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O que mantém as
moléculas unidas nos estados líquido e
sólido? Que força faz a água, contrariando a
gravidade, subir desde a raiz até o topo da árvore
mais alta? Como
alguns insetos podem andar sobre a água? Por
que o DNA tem a
configuração em forma de hélice? Portal de
Estudos em Química apresenta:
Forças
Intermoleculares
Todos
os objetos ao nosso redor são feitos de átomos.
Estes átomos, algumas vezes, combinam-se e formam
moléculas: são unidos através da formação de
ligações covalentes. Em outras palavras, alguns
elétrons, que antes estavam em orbitais atômicos
passam a formar orbitais moleculares. Mas as
moléculas são discretas: a água, por exemplo,
consiste em pequenos grupos de 3 átomos, sendo um do
elemento oxigênio que liga-se a dois átomos de
hidrogênio. A ligação covalente, entretanto, é
intramolecular: apenas une os átomos que formam a
molécula. O que impede, entretanto, que todas as
moléculas em um copo de água se difundam pelo meio,
instantaneamente, deixando o copo vazio? O que
mantém elas unidas? Como elas formam um objeto
sólido, compacto, quando resfriadas?
As forças que existem entre as moléculas - forças
intermoleculares - não são tão fortes como as
ligações iônicas ou covalentes, mas são muito
importantes; sobretudo quando se deseja explicar as
propriedades macroscópicas da substância. E são
estas forças as responsáveis pela existência de 3
estados físicos. Sem elas, só existiriam gases.
Biografia
|

Johannes Diederik
van der Waals
Nasceu: Novembro 23, 1837,
Leiden, Neth.
Morreu: Março 9, 1923,
Amsterdam
Um físico alemão que, em
1910, recebeu um prêmio Nobel em
Física pela sua pesquisa com os
estados gasoso e líquido da matéria.
Seu trabalho possibilitou o estudo
de temperaturas próximo ao zero
absoluto.
Um auto-didata, Waals ingressou na
Universidade de Leiden, e em 1873
escreveu uma tese de doutorado
entitulada "Sobre a Continuidade do
Estado Líquido e Gasoso".
Ele observou que a equação geral dos
gases ideais não correspondia ao
observado em gases reais. O erro era
assumir que, segundo a teoria
cinética dos gases ideiais, não
existissem forças atrativas e/ou
repulsivas entre as partículas do
gás e que o volume de cada partícula
era zero. Waals levou estes erros em
conta e introduziu, em 1881, à
famosa equação PV=nRT mais dois
parâmetros, relacionados ao tamanho
e às forças intermoleculares. Ele
reescreveu a equação dos gases
ideiais e publicou uma nova equação,
conhecida como equação de van der
Waals para os gases reais.
Foi este trabalho que lhe garantiu o
Prêmio Nobel, e que também permitiu
James Dewar e Heike K. Onnes
alcaçarem a liquefação do gás
hidrogênio e hélio.
Em 1877, van der Waals começou a
trabalhar como professor de física
da Universidade de Amsterdam, posto
que ocupou até 1907. As forças
intermoleculares são também chamadas
de forças de van der Waals, em sua
homenagem. |
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Aprendemos, desde o ensino médio, a descrever um gás
pela equação PV=nRT. Esta, entretanto, é uma
equação que funciona bem somente para gases ideais -
gases idealizados, que não existem na realidade, e
obedecem a todos os postulados da teoria cinética
molecular para os gases ideais. Gases formados por
partículas sem tamanho e sem atração ou repulsão
entre si. Um gás ideal nunca se liquefaz.
Entretanto, basta baixar a temperatura e/ou aumentar
a pressão sobre um gás real que este logo passa para
o estado líquido. O físico alemão van der Waals
corrigiu esta equação em 1881, incorporando dois
parâmetros: um deles que lida justamente com as
interações intermoleculares.
A
equação de van der Waals
|
Em 1873, J.D. van der Waals propôs
sua equação. No gás real, a pressão
é menor do que a prevista pela lei
ideal: culpa das forças atrativas
intermoleculares. Por isso, a
pressão é corrigida pela expressão
a/V 2 .
