Como sentimos o
sabor doce?
A sensação do sabor é resultado
de um sistema sensorial dedicado primeiramente a
verificar a qualidade do alimento que será ingerido.
Embora ajudado pelas análises do olfato e da visão,
o reconhecimento final se dá nas interações que
certos grupamentos das moléculas dos alimentos vão
ter com receptores exclusivos para cada gosto, os
quais estão presentes, de forma predominante, em
nossa língua. Nós humanos reconhecemos cinco tipos
de gostos: ácido, amargo, doce, salgado e umami[8].
Um ser humano normal consegue
detectar a presença de cerca de 6,85 g de açúcar
dissolvidos em 200 mL de água. Pesquisadores da
Embrapa, em parceria com a Escola Politécnica da
USP, desenvolveram uma
língua eletrônica que consegue detectar 0,3 g de
açúcar dissolvido em 200 mL de água. A língua
eletrônica consiste em um conjunto de unidades
sensoriais que devem ser mergulhadas no líquido
analisado. Essas unidades são eletrodos metálicos
recobertos por uma finíssima camada de diversos
polímeros “inteligentes”, os quais são sensíveis às
substâncias presentes na solução.
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Figura 4
– Esquema geral explicando o sentido do
paladar.
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O sabor doce ocorre em resposta à
presença de carboidratos solúveis em concentrações
suficientes na cavidade oral. Contudo, existe uma
diversidade relativamente grande de moléculas que
não são carboidratos, mas também apresentam sabor
doce. Para felicidade das pessoas que não podem
ingerir açúcar devido a problemas relacionados com
determinadas patologias, como é o caso do diabetes,
surgem os adoçantes dietéticos, os quais merecerão
um capítulo especial neste artigo.
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Animação
1
– Regiões da língua especializadas nos
quatro principais sabores
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Verifica-se
que algumas áreas da língua são especializadas em um
determinado sabor em detrimento parcial dos outros.
As sensações de doce (sweet) e salgado (salty)
estão localizadas, principalmente, na ponta da
língua, a sensação de azedo (sour) nas
porções laterais e a de amargo (bitter) sobre
a região posterior (veja Animação 1). Contudo,
sabe-se que mesmo regiões especializadas no sabor
doce, por exemplo, também são sensíveis, em menor
grau, em relação aos quatro outros gostos.
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Figura 5
– Mecanismos para as sensações dos sabores
(a esq. para a dir.): umami, doce e amargo.
Fonte:
Basic Neurochemistry.
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Mas, como o açúcar e os adoçantes
dietéticos proporcionam o prazer do gosto doce? É
possível explicar essa sensação através do esquema
representado na Figura 5. Como se pode notar,
existem várias etapas, desde a estimulação da
proteína AC (Adenylate Cyclase) até a elevação da
concentração de cAMC (cyclic adenosine monophosphate),
o que causa uma inibição dos canais de potássio que,
por sua vez, geram uma despolarização da célula.
Evidentemente que não é objetivo
deste trabalho explicar como se dá a sensação de
doce em sua plenitude, pois, como já pode ser visto
através do esquema representado na Figura 5, não se
trata de um fenômeno simples, mas de um emaranhado
de interações e reações bioquímicas, as quais foram
elucidadas, mesmo que parcialmente, nas últimas
décadas.

[8] O
umami é o sabor característico de certos
aminoácidos (e.g., glutamato, aspartato, entre
outros) que não pode ser reproduzido por
qualquer outra combinação dos outros quatro
sabores: doce, amargo, azedo e salgado.