Dourar ou
caramelizar?
Existem dois tipos de reações de
escurecimento em alimentos: enzimático, o qual é
visto na superfície da fruta cortada e o
escurecimento não enzimático, que ocorre quando
certos tipos de alimentos (como café, carnes, pães
ou açúcares) são aquecidos.
A formação da cor escura desejada
na cozinha é, geralmente, associada com o
escurecimento não-enzimático, o qual ocorre de
diversas maneiras. As formas mais importantes de
escurecimento não-enzimático são:
1) A reação de Maillard, em que
açúcares, aldeídos e cetonas reagem com compostos
nitrogenados, tais como aminoácidos e proteínas,
para formar pigmentos de cor marrom, os quais são
produtos de reações complexas, inclusive de
polimerização;
2) Reações de caramelização, em
que açúcares são aquecidos na ausência de compostos
nitrogenados, os quais foram também produtos
complexos, também resultados de polimerização.

Durante a reação de
caramelização, os açúcares submetem-se à
desidratação e após à condensação ou polimerização,
ocorrendo a formação de estruturas complexas de
massas moleculares diferentes. Levemente colorido e
de gosto agradável, o caramelo começa a ser
produzido durante os estágios iniciais, mas à medida
que a reação continua, ocorre a formação de
estruturas de massa molecular mais elevada, o que
influi no sabor, o qual se torna gradativamente mais
amargo com a elevação da temperatura, ou seja, o
açúcar irá queimar de acordo com uma relação
diretamente proporcional ao tempo que você deixar
(ou esquecer, o que não é incomum acontecer) a
panela com açúcar no fogo.
A cor do caramelo ganhou
primeiramente importância comercial como aditivo em
produtos de cervejaria (por exemplo, cerveja escura)
e como um aditivo de cor para o conhaque. Em 1858, o
químico francês M. A. Gelis foi autor do primeiro
estudo publicado sobre a cor do caramelo. O trabalho
de Gelis indicou que a caramelização da sacarose
contém três produtos principais: um produto da
desidratação, a caramelana (C12H18O9)
e dois polímeros, caramelen (C36H50O25)
e caramelin (C96H102O51).
Há muitas controvérsias no que
diz respeito aos valores do ponto de derretimento (a
literatura indica um intervalo relativamente grande
de 160 a 191ºC) do açúcar com pureza elevada.
Pesquisadores (GERMANO et al., 2004)
estudaram esse assunto e chegaram à conclusão de que
o ponto de fusão (amolecimento) do açúcar (sacarose
com alto grau de pureza) é de aproximadamente 189ºC.
Contudo, o processo de caramelização (mudança de
cor) começa a surgir ainda em 154ºC, sendo que a
formação de compostos mais complexos, quando há a
formação da cor amarela, inicia-se em 180ºC. O
açúcar passa de tons bem claros de amarelo,
transformando-se para um durado característico até
chegar a uma cor negra intensa, quando a temperatura
atingir cerca de 210ºC. Esse processo de formação de
carbono puro segue até aproximadamente 600ºC (veja
Figura 9).
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Figura 9
– Diferentes tonalidades do caramelo em
função da temperatura. Fonte:
Chef Simon
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Muitos cozinheiros supõem que
douramento de todos os alimentos na cozinha é o
resultado da caramelização, tanto que é possível ver
receitas que descrevem processos como, por exemplo,
a “caramelização de carnes”. Nem todo o
escurecimento é originado pela reação de
caramelização. No caso de carnes, ocorrem reações
químicas diferentes que recebem o nome genérico de
“Reações do Maillard”, as quais produzem o sabor
característico do churrasco. Essas reações são
similares à caramelização, com a diferença de
envolverem interações de açúcares com proteínas em
temperaturas mais altas do que a caramelização.
Uma experiência interessante de
se fazer em casa é aquecer o açúcar com água até ele
atingir uma coloração característica do caramelo.
Neste ponto, você pega um copo cheio de água (a
temperatura ambiente) e coloca o açúcar derretido,
ainda fervendo, na água. O açúcar voltará ao seu
estado sólido, devido à diminuição da temperatura
promovida pela água. Essa experiência é muito
interessante, pois, ao seu final, você pode comer os
produtos formados! Uma delícia!