Da mesma forma, moléculas reais tem
volume. O termo b é uma função do
diâmetro esférico da molécula do
gás, conhecido como diâmetro de van
der Waals. Para 1 mol de gás (n=1),
a equação é:
E, para n moles de gás, a equação
genérica é:
Abaixo estão alguns valores para
a e b de alguns gases.
Observe como os gases hidrogênio,
hélio e neônio apresentam valores
muito próximos a zero. Isto porque
eles quase não exibem interações
intermoleculares no estado gasoso -
seu comportamento é quase ideal.
Gás |
a |
b |
H
2 |
0.2444 |
0.02661 |
O
2 |
1.360 |
0.03183 |
N
2 |
1.390 |
0.03913 |
CO
2 |
3.592 |
0.04267 |
Cl
2 |
6.493 |
0.05622 |
Ne |
0.2107 |
0.01709 |
He |
0.03412 |
0.02370 |
|
|
As forças intermoleculares têm origem eletrônica:
surgem de uma atração eletrostática entre nuvens
de elétrons e núcleos atômicos. São fracas, se
comparadas às ligações covalentes ou iônicas. Mas
forte o suficiente para sustentar uma lagartixa no
teto da sala (veja quadro).
As
forças de van der Waals, como também são
conhecidas as forças intermoleculares, podem surgir
de 3 fontes. Em primeiro, as moléculas de alguns
materiais, embora eletricamente neutras, podem
possuir um dipolo elétrico permanente. Devido a
alguma distorção na distribuição da carga elétrica,
um lado da molécula e ligeiramente mais "positivo" e
o outro é ligeiramente mais "negativo". A tendência
é destas moléculas se alinharem, e interagirem umas
com as outras, por atração eletrostática entre os
dipolos opostos. Esta interação é chamada de
dipolo-dipolo.
Em
segundo, a presença de moléculas que tem dipolos
permanentes podem distorcer a distribuição de carga
elétrica em outras moléculas vizinhas, mesmo as que
não possuem dipolos (apolares), através de uma
polarização induzida. Esta interação é chamada de
dipolo-dipolo induzido.
E, em terceiro, mesmo em moléculas que não possuem
momento de dipolo permanente (e.g., no gás nobre
neônio ou no líquido orgânico benzeno) existe uma
força de atração (do contrário nem o benzeno ou
neônio poderiam ser liquefeitos).
A
natureza destas forças requer a mecânica quântica
para sua correta descrição, mas foi primeiramente
reconhecida pelo físico polonês Fritz London,
que relacionou-as com o movimento eletrônico nas
moléculas. London sugeriu que, em um determinado
instante, o centro de carga negativa dos elétrons e
de carga positiva do núcleo atômico poderia não
coincidir. Esta flutuação eletrônica poderia
transformar as moléculas apolares, tal como o
benzeno, em dipolos tempo-dependentes, mesmo que,
após um certo intervalo de tempo, a polarização
média seja zero. Estes dipolos instantâneos não
podem orientar-se para um alinhamento de suas
moléculas, mas eles podem induzir a polarização das
moléculas adjacentes, resultando em forças
atrativas. Estas forças são conhecidas como
forças de dispersão
(ou forças de London), e estão presentes em
todas as moléculas apolares e, algumas vezes, mesmo
entre moléculas polares.
Lagartixa van der Waals
|
Uma
dúvida cruel tem atormentado muitos
cientistas:
como, de fato, a lagartixa consegue
caminhar pelas paredes, mesmo
no teto?
Alguns sugeriram que suas patas
possuissem microventosas.
Entretanto, todas as tentativas de
se provar a existência de tais
ventosas falharam: as lagartixas
possuem tal comportamento mesmo sob
vácuo ou sobre uma superfície muito
lisa e molhada.
Em 1960, o alemão Uwe Hiller sugeriu
que um tipo de força atrativa, entre
as moléculas da parede e as
moléculas da pata da lagartixa,
fosse a responsável. Hiller sugeriu
que estas forças fossem as forças
intermoleculares de van der Waals.
