PROFESSOR PAULO CESAR |
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Teoria Cinética dos Gases
ÍNDICE Capacidades Térmicas dos Gases
Introdução A teoria cinética explica de modo satisfatório essas e outras propriedades dos gases a partir de um modelo microscópico em que um gás é descrito como composto de um grande número de partículas em contínuo movimento, colidindo umas com as outras e com as paredes do recipiente. Como o volume ocupado pelas partículas é muito menor do que o volume do recipiente, as forças exercidas pelas partículas umas sobre as outras são muito pouco efetivas. Isso explica a alta compressibilidade do gás e a tendência que as partículas têm de ocupar todo o volume disponível. A pressão do gás é compreendida em termos da taxa de transferência da quantidade de movimento das partículas para as paredes do recipiente por causa das colisões e a temperatura, em termos da energia cinética média das partículas. A teoria cinética é uma teoria microscópica em que as leis da mecânica newtoniana são consideradas verdadeiras em escala molecular. Mas como um gás é descrito como composto de um número extremamente grande de partículas, não se pode pretender especificar as posições e as velocidades de cada uma dessas partículas e tentar aplicar as leis de Newton para calcular os valores individuais das grandezas físicas de interesse. Ao invés disso, procedimentos estatísticos são usados para calcular valores médios. De qualquer forma, o que se mede experimentalmente são valores médios e os resultados da teoria concordam muito bem com os dados experimentais.
Estas características são selecionadas intuitivamente ou por conveniência matemática. A validade de um modelo é determinada pela experimentação. O modelo da teoria cinética para um gás ideal se baseia nas seguintes hipóteses.
A característica mais importante desse modelo da teoria cinética é que as moléculas, na maior parte do tempo, não exercem forças umas sobre as outras, exceto quando colidem. Para justificar essa característica considere-se o seguinte. Segundo a lei das pressões parciais de Dalton, a pressão total de uma mistura de gases é a soma das pressões que cada gás exerceria se os demais não estivessem presentes. Isto significa que são desprezíveis as forças entre as moléculas de um gás e as moléculas dos outros gases da mistura. Agora, pensando em um gás como uma mistura de dois gases idênticos, pode-se concluir que são desprezíveis as forças entre suas próprias moléculas. Assim, todas as propriedades macroscópicas óbvias de um gás são conseqüências primárias do movimento das suas moléculas e é por isso que se fala em teoria cinética dos gases. As conseqüências mais importantes desse modelo cinético são as relações:
PV
=
½ m[v
2]
= onde P representa a pressão, V, o volume, T, a temperatura Kelvin, N, o número de moléculas do gás, k, a constante de Boltzmann, e [v2], o valor médio dos quadrados dos módulos das velocidades de translação. A primeira expressão relaciona a pressão do gás à energia cinética média de translação das suas moléculas. A segunda expressão relaciona a temperatura absoluta (Kelvin) a essa mesma energia cinética média. Se a pressão de um gás aumenta (a volume constante), a energia cinética média de suas moléculas aumenta e, também, a sua temperatura.
Pressão
PV
=
A distância d, percorrida no intervalo de tempo Dt, e n', o número de colisões da molécula contra a parede em questão durante o mesmo intervalo de tempo Dt, são: d = vX Dt e
onde vX é o módulo da componente da velocidade da molécula ao longo do eixo x e L, o comprimento da aresta do cubo. Se Dt' é o intervalo de tempo entre duas colisões sucessivas:
o módulo da força que a parede exerce sobre a molécula em uma colisão é: F' = ma = m [ ( - vX ) - ( vX ) ] / Dt' = - 2mvX / Dt' Pela terceira lei de Newton, o módulo da força exercida pela molécula sobre a parede em uma colisão é: F = - F' = 2mvX / Dt' = mvX2 / L e o módulo da força total sobre a parede devido a todas as N moléculas é: FT = m ( v1X2 + v2X2 + ... + vNX2 ) / L = mN [vX2] / L onde [vX2] é o valor médio dos quadrados dos módulos das componentes das velocidades das moléculas do gás ao longo do eixo x. Sendo A = L2 a área da parede considerada, a pressão do gás sobre essa parede é: P = FT / A = mN [vX2] / V onde V é o volume do recipiente. Mas, v2 = vX2 + vY2 + vZ2. E como existe, no recipiente, um número muito grande de moléculas que se movem de maneira completamente aleatória: [vX2] = [vY2] = [vZ2]
e e se pode escrever:
PV
=
Aqui, mN = M é a massa do gás e [v
2]
é o valor médio do quadrado das velocidades moleculares. Este resultado continua verdadeiro mesmo levando-se em conta as colisões entre moléculas. Nas colisões elásticas entre partículas idênticas existe a troca das velocidades. Assim, se uma molécula é desviada de sua trajetória antes de colidir com a parede, outra toma o seu lugar. E o resultado é, também, independente da forma do recipiente. Dado um recipiente qualquer, pode-se imaginar no seu interior uma região cúbica e, para esta, vale a demonstração dada acima. E como a pressão é a mesma em todos os pontos do recipiente se o gás está em equilíbrio, a pressão calculada também vale para as paredes, qualquer que seja a sua forma.
