Um pouco de história...
A cana-de-açúcar (Saccharum L.
e seus híbridos[1]) é, talvez, o único produto de
origem agrícola destinado à alimentação que, ao
longo dos séculos, foi alvo de disputas e
conquistas, mobilizando pessoas e nações. Não se
sabe bem ao certo de onde ela veio, mas a maioria
das referências históricas indica que teriam sido os
povos das ilhas do sul do Pacífico, há mais de vinte
mil anos, que descobriram as propriedades desta
planta, a qual crescia espontaneamente nas suas
terras.
Foi na atual Nova Guiné em que se
supõe que ela tenha sido cultivada pela primeira
vez. Teriam sido os indianos o primeiro povo a
extrair o “suco da cana” e a produzir, pela primeira
vez, o “açúcar bruto”, por volta do ano quinhentos
antes de Cristo. Não é por acaso que seu nome é
originário do sânscrito çarkara, que
significa “grão” e do qual vai derivar o nosso
“açúcar”, sukkar para os árabes, saccharum
em latim, zucchero em italiano, seker
para os turcos, zucker para os alemães,
sugar em inglês, sucre em francês e
azúcar em espanhol.
O desembarque da cana-de-açúcar
na Europa Oriental aconteceu no século IV a.C.,
fruto das viagens e conquistas de Alexandre Magno,
desde a Macedônia até a Ásia. Dos gregos, o Império
Romano herdou aquele a que chamavam de “sal
indiano”, muito apreciado pelas suas propriedades
gastronômicas e medicinais. Mas foram os árabes os
responsáveis pelo início da produção de açúcar
sólido ao longo do mediterrâneo, arte aprendida com
os persas. No século VII, a cultura do açúcar
chegava, assim, ao Chipre, a Creta, a Rodes e a todo
o Norte de África, embora com uma adaptação ao solo
e ao clima variável. No século XII, as tentativas de
cultivo estenderam-se às regiões da Grécia, do Sul
de Itália e França, mas a produção continuou a ser
muita reduzida. Por isso, o açúcar permanecia um
produto medicinal e de luxo, vendido nos boticários,
ao alcance de poucos.
Nessa altura, eram os mercadores
venezianos os principais intermediários desse
comércio: compravam o açúcar na Índia e vendiam-no a
quem podia pagar por esta raridade gastronômica.
Paralelamente, a descoberta do “Novo Mundo” inseriu
a última mudança na história da introdução do açúcar
em nossas mesas. Por sorte, o navegador Cristóvão
Colombo possuía uma plantação de cana-de-açúcar e,
antes de se casar, trabalhava transportando açúcar
para a cidade de Gênova, na Itália, proveniente das
plantações de cana na Ilha da Madeira. Isso tudo,
provavelmente, fez com que ele tivesse a idéia de
levar um pouco de cana-de-açúcar para o Caribe, em
sua segunda viagem ao “Novo Mundo” no ano de 1493.
No novo continente, a cana
encontrou excelentes condições para se desenvolver e
não foram precisos muitos anos para que, em
praticamente todos os países recém-colonizados, os
campos se enchessem de cana-de-açúcar. Seguiu-se uma
época de grande prosperidade para a cultura e
comercialização deste produto, protagonizada por
portugueses e espanhóis, com especial destaque para
as plantações aqui no Brasil. A cobiçada especiaria
ganhou mesmo honras de metal precioso. Chamavam-lhe
de “o ouro branco”, tal era a fortuna que gerava.
A exploração dos escravos, que se
praticou desde o século XVI até princípios do século
XIX, viabilizou a expansão da indústria do açúcar de
uma forma irreversível, com plantações praticamente
em todo o mundo, desde as Índias Ocidentais às
Américas. Mais popularizado, principalmente para
adoçar as novas bebidas, também de origem “exótica”
como café e chá, o açúcar conhece um maior consumo,
embora ainda mais presente no círculo restrito das
classes abastadas. Para conferir um mapa que resume
a história do açúcar,
clique aqui.
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Figura 1
– A produção mundial de açúcar em 2004/2005
é estimada em 144 milhões de toneladas,
sendo que 75% atrelada aos dez maiores
países produtores. Fonte:
Illovo Sugar
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Hoje, o maior produtor de açúcar
é o Brasil, seguido pela União Européia (EU –
European Union), Índia e China, conforme podemos
visualizar na Figura 1. O açúcar tornou-se um
alimento comum à dieta de todos os países,
constituindo uma fonte de energia de fácil e rápida
assimilação. Além disso, o sabor doce é um dos mais
apreciados pelo ser humano, o que torna o açúcar um
dos alimentos capazes de oferecer momentos de
bem-estar e prazer. No próximo capítulo,
conheceremos um pouco mais sobre a intimidade (em
nível molecular) desse composto.

[1] As
variedades atuais de cana-de-açúcar são
originadas de espécies e híbridos do gênero
Saccharum L.