Tudo bem que elas mantenham
moléculas unidas, mas... uma
lagartixa? Poucos deram crédito à
sugestão de Hiller. Até que, em um
exemplar recente da
revista Nature,
Autumn escreveu o artigo "Full,
Adhesive force of a single gecko
foot-hair" (Autumn, K. et al.,
Nature 405, 681-685 (2000)),
trazendo evidências de que, de fato,
são forças intermoleculares as
responsáveis pela adesão da pata da
lagartixa à parede. Mais
precisamente entre a superfície e as
moléculas dos "setae", pelos
microscópicos que cobrem as patas
das lagartixas. |
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Algumas moléculas, entretanto, exibem um tipo
especial de interação dipolo-dipolo. É o caso da
água: olhe atentamente para a figura abaixo.
A temperatura de ebulição do
hidreto de oxigênio é muito diferente de todos os
outros hidretos dos elementos da família do oxigênio.
Exceto a água, todos parecem seguir uma regra de que
quanto menor a massa molecular, menor é a
temperatura de ebulição. Por esta regra (que parece
ser obedecida na família do carbono), a água deveria
ser, à temperatura ambiente, um gás, com uma
temperatura de ebulição bem abaixo de 0
o C. Todos sabemos que, na
verdade, a água é um líquido com ponto de ebulição
de +100ºC!

A água, portanto, deve possuir um tipo de interação
diferenciado. O que acontece é que os hidrogênios
ligados ao oxigênio é que formam o lado "positivo"
do dipolo permanente desta molécula. O átomo de
hidrogênio é formado por apenas um próton e um
elétron. Como o elétron é fortemente atraído pelo
oxigênio, na água, este próton encontra-se
desprotegido. A água possui, então, um dipolo
bastante forte, com uma das cargas (positiva)
bastante localizada.
Este
próton pode interagir com as regiões negativas (o
oxigênio) de outras moléculas de água, resultando em
uma forte rede de ligações intermoleculares. Esta
interação é chamada de
ligação hidrogênio, e ocorre entre átomos
de hidrogênio ligados a elementos como o oxigênio,
flúor ou nitrogênio, com átomos de O, N ou F de
outras moléculas. Esta interação é a mais intensa
de todas as forças intermoleculares.
Como
consequência das fortes interações intermoleculares,
a água apresenta algumas propriedades especiais.
Alguns insetos, por exemplo, podem andar sobre ela.
Uma lâmina de barbear, se colocada horizontalmente,
também flutua na água. Isto deve-se à tensão
superficial da água: uma propriedade que faz com
o líquido se comporte como se tivesse uma
membrana elástica em sua superfície. Este
fenômeno pode ser observado em quase todos os
líquidos, e é o responsável pela forma esférica de
gotas ou bolhas do líquido. A razão é que as
moléculas de água interagem muito mais fortemente
com suas vizinhas do que com as moléculas do ar, na
interface. As moléculas que estão no interior da
gota, por exemplo, interagem com outras moléculas em
todas as direções; as moléculas da superfície, por
outro lado, interagem somente com moléculas que
estão nas suas laterais ou logo abaixo.
Este
desbalanço de forças intermoleculares faz com
que estas moléculas, da superfície, sejam atraídas
para o interior do líquido. Para se remover estas
moléculas da superfície é necessário uma certa
quantidade mínima de energia - a tensão superficial.
Para a água, isto corresponde a 0,07275 joules/m
2 , a 20 o
C. Líquidos orgânicos, como o benzeno ou o tolueno,
tem valores menores de tensão superficial, já que
suas interações intermoleculares são mais fracas.

Todos sabemos que a água possui outra propriedade
anômala: o gelo bóia sobre a água líquida.
