamicina são
usados para inibir o crescimento de bactérias e fungos.
Agentes
Sensoriais
Nossa interface com o mundo, incluindo os alimentos, é feita
através de percepções sensoriais, tais como visão, olfato e
paladar. A cor de um alimento,
por exemplo, influencia diretamente na percepção do sabor e
da qualidade do produto. O processamento pode causar a
degradação de pigmentos naturais encontrados nos alimentos.
Outros produtos, ainda, precisam da adição de corantes
(naturais ou sintéticos) para possuirem uma aparência
agradável e diferencial, tal como em refrigerantes (você
consegue diferenciar uma coca-cola, uma fanta e um sprite
apenas pela cor?), sorvetes, e snacks. Até mesmo o
pipoqueiro da esquina costuma adicionar anilina aos grãos de
pipoca, pois sabe que a pipoca rosada é "mais gostosa".
Nitrito de Sódio:
mocinho ou bandido?!
Um dos aditivos mais utilizados é o nitrito
de sódio, NaNO2.
Ele é um excelente antimicrobial e está
presente em quase todos os alimentos
industrializados a base de carne, tal como
salames, presuntos, mortadelas, bacon, etc..
O problema é que existem estudos que
evidenciam que, no estômago, o nitrito de
sódio pode se transformar em metabólitos
carcinogênicos: nitrosaminas.
É um processo que envolve 3 etapas,
iniciando com a dissociação do sal em água::
1) NaNO2
Na+
+ NO2-
O íon nitrito reage, no estômago, com o
ácido clorídrico:
2) NO2-
+ HCl
HNO2
+ Cl-
Finalmente, sabe-se que o ácido nitroso pode
reagir com certas aminas (como as obtidas
pela hidrólise de proteínas) e formar
nitrosaminas. Por exemplo, na reação abaixo,
com a dimetilamina, o ácido nítrico gera a
N-nitrosodimetilamina; esta reação já foi
feita em laboratório.
3) HNO2
+
Apesar destas evidências,
continuamos ingerindo nitrito de sódio
diariamente... |
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Os corantes
podem ser naturais: derivados de plantas, animais, ou mesmo
minérios (tal com o óxido de titânio, TiO2,
presente em sucos artificiais). A grande maioria é derivado
e extratos de plantas; estes, entretanto, apresentam algumas
desvantagens: instabilidade quando expostos à luz e ao
calor, insolubilidade em água, a falta de fornecedores, a
reatividade com outros componentes da comida, e a presença
de aromas ou odores indesejados.
Os corantes sintéticos são solúveis em água e avaliáveit
como pó, pastas, grânulos ou soluções. Muitas substâncias
utilizadas como corantes, tal como o "Brilliant Blue FCF", o
"Indigo Carmine", o "Fast Green FCF" e "Allura Red AC" são
bastante tóxicas. Mas, como a concentração utilizada nos
alimentos é muito pequena, não chegam a ser preocupantes.
Mesmo assim, certos corantes permitidos no Brasil (tal como
o Allura) foram proibidos em vários países (como o Canadá).
Além da cor, os aditivos também são utilizados para alterar
o odor e paladar: são os
agentes flavorizantes. Nós somos capazes de
perceber 5 sabores básicos: doce, salgado, amargo,
azedo e unami. Isto é possível porque certas
moléculas são capazes de sensibilizar células especializadas
localizadas nos nódulos palatativos, na língua, boca e
garganta.
glutamato monossódico (MSG) |
Além de sensibilizar o paladar, um agente flavorizante pode
estimular células do olfato, que são capazes de detectar
mais de 10.000 estímulos diferentes. Há vários séculos
atrás, na Ásia, já se utilizava uma substância que acabou
sendo o primeiro flavorizante a ser vendido
comercialmente como tal: os cozinheiros de lá usavam o
amino-ácido L-glutâmico ou o
glutamato monossódico (MSG).