Temperatura A pressão de um gás ideal está relacionada à energia cinética média de translação das suas moléculas pela expressão:
PV = Sendo Na o número de Avogadro, k, a constante de Boltzmann, e n, o número de mols do gás, como N = nNa e Na = R / k, a expressão acima pode ser escrita: PV = nR ( 2 / 3k ){ ½ m[v 2] } Para que esta expressão, dada pela teoria cinética, esteja conforme a equação de Clapeyron PV = nRT, deve ser verdade que:
ou seja, a energia cinética média das moléculas de um gás ideal deve ser diretamente proporcional à temperatura absoluta deste gás.
Costuma-se dizer que a temperatura é uma medida da energia cinética
média das moléculas do gás. Se as energias cinéticas médias das moléculas de dois gases são iguais, não existe, em termos médios, qualquer fluxo de energia entre esses gases.
A soma de todas as energias cinéticas e energias potenciais de todas as partículas que constituem o sistema em questão é chamada energia interna do sistema. No caso de um gás ideal, a energia interna é simplesmente a soma das energias cinéticas das moléculas que o constituem.
Como este movimento pode ser decomposto em três movimentos ortogonais, afirma-se que cada molécula tem três graus de liberdade. Por outro lado, da expressão:
pode-se ver que, para cada grau de liberdade de translação, cada molécula tem uma energia ½ kT. Assim, a energia interna de um gás ideal, isto é, a soma das energias cinéticas das N moléculas que o constituem, pode ser escrita: U = N { ½ m[v2]} = 3N { ½ kT} Para a descrição dos gases reais, principalmente quanto aos seus calores específicos, é necessário levar em conta outros graus de liberdade como, por exemplo, os graus de liberdade de rotação (para moléculas não esféricas) e de vibração (para moléculas não rígidas). Se o resultado acima for estendido a estes outros graus de liberdade, pode-se enunciar o teorema de equipartição de energia: A cada grau de liberdade de cada molécula, qualquer que seja a natureza do movimento correspondente, está associada uma energia ½ kT.
Calor
Tendo em vista a definição de calor dada acima, deve ficar claro que não são apropriadas as seguintes expressões, encontradas nos textos didáticos tanto do ensino médio quanto do ensino superior: calor do corpo, fluxo de calor e troca de calor.
1 cal = 4,185 J A caloria é definida como a quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de um grama de água de 14,5 0C para 15,5 0C.
Se o
processo de troca de energia entre um corpo e a sua vizinhança é causado por
diferença de temperatura e faz variar a temperatura do corpo, o processo é
chamado de calor sensível. c = Q / mDT O calor específico representa a quantidade de energia necessária para elevar de 1 0C a temperatura de 1 g da substância considerada. O calor específico depende da temperatura ao redor da qual a variação DT é medida. Mas, por questões didáticas, aqui se considera o caso em que o calor específico é constante no intervalo de temperatura que define DT. Exemplo Pela definição
de calor específico, o corpo de 8 litros de água perde uma quantidade de
energia:
O calor específico definido pela expressão Q = cm DT varia grandemente de uma substância para outra. Mas, tomando-se amostras com o mesmo número de partículas, isso não acontece. Por isso, define-se alternativamente a capacidade térmica molar: Cm = Q / nDT onde n é o número de mols da substância que compõe o corpo. Como exemplo, a tabela abaixo mostra calores específicos e capacidades térmicas molares para algumas substâncias metálicas sólidas ou líquidas à temperatura ambiente.