Isto porque a densidade do estado sólido, na água, é
menor do que no estado líquido. As ligações
hidrogênio, no estado sólido, conferem à água uma
organização reticular quase cristalina, com um
maior espaço entre as moléculas, ou seja, uma menor
densidade. A maioria das outras substâncias tem um
maior grau de compactação - uma maior densidade - no
estado sólido.
ligação |
força |
magnitude
(KJ/mol) |
química
|
covalente
iônica
|
100-1000
100-1000
|
intermolecular
|
íon-dipolo
dipolo-dipolo
Dispersão
ligação-H
|
1-70
0.1-10
0.1-2
10-40
|
|
As forças intermoleculares são também responsáveis
pelas diferenças nas temperaturas de ebulição
de vários isômeros constitucionais orgânicos, isto
é, moléculas orgânicas que possuem a mesma fórmula
molecular (e, por consequência, a mesma massa molar)
mas tem pontos de ebulição normal diferentes. O
ponto de ebulição de um líquido é definido como
sendo a temperatura na qual a pressão de vapor
exercida pelo líquido se iguala à pressão externa. A
água, ao nível do mar, tem uma pressão de vapor
igual a 1,00 atm somente a 100
o
C. É lógico se assumir que quanto mais forte for a atração entre
as moléculas, isto é, quanto maior forem as forças
intermoleculares, maior também será a temperatura
necessária para a ebulição do líquido.
Observe, como exemplo, os dois isômeros para a
fórmula C
5 H 12 , o n-pentano e
o neo-pentano, ilustrados na figura ao lado. Ambas
as moléculas não possuem dipolo permanente - são
apolares. Então, ambas interagem, entre si, via
forças de dispersão (london). Mas o que faz com
que o n-pentano tenha uma temperatura de ebulição
bem maior do que o neo-pentano? Observe que, à
temperatura ambiente, o n-pentano é um líquido,
enquanto que o outro isômero é um gás!
Este caso ilustra uma propriedade das interações
intermoleculares: quanto maior for a área de
contato entre as moléculas, maior é a interação.
No caso no neo-pentano, a interação é dificultada
devido ao impedimento espacial provocado pelo grupos
-CH3 . A polarização induzida
ocorre mais intensamente no caso da cadeia linear.
Uma
outra propriedade pode ser observada se
acompanharmos a temperatura de ebulição dos
compostos ao lado. O éter dimetílico, embora possua
a maior massa molar, é o que tem a menor Te (é um
gás, à temperatura ambiente). Tanto o metanol como a
água são líquidos, embora tenham massa molar
menores. A água, a molécula mais leve da série,
tem a maior temperatura de ebulição. Isto porque
a água e o metanol interagem via ligação hidrogênio
- a mais forte das interações intermoleculares,
enquanto que o éter interage via dipolo-dipolo - não
possui hidrogênios ligados ao oxigênio. A água
possui dois hidrogênios ligados ao O - o que explica
a sua maior temperatura de ebulição, em relação ao
metanol, que possui apenas um.
Como vemos, a substituição dos hidrogênios da
água por grupos -CH3
leva a compostos com menor temperatura de ebulição.
Biografia
|

Fritz Wolfgang
London
Nasceu: Março 7, 1900,
Breslau, Alemanha.
Morreu: Março 30, 1954,
Durham, EUA.
London foi educado nas universidades
de Bonn, Frankfurt, e Göttingen. Em
Munich obteve seu Ph.D., em 1921.
Ele fo um pesquisador do instituto
Rockfeller em Zurique e um professor
na Universidade de Berlin. Entre
1933 a 1936 ele trabalhou na Oxford
University e, então, se tornou o
diretor de pesquisa da Universidade
de Paris.
Em 1939, London imigrou para os
Estados Unidos, onde se tornou
professor de química teórica na Duke
University, em Durham, N.C.. Em
1945, se tornou um cidadão
norte-americano. Entre suas
publicações, destacam-se dois
volumes sobre Superfluídos (1950 e
1954).
A teoria das ligações entremoléculas
apolares marcou o início do
tratamento moderno de mecânica
quântica da molécula de hidrogênio,
e é considerado um dos mais
importantes avanços na química
moderna.
Juntamente com seu irmão, Heinz
London, ele desenvolveu a teoria
fenomenológica da
supercondutividade, providenciando
uma nova fundação na compreensão das
forças intermoleculares e clareando
a conexão entre fenômenos quânticos
e muitos dos fatos intrigantes da
química.
