Nesta seção
conversaremos sobre outro importante componente do
princípio emocional: o sono.
Desde a antiguidade, o processo do sono desperta o
interesse e a curiosidade dos homens. Hipócrates
associava a insônia ao aborrecimento e à tristeza,
enquanto Aristóteles experimentava um interesse
fisiológico pelo sono, acreditando que era necessário
para a manutenção da percepção, que, se utilizada
ininterruptamente, se esgotaria1.
Podemos distinguir duas diferentes situações referentes
ao sono. Na primeira temos indivíduos que deixam de
dormir ou por vontade própria, ou por necessidade. Isso
pode acontecer, por exemplo, quando vamos a uma festa
que dura a noite toda, ou quando temos de trocar uma boa
noite de sono por uma jornada de estudos. Na segunda
temos as pessoas que realmente têm dificuldades
relativas ao sono.
Em primeiro lugar, acredito ser importante uma definição
científica da insônia. A insônia é um sintoma que se
refere à inabilidade de se iniciar e manter o sono. É
acompanhada de sono de baixa qualidade, interrompido,
assim como sono de duração reduzida, sendo insuficiente
para restaurar o alerta completo2. A falta de
sono adequado associa-se à fadiga mental e física, à
sonolência e à perda de motivação. Muitos fatores podem
desencadear a insônia, mas o denominador comum é
ativação do sistema de manutenção de alerta. A
hiperatividade do sistema ocorre em resposta a fatores
geradores de estresse originados no ambiente ou a
fatores de natureza médica ou psicogênica3.
Não é necessário discorrer a respeito do estresse ao
qual os vestibulandos são submetidos durante o ano de
cursinho; mas, quando o estresse passa a comprometer a
qualidade e a quantidade do sono de maneira crônica,
algumas medidas devem ser tomadas para interferir de
maneira positiva nesse processo.
É claro que uma noite mal dormida de vez em quando não
vai causar grandes problemas. Contudo ficar noites
seguidas sem dormir, o que às vezes é comum com alguns
vestibulandos, não ajudará no desempenho de um exame
vestibular. Isso porque é justamente no sono profundo
que as informações adquiridas durante o dia são
armazenadas na chamada memória de longo prazo. É nele
que os dados registrados ficam armazenados. Caso durma
pouco e não chegue ao chamado sono REM (sigla em inglês
de movimento rápido dos olhos), etapa em que as
informações se fixam, o estudante terá dificuldades em
se lembrar das matérias estudadas no dia anterior.
Depois de uma semana sem entrar na fase REM, a sensação
de uma pessoa é a de não ter dormido nada, e sono e
falta de concentração caminham juntos.
Mas, qual seria o número ideal de horas de sono diárias?
Segundo um estudo realizado pela University School of
Medicine de Stanford (EUA), existe um número de horas de
sono ideal para cada pessoa, a maior parte estando entre
sete horas e nove horas por noite.
Outro ponto importante refere-se à prática de
exercícios. Em estudo conduzido por Syngh et al.4,
indivíduos sedentários com problemas de sono que
engajaram num programa de atividade física de apenas
duas vezes por semana, relataram que adormeciam mais
rapidamente, aumentaram o número de horas dormidas por
noite e se sentiram mais descansados ao despertar. No
entanto, deve-se evitar atividade física intensa próxima
da hora de dormir, pois a alta estimulação pode
comprometer a qualidade do sono.
Já comentamos em artigo anterior os ritmos biológicos.
De acordo com os pesquisadores que estudam esses ritmos,
os cronobiólogos, existe uma glândula no cérebro chamada
pineal, que produz a melatonina.
A melatonina é um neuro‑hormônio
responsável pelo controle biológico de cada pessoa, e a
sua secreção está relacionada aos ciclos de períodos
claro-escuro. A troca do dia pela noite interfere na sua
produção, o que prejudica o ritmo biológico.
Grupos de pesquisadores têm realizado estudos com o
intuito de estabelecer uma série de medidas para
melhorar a qualidade do sono, chamadas “medidas
higiênicas do sono”5,6. Entre as medidas
incluem-se:
a)
Manter
certa regularidade no horário de dormir e de acordar.
Não compensar uma noite mal dormida com prolongamento do
sono pela manhã ou com cochilos diurnos.
b)
Evitar longos
períodos acordado na cama, seja tentando dormir, seja
pela manhã ao acordar. Não é benéfico esforçar-se para
dormir. O esforço, usualmente, é acompanhado de
ansiedade e estimulação, que se traduzem em mais
insônia. Caso ocorra a insônia, é recomendável procurar
uma atividade relaxante.
c)
Fazer
exercícios físicos regulares não muito próximos da hora
de dormir.
d)
Evitar o uso
de álcool, pois, além de estar associado à insônia
intermediária ou final, pode causar danos à estrutura do
sono.
e)
Evitar o uso
de estimulantes. Particularmente o café deve ser evitado
a partir das 14h/15h, porque tem vida média prolongada.
Além de causar ansiedade e insônia, perturba a estrutura
do sono.
f)
São também
medidas úteis no controle da insônia: um banho de
temperatura agradável, um lanche leve antes de dormir e
um ambiente adequado.
Baseados nisso, acreditamos que a organização de
horários em relação aos estudos deve conter horários
definidos também para o sono. Se considerarmos que uma
boa parte dos vestibulares é realizada no início da
tarde, o hábito de dormir todos os dias depois do almoço
e deixar para estudar mais tarde poderia influenciar o
desempenho do candidato, deixando-o com mais sono
naquele horário e, portanto, com menor capacidade de
raciocínio e concentração.
Enfim, o sono é um componente muito importante neste ano
de cursinho, e pequenas alterações no seu cotidiano
podem contribuir para melhorá-lo.
Infográfico
Referências
1.
Souza JCPRP,
Souza NM. Sono, filosofia e mitologia: correlações
clínico-filosóficas e mitológicas. Campo Grande,
UCDB, 1998: 1-57.
2.
Zeitlhofer J,
Tribl G, Saletu B. Sleep disorders in neurology:
hyposomnia. Wien Klin Wochenschr 1993; 105:37-41.
3.
Zucconi M,
Ferrini-Strambi L, Gambini O, Castronovo C, Galli L,
Campana A, Scarone S, Smirne S. Structured
psychiatric interviewand ambulatory sleep monitoring in
Young psychophysiological insomniacs. J Clin
Psychiatr 1996;57:364-370.
4.
Singh NA, Clementis
KM, Fiatarone MA. A randomized
controlled trial of the effects of exercise on sleep
Sleep . 1997,
fev.20:2,95-101.
5.
Gillin JC.
Are sleep disturbances risk factors for anxiety,
depressive and additive disorders? Acta Psychiatr
Scand 1998;393:39-43.
6.
Gillin JC, Beverley WF. The
diagnosis and management of insomnia. N Eng J
Med 1990: 322: 239-248 |