Capacidades Térmicas dos Gases
Então, define-se as capacidades térmicas molares a pressão constante e a volume constante, respectivamente, pelas expressões: Cmp = Qp / nDT
Pela primeira lei da termodinâmica, a variação da energia interna de um certo sistema por efeito da troca de uma quantidade Q de energia na forma de calor e de uma quantidade W na forma de trabalho é: DU = Q - W
Qp = DU + PDV = DU + nRDT e como, para um processo a volume constante, Qv = DU, segue-se que: Qp / nDT = Qv / nDT + R e daí: Cmp = Cmv + R Esta relação vale para gases ideais. De qualquer modo, para todas as substâncias, a capacidade térmica molar a pressão constante é sempre maior do que a capacidade térmica molar a volume constante, embora o valor da sua diferença dependa da substância em questão. Isto pode ser entendido levando-se em conta que, para a mesma quantidade de energia que é absorvida por um corpo, a temperatura se eleva mais no caso em que o volume do corpo permanece constante porque, então, o corpo não perde energia realizando trabalho contra a vizinhança. Pela expressão acima, calculando a capacidade térmica molar a volume constante de um gás com comportamento ideal pode-se obter a capacidade térmica molar a pressão constante desse mesmo gás. A capacidade térmica molar a volume constante pode ser calculada pela teoria cinética. A
quantidade de energia Q fornecida ao gás na forma de calor aumenta sua
energia interna de uma quantidade Q =
DU.
Se, nesse processo, o volume do gás permanece constante, pode-se escrever:
Gases de Moléculas Esféricas Para gases cujas moléculas podem ser consideradas esféricas, cada molécula tem três graus de liberdade de translação. A simetria esférica significa que não tem sentido falar na rotação da molécula e, sendo assim, não se pode considerar qualquer grau de liberdade de rotação. Então, a energia interna do gás deve ser dada por: U = 3N {
½ kT} =
N = nNa e Na = R / k. Então, como n e R são constantes: DU
= ou seja:
Cmp = 5R / 2
Cmv Cmp
Gases de Moléculas Biatômicas Para gases cujas moléculas são biatômicas e podem ser consideradas rígidas, cada molécula tem cinco graus de liberdade, três de translação e dois de rotação. Assim: e Cmp
= 7R / 2
Gases de Moléculas Poliatômicas Para gases cujas moléculas são poliatômicas e podem ser consideradas rígidas, cada molécula tem seis graus de liberdade, três de translação e três de rotação.
e Cmp
= 4R
Esses dados (em cal / mol 0C) valem para temperatura de 20 0C e pressão de 1 atm.
Para alguns gases biatômicos como o cloro, por exemplo, e para a maioria dos poliatômicos, os valores das capacidades térmicas molares são maiores do que os previstos. Isto significa que o modelo de molécula rígida não é apropriado, ou seja, mesmo a 20 0C, os choques intermoleculares causam vibrações nas moléculas e os correspondentes graus de liberdade devem ser levados em conta. Por outro lado, gases como o hidrogênio e o nitrogênio, que parecem se adaptar perfeitamente ao modelo de molécula rígida a essa temperatura, podem ter outro comportamento a temperaturas mais altas.
Cada átomo de um sólido tem seis graus de liberdade, três associados à energia cinética e três associados à energia potencial de interação com os átomos vizihos. Se o
teorema de equipartição da energia vale para um sólido a altas temperaturas,
vem: Cmv = 3R Esta última é a expressão matemática da lei de Dulong-Petit, que vale para sólidos a altas temperaturas.
Em outras palavras, as forças intermoleculares têm alcances muito curtos. Quando as
moléculas estão muito próximas umas das outras, elas se repelem e a
intensidade desta força de repulsão aumenta muito rapidamente à medida que
diminui a separação intermolecular.