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Todas as proteínas que compõe o nosso organismo são
constituídas por sequências de aminoácidos, ligados
covalentemente. Estes compostos possuem grupos -OH e
-NH capazes de formar uma forte rede de ligações
intermoleculares. É isto que confere a estrutura
terciária das proteínas, isto é, a sua forma
característica de orientação espacial. Um outro
exemlo é o DNA de todos os humanos: sua forma de
dupla-hélice - é mantida graças às ligações
hidrogênio entre os grupos dos -OH e -NH das bases
nitrogenadas heterocíclicas que o compõe: GCAT.

Os
compostos orgânicos polares exibem, em geral, uma
solubilidade significativa em água. O açúcar é um
exemplo: é muito solúvel em água. Isto deve-se à
capacidade que as moléculas de água têm de interagir
com as moléculas da sacarose. A solubilização
também é um fenômeno regido pelas interações
intermoleculares: entre as moléculas do soluto e
as moléculas do solvente.
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Na natureza, existem alguns
fenômenos
que contrariam nosso senso comum.
O
Portal de Estudos em Química trás neste
artigo um desses fenômenos intrigantes da natureza que
os químicos explicam recorrendo as estruturas diminutas,
como moléculas e átomos.
Vamos descobrir as razões disso
juntos?
Com vocês, as
pontes de hidrogênio! |
O experimento que iremos
propor é como aquelas "histórias de pescador": difícil de
acreditar :). Pois imaginem que existem casos
que 1+1
não é 2 não!
Estamos no mundo das moléculas e esse nos reserva surpresas
impressionantes. Entretanto, para começarmos o assunto, se
faz necessária a revisão de alguns conceitos importantes, os
quais são apresentados na seqüência, com o objetivo de
assegurar uma discussão frutífera sobre este fantástico
fenômeno que este artigo trata.
A solubilidade de
substâncias se dá em função de uma
afinidade
eletrônica
existente entre as espécies em um sistema. Essa afinidade
eletrônica pode ser expressa na famosa frase:
"semelhante dissolve
semelhante". A
questão é: semelhante em que aspecto? Para responder essa
pergunta, devemos fazer uma análise da estrutura molecular
das substâncias envolvidas.
Animação 01 - Pontes de
hidrogênio e a solubilidade.
Um cubo de
açúcar contém muitas moléculas e elas são
mantidas unidas pelas pontes de hidrogênio
(imagem a esquerda). Quando um cubo de açúcar
dissolve, cada molécula permanece intacta. A
molécula estabelece pontes com as moléculas de
água (animação piscando em vermelho) e desfaz as
pontes com as outras moléculas de açúcar. Por
outro lado, o sal em solução transforma-se em
íons (imagem a direita), como o cátion Na+
e o ânion
Cl-.
A solubilidade dessas substâncias só é possível
devido a afinidade eletrônica existente entre o
soluto (açúcar e o sal) e o solvente (a água).
Existem
basicamente dois meios de substância no que diz
respeito a polaridade:
polares e
apolares.
O termo "polar" nos dá a idéia de opostos, onde
um dado ponto é negativo e o outro é positivo.
Isso é resultado da diferença de contribuição na
ligação entre elementos químicos diferentes.
O mais eletronegativo atrai para perto de si
o par de elétrons
que estabelece a ligação com o outro átomo. Um
exemplo de substância polar é água, considerada
um solvente universal.
Sempre que
fizemos referência da solubilidade de uma
substância em outra, devemos sempre fazer uma
observação quando as propriedades de estados do
sistema, como pressão e temperatura por exemplo.
Em condições ambientes de temperatura e
pressão, (temperatura de 25°C ou 298,15K e
pressão de 1 atm ou 101,325 kPa no SI) a água
tem o comportamento visto no parágrafo anterior
mas, é sabido que em condições extremas, a água
pode assumir um caráter de "fluído
supercrítico",
capaz de misturar-se completamente com a maioria
dos solventes apolares dentre outras aplicações
interessantes (veja mais sobre o assunto nas
indicações de leitura no final do artigo).
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Linus Carl
Pauling (1901-1994)
foi um brilhante
químico e também um
pacifista. Suas contribuições para a Química foram
inúmeras, dentre as quais
podemos destacar os trabalhos teóricos sobre as
ligações químicas,
a elucidação da
geometria molecular das
proteínas
e
a
elaboração
do
conceito de
eletronegatividade
o qual é
|
 |
ainda utilizado.
