Afinal, o que é a
sacarose?
Os carboidratos são
compostos de função mista, poliálcool-aldeído ou
poliálcool-cetona, ou qualquer outro que, ao sofrer
hidrólise, se transforme num composto deste tipo.
São constituídos de carbono, oxigênio e hidrogênio,
exclusivamente, combinados de acordo com a fórmula [Cx(H2O)y],
em que x e y são números inteiros. Por exemplo:
a molécula de sacarose teria uma fórmula
correspondente a C12(H2O)11
ou, na configuração de fórmula molecular, C12H22O11.
Seu nome oficial[9]
é a-D-glucopyranosyl-b-D-fructofranoside.
 |
|
Figura 6
– Síntese da sacarose a partir de seus
constituintes: a-glicose e frutose
|
|
Olhando a sua fórmula geral, fica
fácil saber por que esses compostos são conhecidos
pelo nome “hidratos de carbono”. Eles podem formar
estruturas simples, como os mono e
dissacarídeos, até estruturas grandes e complexas,
como os polissacarídeos. A sacarose é um carboidrato
do tipo dissacarídeo, formado pela união de dois
monossacarídeos: a-glicose e a frutose. A fórmula
estrutural da sacarose e dos monossacarídeos que a
constituem podem ser visualizadas na Figura 6.
Outros exemplos de dissacarídeos importantes são a
maltose (açúcar do malte) e a lactose (açúcar do
leite), sendo que este último só é encontrado em
mamíferos.
Um comentário adicional se faz
importante com relação ao açúcar do leite. Nas
crianças, a lactose é hidrolisada pela enzima
intestinal b-D-galactosidase (ou também conhecida
pelo nome “lactase”) aos seus componentes
monossacarídicos para absorção na corrente
sanguínea. A galactose é enzimaticamente convertida
em glicose, que é o principal combustível de muitos
tecidos.
Uma vez que é improvável os
mamíferos encontrarem lactose após terem sido
desmamados, a maioria dos adultos possui baixos
níveis de b-galactosidase. Conseqüentemente, boa
parte da lactose que eles ingerem atravessa o trato
digestivo até o cólon, onde a fermentação bacteriana
produz grandes quantidades de CO2(g), H2(g)
e agentes orgânicos irritantes. Esses produtos
causam dores digestivas conhecidas como intolerância
à lactose.
Essa doença, que já foi
considerada um distúrbio metabólico é, na realidade,
bastante comum em seres humanos adultos, em
particular de descendência africana ou asiática.
Curiosamente, entretanto, os níveis de
b-galactosidase diminuem apenas de forma amena com a
idade em descendentes de populações que,
historicamente, consomem uma base de produtos
laticínios na dieta durante toda a vida. A
tecnologia de alimentos moderna tem auxiliado os
adultos apreciadores de leite com intolerância à
lactose: encontra-se disponível um tipo de leite em
que a lactose foi previamente hidrolisada de modo
enzimático.
Embora esses tipos de
carboidratos (mono, di e polissacarídeos) sejam tão
diferentes entre si em termos de estrutura
molecular, todos eles fornecem a mesma quantidade de
energia para o nosso metabolismo: cerca de 4 kcal/g.
No final das contas, todos são fundamentalmente
glicose. Esta, por sua vez, entrará em rotas
metabólicas a fim de produzir moléculas de ATP,
iguais às formadas no fenômeno da fotossíntese, as
quais serão utilizadas para fornecer energia aos
processos celulares, promovendo a sua manutenção.
Para fechar com chave de ouro
este capítulo, vamos imaginar uma experiência (e por
que não, com muito cuidado, reproduzi-la em
laboratório?). Uma das características marcantes do
ácido sulfúrico (em especial o concentrado) é o seu
grande caráter higroscópico (afinidade por água).
Devido a isso, há uma experiência clássica a qual
mostra que a matéria orgânica é composta por carbono
e que revela a constituição dos carboidratos. A
experiência consiste em adicionar ácido sulfúrico
concentrado ao açúcar, de preferência o tipo
“cristal”. Após mexer a mistura, ocorrerá uma reação
bastante característica, na qual haverá a
desidratação do açúcar, reação que pode ser
equacionada conforme mostra a Figura 7.
 |
Figura 7
– Equação que mostra a desidratação do
açúcar pela ação higroscópica do ácido
sulfúrico concentrado e evidencia a
constituição dos carboidratos.
|
Como se pode ver, ao final da
reação, obtém-se carbono sólido, o qual pode ser
claramente identificado pela formação de uma
estrutura volumosa de cor negra que sai do local
onde havia antes a mistura de ácido sulfúrico e
açúcar. As imagens bem como o vídeo da reação
química descrita acima podem ser vistos através do
módulo
Chemistry Come Alive do
Journal
of Chemical Education Online.
No açúcar de cozinha há somente
sacarose? Rigorosamente falando, não. No açúcar
comercial, há sempre uma pequena porcentagem de
“impurezas” (predominantemente sais minerais e
aminoácidos) que resistiram as várias etapas de
refino. Para eliminar justamente essas “impurezas” é
que essas etapas são realizadas. Contudo, podemos
considerar o açúcar, para efeitos práticos, como
sendo constituído apenas por sacarose, visto que as
“impurezas” não possuem nenhuma aplicabilidade, pelo
menos nas concentrações que são encontradas no
açúcar refinado, por exemplo, o qual é 99,8% puro.
No próximo capítulo, você saberá mais sobre esse
carboidrato, do tipo dissacarídeo, o qual entrará em
ação em um dos cômodos mais “queridos” das nossas
residências: a cozinha.

[9] A
IUPAC (International Union of Pure and
Applied Chemistry) é quem define, dentre
outras coisas, as regras para a nomenclatura
oficial dos compostos. Para maiores informações
sobre a IUPAC,
clique aqui.