A evolução das técnicas
para o desenvolvimento de sistemas nanoeletromecânicos (NEMS)
vem permitindo que os limites de medição de massas sejam
superados cada vez mais.
Em 2004, um grupo da Universidade
Cornell, Estados Unidos, liderado por P. McEuen, construiu
um dispositivo constituído por um nanotubo de carbono com
diâmetro entre um e quatro nanômetros (1 nm = 10-9
m) e com cerca de 1,5 micrômetro (10-6
m) de comprimento, suspenso entre dois eletrodos de ouro e
cromo sobre uma placa de silício.
A aplicação de uma tensão elétrica entre
o tubo e a placa de silício fazia com que forças
eletrostáticas atraissem o tubo na direção na placa.
Aplicando-se uma corrente alternada, alternavam-se padrões
de atração e repulsão, o que fazia o nanotubo oscilar como
um ressonador.
Os pesquisadores demonstraram que a
freqüência de oscilação poderia ser ajustada de modo muito
fino, permitindo o uso desse NEMS para medir forças muito
pequenas, principalmente em temperaturas baixas, próximas do
0 K (-273,15 oC).
Como a freqüência de oscilação depende da
massa, a adição de uma massa ao nanotubo, mesmo muito
pequena, altera a freqüência. A alteração observada pode ser
usada para determinar o valor da massa.
Ressonadores semelhantes já foram usados
com fins práticos, como a deteção com alta sensibilidade de
bactérias, a determinação da estequiometria de compostos de
superfície e para monitorar a poluição do ar. Resoluções de
massa abaixo de 7 zeptogramas (1 zg = 10-21
g) já haviam sido alcançadas com ressonadores de silício, a
4,2 K (-268,95 ºC).
Agora, outro grupo formado por
pesquisadores do
Centro de Investigação em Nanociência e Nanotecnologia
(CIN2, CSIC-ICN) de Barcelona e da Universidade Politécnica
da Catalunha, ambos da Espanha, liderados por A. Bachtold,
conseguiu construir uma “nanobalança” ainda mais sensível,
composta por um nanotubo de 1 nm de diâmetro preso entre
eletrodos de ouro e cromo (Figura 1), obtendo um
desempenho excepcional.
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Figura 1.
Imagem obtida por microscopia eletrônica de
varredura mostrando o nanotubo de carbono (seta)
suspenso entre os eletrodos (adaptado de Lassagne et
al., Nano Lett. 8, 3735 (2008)) |
Átomos de cromo disparados em direção ao
ressonador “grudam” no nanotubo alterando sua massa e,
conseqüentemente, sua freqüência de vibração (figura 2). O
processo é reversível, permitindo que a nanobalança seja
usada várias vezes.
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Figura 2.
Representação esquemática do experimento usado
para determinar a massa de átomos de cromo
através da nanobalança. Após aquecimento, os
átomos de cromo evaporam e formam um feixe
arremessado na direção do nanotubo, que pode ser
interrompido com o obturador (adaptado de
Lassagne et al., Nano Lett. 8, 3735
(2008))
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A resolução de massa obtida é de 25 zg na
temperatura ambiente e de 1,4 zg a 5 K (-268,15 ºC).
Qual é o limite? Segundo os autores, o trabalho agora está
voltado para melhorar o esquema de medição, de forma que se
possa chegar à resolução limite de massas, que, de acordo
com as previsões teóricas, estaria em torno de 1 yoctograma
(1 yg = 10-24 g), a massa de um
neutron.
Essa resolução abriria uma nova
perspectiva para a espectrometria de massas: será possível
determinar massas moleculares com precisão subatômica?
Átomos ou moléculas individuais poderão ser colocados sobre
o nanotubo de modo a provar a variação nas suas massas?
Reações químicas de moléculas orgânicas e biológicas poderão
ser monitoradas em tempo real, assim como reações nucleares
de átomos individuais?
Referências Bibliográficas
B. Lassagne, D. Garcia-Sanchez, A. Aguasca, A. Bachtold,
Nano Lett. 2008, 8, 3735.
Y. T. Yang, C. Callegari, X. L. Feng, K. L. Ekinci, M. L.
Roukes, Nano Lett. 2006, 6,
583.
V. Sazonova, Y. Yaish, D. Roundy, T. A. Arias, P. McEuen,
Nature 2004,431, 284
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