Dois de seus livros (General Chemistry e The nature
of Chemical bond) são considerados clássicos da
literatura química. A fórmula utilizada por Pauling
para calcular as eletronegatividades XA e
XB de dois átomos A e B é baseada na
energia envolvida na formação (energia de ligação)
das moléculas AB, A2 e B2, por
meio da reação:
A2 + B2
--> 2AB

em que /\E
representa a variação de energia envolvida na
formação da molécula AB. para evitar valores
negativos de eletronegatividade, Pauling atribuiu
arbitrariamente um valor para a eletronegatividae
de hidrogênio e calculou, em relação a esse valor, a
eletronegatividade dos outros elementos.
Veja mais sobre Linus
Pauling em:
http://www.nobel.se |

Figura 01 - Gradiente
de polaridade da molécula de água |
Quando falamos
em polaridade, não podemos pensar em pólos pontuais,
mas sim devemos imaginar um gradiente de
distribuição de carga (ver figura 01), pois
estamos falando de interações eletrostáticas de
nuvem
eletrônica.
O termo "nuvem eletrônica" é utilizado devido ao
caráter probabilístico dos orbitais, os quais estão
em harmonia com a mecânica quântica, teoria que
explica o comportamento de entidades muito pequenas,
como partículas subatômicas.
Como dissemos,
a polaridade da ligação, ou seja, o deslocamento da
nuvem eletrônica para um átomo de forma heterogenia
em relação ao outro é explicada pela propriedade
denominada
eletronegatividade,
a qual é diferente para cada elemento químico. Cada
elemento tem uma determinado valor de
eletronegatividade (veja figura 04), a qual
podemos relacionar com a "tendência
que um átomo possui de atrair elétrons para perto de
sim, quando se encontra "ligado" a outro átomo de
elemento químico diferente, numa substância composta".
Mas não é somente a diferença de eletronegatividade
que irá dar subsídios para a classificação de uma
molécula em polar ou apolar, mas sim a análise deste
último aspecto em conjunto com a
conformação dos átomos
da molécula. Usa-se a soma dos vetores
m
para sabermos se uma dada molécula é polar ou apolar
(veja figura 02) |
No caso da molécula de
água, temos a presença de dois pares de elétrons não
ligantes ou livres (ver figura 03), responsáveis pela forma
em "V" da água. Sendo assim, caso fossemos somar os vetores
das ligações, constataríamos que a molécula é polar, ou
seja, a resultante da
soma dos vetores
é diferente de zero.

Figura 03 - par de
elétrons livres
do oxigênio
Imaginando os
pares de elétrons não ligantes como outros "H"
ligados ao oxigênio, a repulsão chega a um valor
104°5' (veja figura 05). Perceba que o ângulo
é um pouco menor do que configuração tetraédrica do
gás metano (109°28") por exemplo, devido ao fato da
repulsão de elétrons livres ser maior que a repulsão
de elétrons estabelecendo uma ligação com outro
átomo. |

Figura 02 - Soma dos
vetores m
na molécula de
água.

Figura 04 - Escala de eletronegatividade |

Figura 05 - Ângulo das ligações da molécula de água |
Tendo esse caráter, a
água é um excelente solvente polar
para compostos orgânicos polares de baixo peso
molecular, como o metanol, etanol, ácido fórmico,
ácido acético, dentre outros. Possuindo um dipolo
bastante acentuado, atrai por eletrostática o dipolo
da outra molécula, de forma a potencializar a
solubilização. Porém, essas moléculas orgânicas
possuem uma parte polar, solúvel em água e uma parte
apolar, insolúvel em água. A medida que aumenta-se o
número de carbonos no grupo dos álcoois e ácidos
carboxílicos por exemplo,
a
solubilidade, em meio aquoso vai diminuindo.