Define-se gás ideal, termodinamicamente, como o gás cujas propriedades estão relacionadas pela equação PV = nRT e, cineticamente, como o gás cujas moléculas não interagem entre si e têm apenas energia cinética de translação. Os gases reais têm comportamento que se desvia do ideal.
A mais
conhecida equação de estado para gases reais é a equação de Van der Waals: onde a e b, chamadas constantes de Van der Waals, são parâmetros ajustáveis característicos de cada gás em particular. A tabela abaixo mostra os valores de a (em Jm3 / mol2) e b (em 10-5 m3 / mol ) para alguns gases.
A pressão P do gás é igual a pressão ideal P* menos um termo de pressão p associado a estas forças: P = P* - p. Este termo p deve ser proporcional ao número de moléculas junto à parede (p ~ n / V) e também proporcional ao número de moléculas do interior da massa gasosa que solicitam as moléculas de junto à parede (novamente p ~ n / V), onde n é o número de mols e V, o volume do recipiente que contém o gás. Assim, p ~ ( n / V )2 e pode-se escrever:
Em outras palavras, cada molécula do gás ideal tem a sua disposição
todo o volume do recipiente.
Assim:
Se essas amostras fossem consideradas como gases ideais, elas teriam a mesma pressão. Para o oxigênio e o vapor d’água, a constante a de Van der Waals vale, respectivamente, 0,1378 e 0,5507. Se as amostras fossem consideradas como gases de Van der Waals, pela expressão [1] se poderia concluir que o vapor d'água deveria ter a pressão menor.
A constante a de Van der Waals está associada às forças de atração entre as moléculas do gás e quanto mais alto o seu valor, mais intensas são essas forças. Numa reação química, algumas ligações químicas são quebradas nas moléculas reagentes e outras são formadas para constituir os produtos, envolvendo energias entre 50 e 100 kcal / mol ou entre 200 e 400 kJ / mol. As forças intermoleculares, que causam as atrações e repulsões entre moléculas sem quebra ou formação de novas ligações químicas, envolvem energias entre 0,5 e 10 kcal / mol ou entre 2 e 40 kJ / mol. As forças intermoleculares são essencialmente de natureza elétrica e estão relacionadas com as propriedades termodinâmicas das substâncias nas suas diferentes fases de agregação (líquida, sólida e gasosa). Na fase gasosa, as moléculas estão constantemente em movimento e muito separadas umas das outras. Na fase sólida, as moléculas estão muito próximas umas das outras e só podem se mover ao redor dos pontos que definem a rede cristalina. Na fase líquida, as moléculas estão próximas umas das outras mas podem se movem por distâncias maiores. A intensidade das forças intermoleculares de atração determina em que fase a substância se encontra para uma dada pressão e uma dada temperatura. O estado de uma dada amostra de substância muda quando muda sua temperatura ou pressão. A temperatura pode ser pensada como uma medida da energia média associada a cada grau de liberdade de cada molécula. Quanto mais energia é fornecida à amostra da substância considerada, mais aumenta a energia média associada a cada grau de liberdade e mais aumenta a sua temperatura. Com o aumento da energia das moléculas, mais elas tendem a se afastar umas das outras contra o efeito das forças intermoleculares de atração. Assim, se a pressão é mantida constante, a elevação da temperatura pode levar a substância da fase sólida para a fase líquida e da fase líquida para a fase gasosa. O aumento da pressão tem um efeito oposto porque, à medida que as moléculas se aproximam cada vez mais umas das outras, mais efetivas se tornam as forças de atração. Se a temperatura é mantida constante, o aumento da pressão pode levar a substância da fase gasosa para a fase líquida e da fase líquida para a fase sólida. Por outro lado, à medida que a magnitude das forças intermoleculares aumenta, mais energia é necessária para afastar as moléculas umas das outras. Para uma amostra de uma dada substância, as mudanças da fase sólida para a fase líquida e da fase líquida para a fase gasosa ocorrem às custas do fornecimento de certas quantidades de energia. Estas quantidades de energia estão diretamente relacionadas às intensidades das forças intermoleculares nas fases sólida e líquida. Como a energia interna está diretamente relacionada à temperatura, quanto mais intensas as forças intermoleculares mais altos serão os pontos de fusão e de ebulição.
