A
Terra é azul! Essa foi a exclamação do
primeiro homem a ver o nosso planeta do
espaço, o russo Yuri Gagarin. Ele poderia
ter dito muitas outras coisas. Algo como a
terra é redonda. Ou, então, que o planeta
parece uma pequena bola perdida no infinito.
Mas não. Gagarin, emocionado, preferiu
gritar que a Terra é azul.
A
exclamação de Gagarin é reveladora do
fascínio que a cor exerce sobre a
humanidade. A cor mexe com nossas emoções,
dá nova dimensão aos objetos, modifica
espaços, altera formas. O azul visto por
Gagarin, sabemos, é resultado da refração da
luz solar, um fenômeno natural. Porém, muito
do azul - e também de todas as outras cores
que enxergamos em nosso dia-a-dia - é
resultado do desenvolvimento da Química.
Foi
através da Química que o homem conseguiu
reproduzir os magníficos tons e cores
gerados pela natureza, além de criar novas e
infinitas tonalidades. As cores básicas do
arco-íris inspiraram o nascimento de uma
tecnologia que coloriu ainda mais o planeta
azul. E tornou a cor mais acessível a todos.
Como? Simples. Antes de desenvolver, no
século XIX, o processo de síntese para a
produção de corantes e pigmentos, o homem
utilizava minérios, como os óxidos
de ferro e de manganês,
ou extratos vegetais para dar cor a artigos
e objetos, o que limitava bastante a
produção e também a criatividade dos
artistas.
Convenhamos, sem a Química, gênios como
Rembrandt, Picasso, Da Vinci, Van Gogh,
Monet, Portinari, Di Cavalcanti, Dali,
Manabu Mabe, entre tantos outros, teriam
mais dificuldades para "mergulhar" no
cotidiano e descobrir cores e formas que
estão à nossa volta, mas que nossos sentidos
não percebem e que, por isso mesmo, precisam
ser "despertados" pelo artista.
A Química
é companhia constante de artistas de todo o
mundo e, portanto, da poesia que nos cerca.
É o caso da terebintina.
Não, não se trata de nenhuma tela famosa,
muito menos de uma pintora "naif" que começa
a despontar nos círculos de arte. A
terebintina é uma substância
química que entra na composição dos
solventes utilizados por pintores de todo o
mundo, amadores ou profissionais, para
dissolver tintas e limpar pincéis. É claro
que, independente deste fato, ninguém vai
entrar em um museu ou em uma galeria de arte
para discutir a presença da Química nas
telas. A idéia é deixar a alma se impregnar
da beleza retratada pelo artista. Mas sempre
é bom lembrar que sem os corantes e
pigmentos desenvolvidos pela Química o mundo
seria bem menos colorido.
E não é
só na pintura que a Química dá o tom. Há
milhares de corantes e pigmentos químicos,
alguns com nomes bastante difíceis de
pronunciar, que são utilizados em outras
"artes", como o hidrocloreto de
pentametiltriaminotrifenilcarbinol,
corante utilizado no tingimento de couro,
madeira, laca e na fabricação do papel
carbono. Ou o tetrabromofluoresceína,
utilizado para colorir líquidos em geral. A
complexidade dos nomes químicos, porém, é
uma outra questão. É muito mais simples e
poético utilizar um nome popular. Afinal, a
exclamação de Gagarin teria um impacto bem
menor se ele dissesse "a terra tem a
tonalidade do 1-(2-hidroxietilamino)4-metilaminoantraquinona".
Azul é bem melhor.