Esta substância é capaz de proporcionar um sabor rico e
característico (chamado unami), típico em pratos orientais.
Outros compostos que são utilizados como flavorizantes são
as lactonas, ésteres, os 5'-ribonucleotídeos, monofosfato de
inosina (IMP), malte e proteínas vegetais hidrolizadas.
BHA e BHT contra o câncer!
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Muitos aditivos são reconhecidos por siglas. É o
caso do 2-t-butil-4-metoxifenol, o BHA, e do 2,6-di-t-butil-4-metilfenol,
o BHT.
BHA
BHT
Estes derivados do fenol inibem reações oxidativas
que podem acontecer nos alimentos, capazes de
alterar suas qualidades. Ambos são muito utilizados;
confira, por exemplo, uma embalagem de margarina: na
certa, um deles estará presente.
Evidências indicam que, além de antioxidantes, estes
compostos auxiliam na prevenção contra o câncer.
Andrew Dannenberg, do Cornell Medical College,
recentemente publicou um estudo demonstrando que
tanto o BHA como o BHT podem reduzir o risco de
câncer, em humanos, da mesma forma de alguns
vegetais fazem (brócolis, repolho, couve).
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sacarose (açúcar comum) |
Além dos flavorizantes, as indústrias se utilizam de
agentes adoçantes.
A sacarose, por exemplo, é uma das substâncias
químicas mais vendidas no mundo. Todos nós temos, em casa,
quilos deste produto químico. Como ela fornece energia na
forma de carbo-hidratos, é considerada um adoçante nutritivo
- tal como a glucose, frutose, xarope de milho, sorbitol,
etc.. Desde a descoberta da síntese da sacarina, há
quase 200 anos, os químicos vem preparando mais e mais
adoçantes não nutritivos, que fornecem nada ou poucas
calorias e nutrientes. Estes adoçantes, em geral, são muito
mais poderosos que a sacarose e, portanto, bastam
quantidades minimas para se provocar o efeito desejado. São
usados na produção de praticamente todos os produtos de
baixa-caloria, tais como doces, bolos, derivados do
leite, refrigerantes e confeitos. Ao contrário dos adoçantes
nutritivos, estes adoçantes não fornecem textura ou
viscosidade aos produtos, então é necessário a adição de
agentes, tal como a polidextrose. Alguns adoçantes,
entretanto, podem provocar câncer: é o que aconteceu com
o estudo, em ratos, dos ciclamatos e com a
sacarina.
Por
causa disso, os ciclamatos foram proibidos nos EUA (embora
sejam vendidos livrementes no Brasil) e a sacarina recebeu
uma menção de alerta pelo FDA. Uma grande polêmica surgiu,
também, em torno do aspartame: boatos diziam que ele poderia
causar vários males, desde câncer até impotência sexual. Mas
não existem evidências de que o aspartame seja realmente
prejudicial. Para o FDA a substância não apresenta nenhum
efeito colateral. Toda a confusão iniciou na internet
(quem nunca recebeu algum spam-e-mail
alertando sobre os perigos do aspartame?) e,
provavelmente, foi movida por indústrias açucareiras que
perceberam o grande potencial do rival sintético. O
aspartame, contudo, é um dos adoçantes artificiais menos
tóxicos já fabricados pelo homem.
O uso dos aditivos alimentares possibitou ao homem uma
alimentação mais sadia, segura e higiênica. A ameaça do
botulismo, comum em décadas passadas, foi praticamente
banida. Hoje os alimentos podem ser guardados por longas
datas, mesmo sem refrigeração. Com um rígido controle de
toxidade, foi possível se estabelecer uma estreita relação
entre a química e os alimentos: os sabores foram realçados,
as aparências melhoraram e os micróbios morreram.
Os químicos trabalham incessantemente para o aumento do
conforto humano; este campo, dos aditivos alimentares, é
apenas uma das inúmeras áreas de atuação de nossos
profissionais.
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