A constante b de Van der Waals está associada às forças intermoleculares de repulsão, que se tornam importantes quando as moléculas estão muito próximas umas das outras. As principais contribuições a esse efeito vêm da repulsão eletrostática entre os elétrons e, para distâncias menores ainda, da repulsão entre os núcleos dessas moléculas. Essas forças intermoleculares de repulsão determinam a dificuldade de compressão de um líquido ou um sólido. Assim, indiretamente, a constante b está associada ao tamanho próprio das moléculas do gás.
Considere-se as moléculas como esferas rígidas de raio R e volume v, isto é, v = 4pR3 / 3. A distância de maior aproximação entre duas moléculas é 2R. Então, a metade do volume da região esférica de raio 2R deve ser igual ao volume excluído por molécula: v' = ½ [ 4p ( 2R )3 / 3 ] = 4v
onde Na é o número de Avogadro. As expressões acima permitem escrever, para o raio das moléculas: R = [ 3b / 16p Na ]1/3
b = 2,37 x 10-5 m3 / mol Pode-se estimar o raio dos átomos de He considerando-os como esferas rígidas. Então, pela expressão acima: R
A distância média percorrida por uma molécula entre duas colisões sucessivas é chamada livre caminho médio. À medida que o volume do recipiente cresce, com a temperatura constante, o livre caminho médio das moléculas se torna cada vez maior e as forças intermoleculares se tornam cada vez menos efetivas. À medida que a temperatura cresce, com o volume constante, a energia cinética média das moléculas cresce e as forças intermoleculares se tornam cada vez menos efetivas porque o tempo de colisão diminui. Assim, o comportamento de um gás real se aproxima do comportamento de um gás ideal para baixas pressões e/ou altas temperaturas. A alta compressibilidade de um gás é explicada pelos pequenos volumes próprios das moléculas relativamente ao espaço disponível para o seu movimento. A lei de Boyle-Mariotte e a lei de Charles valem para gases ideais. Em outras palavras, valem para um gás real na medida em que ele se comporta como ideal. Pela teoria cinética compreende-se que a pressão aumenta à medida que o volume diminui (lei de Boyle-Mariotte) porque as moléculas colidem com maior freqüência com as paredes do recipiente, e que a pressão aumenta com o aumento da temperatura (lei de Charles) porque a elevação da temperatura aumenta a velocidade média das moléculas e, com isso, aumenta tanto a freqüência das colisões com as paredes quanto as transferências de momentum (quantidade de movimento). O sucesso da teoria cinética mostra que a massa e o movimento são as únicas propriedades moleculares responsáveis pelas leis de Boyle-Mariotte e de Charles. No modelo cinético descrito acima, o volume próprio das moléculas é inteiramente desprezado comparado ao volume disponível para o seu movimento e, também, as forças coesivas entre as moléculas são consideradas sem efeito. Assim, os comportamentos dos gases reais que se desviam do comportamento predito pelas leis de Boyle-Mariotte e de Charles dão indicações da existência de forças entre moléculas de tamanho finito e de suas intensidades. Se for colocado em um gráfico PV / RT à temperatura constante, contra a pressão, a lei de Boyle-Mariotte fica representada por uma linha horizontal.