É por isso que quando misturamos água com, por
exemplo, butanol, constituído de 4 carbonos, a
solubilidade em água diminui bastante, aparecendo
claramente
duas
fases
distintas indicando que as substâncias não são
completamente miscíveis, mas sim parcialmente. |
As ligações
intermoleculares

Figura 06 - Regra do FON
|
Vimos que a água é
um ótimo solvente polar e, para compostos orgânicos
polares de baixo peso molecular, também é um bom
solvente. As ligações estabelecidas entre a água e o
composto orgânico gera um fenômeno muito interessante, o
qual pode ser realizado sem muitos equipamentos
específicos de um laboratório.
Podemos notar na figura 07
que tanto o etanol como o ácido propanóico possuem no
mínimo uma ligação
acentuadamente
polar em suas
moléculas, de forma a potencializar uma solubilidade em
meio aquoso. No caso do álcool, a parte apolar não
possui influência negativa na solubilidade em meio
polar, já o ácido propanóico, com sua parte da molécula
apolar, compromete a solubilidade total de composto em
água. Mesmo assim,
perceba que o
número de
pólos no ácido é maior do que no etanol
e esse fato será muito importante para
o experimento que será
realizado a seguir.
Foi feito
referência a uma ligação acentuadamente
polar no parágrafo anterior devido ao fato que
nem toda
ligação polar é passível de ser uma ponte de hidrogênio.
Conforme a figura 06, podemos ver que há um aumento da
eletronegatividade em direção ao Flúor, o
elemento mais eletronegativo da tabela periódica. O
Flúor, Oxigênio e o Nitrogênio são os elementos que,
juntamente como H, estabelecem a ligação acentuadamente
polar, a qual também é conhecida como "regra do FON",
ligação esta responsável por diversos fenômenos
interessantes da água. |
 
Figura 07 - Polaridades
nas moléculas
de ácido propanóico e do
etanol
Veja que no caso
do etanol (função álcool), há a possibilidade de
formação de apenas uma ponte de hidrogênio, devido a
existência de apenas uma situação de dipolo na molécula.
Já no ácido propanóico, podemos notar um par de dipolos
na molécula, fenômeno esse que irá proporcionar a
explicação de alguns resultados que serão obtidos no
experimento proposto em seguida. Apesar do ácido
propanóico não ser completamente solúvel em água, a
análise da parte "polar" da molécula nos ajudará a
compreender o que acontece com outro ácido, o ácido
etanóico ou mais conhecido como ácido acético. |
Um comportamento
excepcional da água está representado na figura 07,
comparando-se os pontos de ebulição de substâncias
moleculares semelhantes. Podemos notar que, caso a água
mantivesse a linearidade do gráfico, sendo essa
linearidade ditada pela massa molecular dos compostos da
mesma família, teria um ponto de ebulição próximo de
-100 C!. Caso isso fosse verdade, a
Terra não teria
lagos, rios ou oceanos, e a água existiria na Terra
somente no estado gasoso,
mesmo nos pólos do Norte e Sul! Ao contrário da água, o
sulfeto de hidrogênio, bem como H2Se e o H2Te,
são incapazes de formar ligações intermoleculares
fortes. Ligações de hidrogênio, de forma apreciável, só
são encontradas nas moléculas que contêm os elementos
mais eletronegativos, como o flúor, o oxigênio e o
nitrogênio. As propriedades das substancias com ligação
H-X de polaridade elevada, semelhante à da água, como a
amônia e o fluoreto de hidrogênio, são também
influenciadas pelas ligações de hidrogênio, e muitas de
suas propriedades, nos estados sólidos e líquidos,
resultam das interações dipolo-dipolo entre suas
moléculas.
|

Figura 08 - Ponto de
ebulição dos elementos da família 16 da tabela periódica
ligados ao hidrogênio. |
ligação |
força |
magnitude
(KJ/mol) |
|
|
|
|
íon-dipolo
dipolo-dipolo
Dispersão
ligação-H
|
|
|
Perceba que os
termos "ponte de hidrogênio" e "ligação de
hidrogênio" são utilizados de forma indistinta. Isso
deve-se ao fato de considerarmos a ponte de hidrogênio
praticamente uma ligação química entre átomos, devido a
sua grande energia (veja tabela ao lado). Em um extremo,
temos ligações covalentes ou iônicas que, quando se
formam, representam grandes variações de energia. Já a
ponte de hidrogênio está no meio da escala, sendo que o
outro extremo é representado pelas interações
intermoleculares de menor energia, como as "Dispersão
de London", por exemplo. Neste trabalho, o termo
"ligação" é usado para descrever qualquer interação
de dois átomos, que resulta na formação de uma estrutura
interatômica mensurável e nitidamente definida.
|
Há uma clara
variação do volume da mistura
entre a água e um dos
compostos orgânicos citados durante esse trabalho
(etanol e ácido acético por exemplo).
