Países desenvolvidos podem comprar créditos para
atingir as metas de diminuição da emissão de poluentes
As indústrias são responsáveis por 2/3
das emissões de carbono no mundo.
Para entender os créditos de carbono, é
preciso compreender primeiro o efeito estufa e o Protocolo de
Kyoto. O efeito estufa faz parte da dinâmica do planeta e,
graças a ele, a Terra é mais quente do que o espaço e tem a
temperatura ideal para que os seres vivos sobrevivam. Funciona
da seguinte forma: parte do calor irradiado pelo Sol é devolvido
ao espaço. Porém, parte desse calor fica presa na atmosfera e é
responsável por manter o planeta aquecido. O problema é que o
excesso dos chamados gases estufa (gás carbônico, metano, óxido
nitroso, fluoretos de enxofre e vapor d´água) amplifica esse
fenômeno e faz com que mais calor seja retido na superfície do
planeta, provocando o aquecimento global. Hoje em dia, os
pesquisadores descobriram que não são só os gases que provocam
esse efeito. O chamado carbono negro, que é a fuligem da fumaça,
também tem papel importante nesse mecanismo. "A fuligem provoca
o sombreamento da superfície e esquenta a atmosfera. Além disso,
modifica a formação das nuvens, o que muda o equilíbrio térmico
do planeta", explica Kenny Tanizaki Fonseca professor do
Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e pesquisador associado da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Apesar de ser impossível prever com certeza
quanto o planeta deve aquecer nos próximos anos, a preocupação
para minimizar os efeitos do aquecimento global é presente no
mundo todo. Em 1997, 189 países membros das Nações Unidas se
reuniram em Kyoto, no Japão, e assinaram um tratado em que se
comprometem a reduzir as emissões de gás estufa em 5% em relação
aos níveis de 1991. Em 2005, esse protocolo entrou em vigor e os
países signatários deveriam atingir a meta até 2008. Até 2012
deve ser firmado um novo acordo, que já está em negociações. Uma
das críticas ao Protocolo é que só estão obrigados a diminuir as
emissões os países na lista de nações desenvolvidas. Ou seja, o
Brasil ainda não tem metas a cumprir, apesar de estar na lista
dos 20 países que mais poluem. "Ao contrário do que acontece no
resto do mundo, 2/3 das emissões brasileiras estão ligadas ao
uso do solo � desmatamento, queimadas e conversão de
florestas em sistemas agropecuários. O próximo acordo também
deve incluir o desmatamento, que tem a ver diretamente com o
nosso país", afirma Kenny.
Um dos mecanismos a que os países
desenvolvidos podem recorrer para cumprir a meta é comprar os
chamados créditos de carbono de países que diminuíram suas
emissões. Assim, uma empresa brasileira, por exemplo, pode
desenvolver um projeto para reduzir as emissões de suas
indústrias. Esse projeto passa pela avaliação de órgãos
internacionais e, se for aprovado, é elegível para gerar
créditos. Nesse caso, a cada tonelada de CO2 que
deixou de ser emitida, a empresa ganha um crédito, que pode ser
negociado diretamente com as empresas ou por meio da bolsa de
valores. "Porém, os países só podem usar esses créditos para
suprir apenas uma pequena parte de suas metas", explica Kenny
Fonseca. Mesmo com essa restrição, o mercado de crédito de
carbono está em pleno desenvolvimento, principalmente por causa
do chamado mercado voluntário. Nele, mesmo países que não
precisam diminuir suas emissões ou que não assinaram o Protocolo
de Kyoto podem negociar créditos. Segundo um relatório divulgado
por duas organizações americanas do setor de mercado ambiental,
Ecosystem Marketplace e New Carbon Finance, em 2008 o mercado
voluntário de carbono movimentou 705 milhões de dólares, por um
preço médio de 7,34 dólares por crédito de carbono. Kenny
Fonseca explica que o Brasil é um dos países que mais formulam
projetos que geram créditos de carbono e que a expansão desse
mercado é inevitável. "É muito difícil para os países
desenvolvidos conseguirem atingir suas metas. Desde que o
Protocolo de Kyoto foi assinado, houve um aumento populacional,
acompanhado do aumento da necessidade de insumos. E isso
acarreta um aumento natural da emissão de poluentes", afirma.