A forma das curvas para o oxigênio e o dióxido de carbono pode ser entendida do seguinte modo. As forças intermoleculares são efetivas quando as moléculas estão relativamente próximas umas das outras e ficam assim por um intervalo de tempo suficiente para que as forças atuem [deve-se lembrar que D(mv) = FDt]. Se as forças são efetivas, o resultado é que as moléculas chegam mais perto umas das outras do que no caso de não serem efetivas. A pressões baixas, as forças não são efetivas porque as moléculas estão muito afastadas. E a temperaturas elevadas, mesmo com altas pressões, as forças também não são efetivas porque as moléculas, movendo-se muito depressa, não permanecem um tempo suficiente próximas uma das outras. Para baixas temperaturas, à medida que a pressão é aumentada a partir de zero, as moléculas começam a ser comprimidas em volumes cada vez menores e as forças intermoleculares, tornando-se efetivas, agem de forma a tornar as moléculas mais próximas umas das outras. Assim, a densidade do gás cresce a uma taxa maior do que a taxa causada apenas pelo aumento da pressão. O produto da pressão pelo volume decresce porque o volume diminui mais rapidamente do que o aumento de pressão. Quando o volume próprio das moléculas começa a ficar importante frente ao volume disponível para o seu movimento, ocorre um efeito oposto. A medida que as moléculas são agrupadas em um volume cada vez menor, o seu volume próprio vai se tornando cada vez mais significativo em relação ao volume do recipiente e o espaço disponível para o seu movimento decresce. O dobro de moléculas, por exemplo, só podem ser espremidas no que é realmente menos da metade do volume apenas por uma pressão que é mais do que duplicada, e o produto PV cresce com a pressão. Deste modo, para pressões suficientemente altas e temperaturas suficientemente baixas, as forças coesivas assumem um papel dominante. Se elas são mais importantes do que as tendências cinéticas das moléculas, o gás pode perder suas propriedades características e se condensar num líquido ou um sólido.
Dada a isoterma de Van der Waals para uma certa temperatura, a correspondente isoterma real para a mesma temperatura e os correspondentes pontos de descontinuidade associados às transições de fase podem ser localizados pelo critério de Maxwell.
Q = W Por outro lado, para um processo reversível, a variação da entropia é dada por: DS = S [ DQ / T ] Então, para um processo cíclico reversível, DS = 0, e se a temperatura T for constante: S DQ = Q = 0 Como Q = W, segue-se que W = 0 para um processo cíclico reversível e isotérmico. O ciclo BECC*EB*B é isotérmico e reversível e, assim, o trabalho realizado, medido geometricamente pela correspondente área no diagrama P-V, deve ser nulo. Mas os ciclos EB*BE e EC*CE são descritos em sentidos opostos, de modo que as respectivas áreas associadas têm sinais contrários. Como a área total é zero, os valores absolutos das áreas destes dois ciclos devem ser iguais. Esse é justamente o critério de Maxwell.
As isotermas de Van der Waals são curvas contínuas. Portanto, não podem representar as transições de fase de vapor para líquido e de líquido para vapor, que se sabe serem transições descontínuas. Em outras palavras, a equação de Van der Waals não contempla diferenças estruturais entre líquidos e gases. Na temperatura de liquefação, por exemplo, a pressão deixa de aumentar com a redução do volume, enquanto existir líquido no sistema. A liquefação de um gás com uma diminuição isotérmica de volume, por exemplo, se dá da seguinte maneira.
Diminuindo o volume do sistema de VA até certo volume VB, a pressão aumenta até o valor PS. Em todos os estados da curva AB, a substância permanece na fase gasosa. Com a diminuição do volume a partir de VB, a pressão permanece constante em PS, mas começam a aparecer gotinhas de líquido no sistema. A quantidade de líquido vai aumentando até que o volume do sistema atinja o valor VC. Se no estado B toda substância está na fase gasosa, no estado C toda substância está na fase líquida. Como os líquidos são quase incompressíveis, posteriores reduções de volume a partir de VC só podem ocorrer com grandes aumentos de pressão. A pressão PS, correspondente aos estados sobre o segmento BC, se chama pressão de vapor do líquido ou pressão de saturação do vapor. A esta pressão e na temperatura T considerada, coexistem em equilíbrio as fases líquida e gasosa.
Os estados correspondentes aos pontos da curva B*C* são instáveis. Aqui, com o aumento da pressão, o volume cresce.