Essa variação no
volume
depende do composto orgânico
utilizado,
ou seja,
podemos relacionar a variação do volume da mistura com a
substância usada no experimento, tanto no sentido de
variar ou não o volume como também na magnitude dessa
variação.
Engraçado não?
Como uma interação molecular como esta pode ocasionar um
fenômeno tão intrigante? Devo dizer que eu não acreditei
na primeira vez que ouvi falar e, como já diria São
Tomé: "só
acredito vendo",
vamos ao laboratório. :) |
Experimento
|
Interações
intermoleculares de
compostos
orgânicos com a água. |
Material
- 600 mL de água destilada
- 100 mL de etanol absoluto
- 100 mL de propanol absoluto
- 100 mL de butanol absoluto
- 100 mL de ácido etanóico concentrado
- 100 mL de ácido propanóico concentrado
- 100 mL de ácido butanóico concentrado
- 07 provetas de 100 mL
- 06 provetas de 200 mL |
ATENÇÃO
Química
não é brincadeira, é coisa séria!
Não cheire
nem experimente o gosto de substâncias desconhecidas
Cuidado
com as substâncias tóxicas e/ou inflamáveis
Cuidado
com respingos na pele e nos olhos |
 |
Roteiro Experimental
Encher uma
proveta de 100 mL com água e outra proveta de 100 mL com
etanol. Verter o conteúdo das duas provetas em uma
terceira proveta com capacidade de 200 mL. Os passos
realizados com o etanol devem ser repetidos com os
demais solventes orgânicos. Não esqueça de informar a
temperatura no laboratório/sala de aula bem como a
pressão atmosférica no momento em que foram realizados
os experimentos. Preencha os volumes totais obtidos na
tabela abaixo e responda as questões propostas ao final
da prática:
Solvente |
Volume
da
mistura
aumentou,
diminuiu ou permaneceu constante? |
Se houve variação,
qual
foi a magnitude? (em mL) |
Etanol |
|
|
Propanol |
|
|
Butanol |
|
|
Ácido
etanóico |
|
|
Ácido
propanóico |
|
|
Ácido
butanóico |
|
|
Temperatura no
laboratório/sala de aula de aula:____
Pressão atmosférica no
laboratório/sala de aula*: ____
*Pode-se utilizar a
pressão atmosférica da cidade onde se fez o experimento.
Questionário
01) Com base nos resultados obtidos, que relação podemos
traçar entre a família dos álcoois e a família dos
ácidos carboxílicos quanto à variação de volume
observada? Analise os aspectos moleculares dos dois
grupos funcionais.
02) Quais são as relações existentes entre a polaridade
da molécula, a miscibilidade ou não em um solvente e o
volume da mistura? Demonstre essas relações de forma
esquemática.
03) Provavelmente, você observou que foram utilizada uma
seqüência homóloga de substâncias para cada função
orgânica. Qual poderia ser o motivo fundamental para a
não utilização do álcool metílico (metanol pela IUPAC) e
do ácido metanóico nestes experimentos? Faça uma breve
revisão bibliográfica e aponte as principais causas, na
sua opinião, para a não utilização de tais substâncias.
04) Os resultados obtidos experimentalmente estão de
acordo com o que a teoria prevê no aspecto das
interações intermoleculares dos compostos utilizados?
Justifique.
--- |
Aprofundando o
Assunto... |
Department of Chemistry, University of Hull:
Electronegativity:
Pauling |
Allred-Rochow |
Mulliken-Jaffé
Tabela com os valores das
eletronegatividades dos elementos das três escalas
http://www.chm.davidson.edu/ronutt/che115/electroneg.htm |
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04/03/19
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