PROFESSOR PAULO CESAR |
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Canadá proíbe o uso de policarbonato na confecção de mamadeiras
Ao proibir o uso de policarbonato na confecção de mamadeiras a partir de 2009, o governo canadense está comprando uma grande briga com os fabricantes deste polímero. Em outubro deste ano, as agências governamentais de saúde e de meio-ambiente do Canadá anunciaram diversas ações contra o bisfenol A (BPA, do inglês Bisphenol A), substância utilizada em larga escala e em vários países na fabricação de polímeros do tipo policarbonato e resinas epóxi.
Muito resistente ao calor e ao impacto, o policarbonato é usado na fabricação de lentes para óculos, copos, CDs e DVDs, além de ser o polímero mais usado na confecção de mamadeiras. Com o tempo ou através do contato com produtos de limpeza de natureza básica, como a água sanitária (solução aquosa de NaClO), o polímero policarbonato pode liberar unidades de BPA que contamina os alimentos. Com a alegação de que o BPA é prejudicial à saúde dos bebês, o governo Canadense proibiu, a partir de 2009, a venda, a importação e a propaganda de mamadeiras à base de policarbonato. Apesar de o governo Canadense ser o primeiro a restringir a utilização desses polímeros no setor de alimentos, tais medidas devem se repetir em outros países. Alguns estudos garantem que o BPA reproduz os efeitos dos hormônios estrogênicos (grupo de hormônios sexuais que estimulam os caracteres femininos secundários) e sugerem que sua ingestão pode causar danos ao desenvolvimento do sistema reprodutor dos animais, incluindo peixes em contato com resíduos industriais e domésticos. Aqueles que querem que o BPA seja banido das mamadeiras e de embalagens de alimentos apontam para centenas de estudos publicados na última década correlacionando a exposição a baixos níveis de BPA com o aumento dos casos de câncer de próstata e mama, diminuição da contagem espermatozóides, puberdade feminina precoce, efeitos neurológicos semelhantes ao déficit de atenção e hiperatividade, diabetes e obesidade em animais de laboratório. Pelos mesmos motivos, outro polímero derivado do BPA na mira do governo Canadense é a resina epóxi, utilizada no revestimento interno de embalagens metálicas para evitar sua corrosão (p. ex. latas de cerveja, refrigerante, suco de tomate e alimentos em geral).
Estrutura geral da resina epóxi, polímero também obtido a partir do BPA O governo canadense pretende restringir ainda mais a quantidade de BPA que pode ser liberada nos alimentos para bebês contidos em embalagens revestidas com resina epóxi. Além disso, promete que estudará medidas similares em relação a todos os outros alimentos enlatados.
O BPA se decompõe lentamente e pode estar havendo acúmulo dessa substância no meio ambiente através de esgotos e da lixiviação de aterros sanitários. Para preservar a vida aquática, o Canadá propõe também o controle da quantidade de BPA permitida em águas residuais. Por outro lado, segundo Steven G. Hentges, diretor-executivo global para policarbonato/BPA do Conselho Americano de Química (ACC, do inglês American Chemistry Council), uma associação que representa as maiores indústrias químicas dos E. U. A., os dados científicos mostram que as pessoas estão expostas ao BPA em quantidades inferiores aquelas que causam efeitos nocivos à saúde. Defendendo com unhas e dentes a segurança do BPA, o ACC declarou que o estudo científico publicado recentemente no J. Am. Med. Assoc. 2008, 300, 1303 está longe de ser conclusivo. Este estudo revelou que a alta concentração de BPA encontrada na urina de adultos americanos está associada ao aumento de doenças cardiovasculares, diabetes e anormalidades enzimáticas do fígado. O ACC diz ainda que o BPA traz benefícios à saúde já que a presença de seus derivados poliméricos nos revestimentos de latas de alimentos protege os consumidores do envenenamento por Escherichia coli e botulismo. Para piorar a situação do BPA, a agência americana reguladora de fármacos e alimentos (FDA, do inglês Food and Drug Administration) está no centro de uma polêmica. A agência que está revendo seus critérios de segurança quanto à presença dessa substância em embalagens de alimentos, dispositivos médicos, produtos biológicos, fármacos e cosméticos está sendo agora, ela mesma, investigada pelo congresso americano. Congressistas colocaram em dúvida a capacidade da FDA tomar decisões sobre o bisfenol A após a notícia de que Martin A. Philbert não divulgou uma doação de cinco milhões de dólares a um centro universitário que ele fundou e dirige. Martin A. Philbert, além de professor da Universidade de Michigan, é presidente da subcomissão da FDA para o caso do bisfenol A . O centro de pesquisas que ele dirige na universidade avalia agentes de risco para o meio ambiente e saúde. Os cinco milhões de dólares foram doados por Charles Gelman, um fabricante aposentado de dispositivos médicos que acredita que o bisfenol A é seguro.
Referências Bibliográficas
Chemistry & Engineering News, 27 Out, 2008, 86(43), p.8;
Artigos no Scielo sobre o bisfenol A
T. Goloubkova, P. M. Spritzr, Arq. Bras. Endrocrinol. Metab.,
44(4), p. 323, 2000.
Este site foi atualizado em 04/03/19 |