Pela mesma razão, um decréscimo infinitesimal de pressão leva a substância espontaneamente ao estado correspondente ao ponto C*. Os estados correspondentes aos segmentos BB* e C*C são metaestáveis e podem ser alcançados sob condições especiais. Os estados associados ao segmento BB* são estados de vapor supersaturado ou super-resfriado, com a substância totalmente na fase gasosa. Os correspondentes estados de equilíbrio a esta temperatura e para um volume dado correspondem ao sistema com parte da substância na fase líquida. Os estados correspondentes ao segmento C*C são estados de líquido superaquecido, com a substância totalmente na fase líquida. Os correspondentes estados de equilíbrio a esta temperatura e para um volume dado correspondem ao sistema com parte da substância na fase gasosa. Um estado de vapor supersaturado é observado, por exemplo, quando um vaso fechado com ar e vapor d'água é rapidamente resfriado, desde que tenham sido removidos todos os traços de poeira do ar e não existam cargas elétricas livres. Depois de algum tempo, apesar de tudo, aparecem gotinhas de líquido nas paredes do vaso, indicando que o vapor supersaturado se decompôs em vapor saturado e água.
Desenhando várias isotermas reais no plano P-V e unindo os pontos de descontinuidade, o resultado é a chamada curva de saturação.
Para temperaturas crescentes, os patamares correspondentes (BC, B*C*, etc.) são cada vez menores, terminando por se reduzir a um ponto, o ponto crítico (PC). Ao ponto crítico corresponde o estado crítico (PC, VC, TC) da substância em questão. Para temperaturas T > TC, não é mais possível liquefazer o gás, por maior que seja a pressão exercida sobre o sistema (mantendo a temperatura constante).
A isoterma crítica e a curva de saturação dividem o plano P-V em quatro regiões cujos pontos representam estados de gás, de vapor seco, de líquido e de mistura heterogênea de líquido com vapor saturado em equilíbrio. O plano P-V assim dividido é o que se chama de diagrama de fases.
O calor latente é definido por:
Sendo Q1 a energia absorvida pelo gelo na mudança de fase e Q2 a energia absorvida pela água a 0 0C ao ser aquecida até 25 0C, vem:
Condução Condução é o processo de transferência de energia através de um meio material, mas sem transporte de matéria, por efeito de uma diferença de temperatura.
Condutividade Térmica
Devido à diferença de temperatura, existe transferência de energia de P1 para P2.
Q / ADt = - kDT / Dx O sinal negativo expressa o fato de que a energia flui sempre da região de maior temperatura para a de menor temperatura, ou seja, o fluxo de energia Q / ADt é positivo na direção em que a temperatura diminui. A
constante de proporcionalidade positiva k, característica do meio, é chamada
condutividade térmica.
Embora os tecidos das roupas e cobertores sejam maus condutores (ou seja, isolantes térmicos), é principalmente o ar entre as camadas de tecido que impede o corpo de perder energia na forma de calor.
A Maçaneta e a Porta
No equilíbrio térmico, a maçaneta e a prancha têm a mesma temperatura, que se supõe seja menor do que a temperatura das mãos. A maçaneta, sendo metálica, é melhor condutora de energia do que a prancha de madeira. Assim, no mesmo intervalo de tempo, a mão que toca a maçaneta perde mais energia do que a mão que toca a prancha. E quanto às sensações térmicas, a maçaneta parece mais fria do que a prancha de madeira.
No regime estacionário e desprezando a perda de energia através da superfície lateral da barra, a variação da temperatura com a posição ao longo da barra (eixo x) é constante. Então, a temperatura de qualquer ponto da barra não depende do tempo t, mas só de sua posição ao longo da barra. E tomando dois pontos separados por uma pequena distância Dx e cujas temperaturas diferem por um pequeno DT, pode-se escrever:
e
Convecção A convecção ocorre tipicamente nos fluidos.
Se uma certa porção do fluido é aquecida, sua densidade diminui pelo aumento do volume e, com isso, eleva-se em relação ao resto da massa de fluido porque o módulo do empuxo fica maior do que o módulo do seu peso. Uma porção de fluido da vizinhança, numa temperatura mais baixa, ocupa o espaço deixado e sendo, por sua vez, aquecido, também se eleva.
Isso se repete com outras porções de fluido e aparece, na massa total
do fluido, correntes de convecção. Posição do Congelador No interior dos refrigeradores domésticos, o congelador esté posicionado no alto. O ar na sua vizinhança, estando a uma temperatura mais baixa, é mais denso e, por isso, se movimenta para baixo, originando correntes de convecção.
Radiação Embora todas as radiações do espectro eletromagnético transportem energia, as radiações infravermelhas, em particular e por motivos históricos, são chamadas ondas de calor. Um meio material pode ser opaco para uma determinada radiação e transparente para outra. O vidro comum, por exemplo, é transparente à luz (radiação eletromagnética visível) e opaco às radiações infravermelhas.
Efeito Estufa
As radiações eletromagnéticas na porção visível do espectro carregam cerca de 43% da energia total proveniente do Sol. As radiações eletromagnéticas na porção infravermelha carregam cerca de 49% e as radiações eletromagnéticas na porção ultravioleta carregam cerca de 7% dessa energia. A atmosfera absorve as radiações nas porções infravermelha e ultravioleta e deixa passar as radiações na porção visível do espectro. Estas radiações chegam, portanto, até a superfície terrestre (oceanos, solo e vegetais), onde são absorvidas. Com a absorção das radiações na porção visível do espectro pela superfície terrestre, a temperatura dessa superfície aumenta e ela, por sua vez, passa a emitir, para a atmosfera, radiações eletromagnéticas na porção infravermelha. As moléculas da atmosfera que absorvem as radiações eletromagnéticas na porção infravermelha, tanto aquelas provenientes diretamente do Sol quanto aquelas provenientes da superfície terrestre, re-emitem essas radiações em todas as direções. Assim, a radiação emitida para o espaço exterior é reduzida e a temperatura da superfície terrestre e da camada da atmosfera mais próxima é mantida em níveis apropriados para a existência da vida. Essas absorções, emissões e re-absorções, pela atmosfera, das radiações eletromagnéticas na porção infravermelha do espectro, responsáveis pela permanência de certa quantidade de energia na atmosfera, é o que se chama de efeito estufa. Na verdade, não são todos os gases da atmosfera que participam do efeito estufa. Não participam, por exemplo, os gases mais abundantes, o oxigênio (O2) e o nitrogênio (N2). Participam, sim, principalmente o dióxido de carbono (CO2), o vapor d'água (H2O), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
Quando a temperatura de um sólido varia, ocorrem variações de comprimento em todas as suas dimensões. Essas variações de comprimento dependem da variação da temperatura, da forma do sólido e da substância de que ele é feito.
Dilatação Linear
Seja uma das dimensões de um sólido, de comprimento L0 à temperatura T0 e comprimento L à temperatura T. Assim, DL = L - L0 representa a variação de comprimento e DT = T - T0, a variação de temperatura. A lei da dilatação linear diz que DL / DT é proporcional a L0 e se pode escrever: DL / DT = a L0 Esta expressão define o coeficiente de dilatação linear a, associado à substância de que é feito o sólido em questão. Daí:
Com o sólido numa temperatura T1, a energia de cada par de átomos é E1 e, nessas condições, um átomo oscila em relação ao outro com amplitude A1.
Com o aumento da temperatura do sólido de T1 para T2, a energia de cada
par de átomos aumenta para E2 e um átomo passa a oscilar em relação ao outro
com amplitude maior A2. Paralelamente a esse aumento na amplitude das oscilações atômicas, a distância média entre os átomos aumenta, passando de r1 para r2, por efeito da assimetria da curva que representa a energia potencial de interação em função da distância entre átomos adjacentes. Este último fator é que é o responsável pela dilatação.
De modo análogo ao coeficiente de dilatação linear, pode-se definir o coeficiente de dilatação superficial, b, e o coeficiente de dilatação volumétrico, g. Nos sólidos isotrópicos, a variação percentual no comprimento é a mesma em todas as direções e se tem, com muito boa aproximação:
b
g
Para mostrar que
b Desta forma, A0 = L10L20 e A = L1L2. Usando L1 = L10 ( 1 + a DT ) e L2 = L20 ( 1 + a DT ), vem:
e daí,
b
Para mostrar que
g
Aquecendo-se a esfera, ela se dilata e não pode mais atravessar o orifício. Aquecendo-se não a esfera, mas a chapa metálica, esta se dilata, aumentando, também, o diâmetro do orifício. Desse modo, a esfera atravessa o orifício com folga.
Este site foi atualizado em 04/03/19 |